La Louvière-Benfica, 1-1: Uma equipa displicente à beira do precipício

Foi uma noite de tormenta, da qual se salvou o resultado. E desta vez, o problema não se pode reduzir a simples erros individuais

La Louvière-Benfica, 1-1: Uma equipa displicente à beira do precipício
La Louvière-Benfica, 1-1: Uma equipa displicente à beira do precipício • Foto: João Trindade

Um Benfica com tendências suicidas, a viver com permanente tentação pelo precipício, salvou o essencial de uma noite surpreendentemente tormentosa e na qual chegou a estar muito próxima do colapso total. E salvar o essencial neste caso significa não ter perdido, ou seja, levar a decisão da eliminatória para um segundo confronto. A primeira parte da actuação encarnada no relvado de Charleroi foi simplesmente inacreditável, a rondar a vergonha pura e simples. Esta é a verdade.

O Benfica foi uma equipa macia, sem alma, que perdeu em todos os capítulos do jogo para um adversário entusiasmado e ciente, a cada minuto que passava, de que podia estrear-se a ganhar nas competições europeias.

Inconcebível

O arranque benfiquista foi inconcebível. A qualidade de passe dos portugueses foi péssima, provocando recepções todas deficientes que, por sua vez, criaram condições que os belgas aproveitaram para pressionar cada vez mais perto da defesa contrária; por outro lado, o portador da bola nunca teve opções de passe, primeiro sinal de uma equipa pouco solidária, fustigada pela inércia de jogadores escondidos.

Perante aquele cenário de catástrofe eminente, muita gente se entregou às marcações. O golo do La Louvière foi um excelente exemplo do desvario: duas desconcentrações seguidas - mau passe de Sokota, má recepção de Luisão - e lá estava Moreira, uma vez mais, à mercê dos carrascos. Ontem, Camacho viu repetir os erros de que se tem queixado e nem queria acreditar na displicência dos movimentos colectivos, como se um vírus tivesse atacado não um mas todos os seus jogadores.

Confiança

Apesar da grande oportunidade desperdiçada por Sokota (21'), o perigo rondou muito mais a área portuguesa. Os belgas começaram, então, a acreditar que era possível não só ganhar o jogo como criar até condições para vencer a eliminatória. E, depois de 45' de superioridade total, não custa adivinhar vê-los a falar entre si, com comentários que não deviam andar longe da confissão mais óbvia: "Mas estes tipos não sabem jogar futebol."

Um desastre explicado pela atitude negligente de uns, pela desinspiração de outros e pelo facto de todos terem perdido momentaneamente o prazer de jogar juntos; assim como a noção do significado da camisola que envergam e a responsabilidade moral perante uma falange de emigrantes dedicados que, não obstante a emoção da aproximação à terra, chegaram, também eles, a desacreditar. O intervalo serviu como a salvação de um "boxeur" à beira do "KO".

Sinais vitais

Os minutos iniciais da segunda parte trouxeram um Benfica mais aplicado, mais mexido, mais empreendedor. Aos 50' a equipa lograva o primeiro lance com cabeça, tronco e membros, desperdiçado por Sokota, que chegou ligeiramente atrasado ao bom centro de Geovanni. Dois minutos volvidos, também num lance fabricado pelo flanco direito, os encarnados chegaram à igualdade.

Numa altura em que, por fim, revelavam os primeiros sinais vitais da noite, os portugueses pressionaram pela primeira vez o adversário em todos os capítulos: porque as trocas de bola começaram a fazer sentido; porque as progressões se tornaram mais coerentes e incisivas, em suma, porque a equipa passou a funcionar minimamente como tal, o Benfica causou finalmente ao La Louvière a ideia da confirmação dos dados prévios ao jogo. Isto é, aqueles que apontavam para uma superioridade indiscutível perante um conjunto que, segundo as palavras do antigo treinador de guarda-redes, Lucien Huth, não passa (será mesmo?) do "Alverca da Bélgica". Palavras que não são para seguir à risca, mas das quais devemos tirar o significado fundamental.

Desacerto

O gás foi-se aos poucos. No percurso até final valeu ao Benfica não ter perdido posição a defender e ter garantido mínima consistência estrutural, também à custa das alterações introduzidas por Camacho. A primeira das quais no sentido de dar mobilidade na zona de ataque - em vez dos dois pontas-de-lança lado a lado, passou a jogar com um (Fehér) mais um (Simão) - que surgiu pouco depois de Ricardo Rocha ter evitado de forma brilhante o segundo golo belga.

Quando o cansaço passou a pesar na contenda, o Benfica voltou a sofrer. O treinador espanhol tirou então um Geovanni a meio gás e colocou Andersson, mudança que visou dar músculo à zona central do campo, onde os belgas estavam cada vez mais fortes. Até final houve mais luta que jogo, enquanto do lado de fora se faziam contas ao verdadeiro significado do resultado. Bom, na análise restrita de um embate como eliminatória europeia; mau, como balanço de um momento pouco prestigiante para o Benfica. Uma noite de estranho sofrimento que não estava nos planos mais pessimistas, diante de um adversário que, afinal, vale mais do que era previsível.

Yuri Baskakov (3)

Sem erros de palmatória, o juiz russo desperdiçou uma boa oportunidade para assinar um grande trabalho. Teve critério disciplinar largo, tão largo que chegou a ser amigo dos portugueses: o amarelo mostrado a Andersson, aos 85', merecia outra punição. O sueco travou um contra-ataque, ainda no meio campo belga, mas o problema tem a com a gravidade da falta: aquilo foi uma agressão sem bola.

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