José Morais, treinador do Jeonbuk, partilha as histórias da sua carreira com os leitores de Record
Cheguei no início do ano à Coreia do Sul, o 13º país estrangeiro onde trabalho. Ser treinador de futebol exige muitas vezes fazer sacrifícios familiares e pessoais difíceis de gerir, mas a felicidade de fazer o que se gosta supera tudo o resto. Considero-me um felizardo por isso: o reconhecimento do meu trabalho tem-me permitido conhecer o mundo e levar um pouco de Portugal e da imagem do treinador português a cada canto do planeta.
Cá fora valorizam o nosso conhecimento, a nossa forma de entender o jogo e a capacidade de trabalho e de adaptação a novas situações a que muitas vezes chamamos de "desenrasque". Será essa a maior virtude do treinador português: a de fazer muito com pouco, com criatividade e, lá está, com muito "desenrascanço" – uma palavra que, tal como "fado" ou "saudade", não tem tradução directa para línguas estrangeiras. É muito nossa.
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Sou neste momento responsável pelo Jeonbuk, o maior clube da Coreia e um dos maiores da Ásia. Quando fui contratado, a direcção cativou-me pela ambição: queriam um treinador com "mundo", com experiência e que estivesse preparado para ganhar. Aceitei com agrado, sem ter de reflectir muito.
Depois de várias semanas de preparação e de descoberta do futebol coreano e asiático, completamos a pré-época e logo começou a competição a sério. Em poucas semanas já chegamos a meio da fase de grupos da Liga dos Campeões e estamos prestes a terminar a primeira volta do campeonato. Com bons resultados e em posição de liderança em ambas as competições, as minhas expectativas estão a ser correspondidas.
Se é verdade que o futebol é uma língua universal, também o é que a forma de ser, de estar e de viver o jogo varia a cada fuso horário que conhecemos. Se em Portugal vivemos o futebol de forma diferente de Espanha e a diferença é de apenas uma hora, imagine-se as diferenças quando o relógio na Coreia aponta 8 horas a mais do que nosso país.
Ainda assim, a essência do jogo é a mesma. Estou impressionado com a capacidade de trabalho do jogador coreano, são incansáveis na forma como abordam o treino e como tentam absorver o que lhes transmito. O futebol coreano em particular é extremamente ambicioso no sentido de querer chegar rápido à baliza adversária. A posse de bola e os controlos do espaço e do adversário até conseguir ganhar vantagem e superioridade que permitam atacar a baliza do oponente são conceitos relativamente recentes para grande parte dos jogadores. A sua forma de ver o jogo traduz-se muitas vezes em futebol mais directo, com uma componente física muito forte e cujo sucesso depende em grande medida na capacidade de ganhar segundas bolas e "voltar à carga até que dê".
Há ainda um caminho a percorrer na cultura de jogo e na abordagem aos vários momentos, um trabalho de mudança de paradigma que me está a dar um prazer enorme, até porque os resultados têm acompanhado. Tem sido esta a minha maior luta nos primeiros meses no Jeonbuk: se queremos ser bem sucedidos a nível internacional – e vencer a Liga dos Campeões da Ásia é um objectivo meu e do clube - há que perceber como gerir cada jogo e cada adversário em todos os momentos. E a melhor forma de os controlar é tendo a bola, criando impaciência no outro lado e aproveitando as oportunidades para criar desequilíbrios que nos permitam chegar à vantagem. No fundo, pretendo uma mudança cultural, o que é um verdadeiro desafio tanto para os jogadores como para mim próprio. Mas como para todos nós portugueses, desenrascados que somos: desafios destes é que valem a pena.
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