França-Itália, 2-1 (a.p.): «Banco» rico financia mais um título gaulês

Wilford, Trezeguet e Robert Pires decidiram. A Itália perdeu-se por não fazer, na parte final, a contenção de que é acusada de ser especialista e, além do mais, desperdiçara anteriormente, sempre por Del Piero (58 e 83), duas excelentes oportunidades para resolver o jogo

França-Itália, 2-1 (a.p.): «Banco» rico financia mais um título gaulês
França-Itália, 2-1 (a.p.): «Banco» rico financia mais um título gaulês

Roterdão - A França derrotou a Itália por “golo dourado” e juntou o título europeu ao mundial, após uma final emocionante em que ganhou o direito ao prolongamento nos últimos segundos.

Foram três os heróis desta reviravolta inesperada num jogo com tons de dramatismo: Wilford, Trezeguet e Robert Pires, os suplentes que Roger Lemerre lançou e fabricaram os dois golos. Trezeguet assistiu para o primeiro, de Wilford, e estoirou violentamente para a decisão após um trabalho do ex-português Robert Pires.

Ao minuto 103 os franceses entravam em delírio e os italianos, que tão perto tinham estado da meta, caíram em lágrimas sobre o relvado. Estivera quase a terminar o “jejum” de 18 anos de êxitos, iniciado no Mundial de Espanha-92, e que tem agregado uma série de episódios infelizes que já incluíram mesmo uma outra final perdida nas grandes penalidades (Mundial-98, com o Brasil).

Esta final tem pontos de contacto com a do Inglaterra-96 (“golo dourado” de Bierhoff, também suplente, na vitória da Alemanha sobre a República Checa) mas foi muito mais emocionante.

A Itália teve o título na mão e a festa já tinha mesmo começado quando Wilford fez o empate, depois de uma perda de bola um tanto infantil do ataque italiano ter aberto a possibilidade de um último ataque francês. Pessotto metera a bola em Totti, mas o avançado, fisicamente “em baixo”, recuava no terreno a passo e estava em posição de fora-de-jogo. Nasceu a falta e o lançamento para o lance do empate. A Itália perdeu-se por não fazer, na parte final, a contenção de que é acusada de ser especialista e, além do mais, desperdiçara anteriormente, sempre por Del Piero (58 e 83), duas excelentes oportunidades para resolver o jogo.

O grande mérito da França, que na fase decisiva deste Europeu não mostrou a superioridade tantas vezes reconhecida e até acabou por voltar a ser feliz, resultou da capacidade de lutar e acreditar até ao fim. Deschamps foi um comandante intratável no dia em que Zidane, sem espaço, andou perdido, tal como Djorkaeff. Valeu à França o “banco” de luxo, no qual se acotovelam jogadores que noutras equipas dariam excelentes titulares.

Para a maioria dos observadores a vitória francesa celebrará o predomínio do futebol de ataque, da equipa que arrisca, perante o calculismo de um adversário que se organiza bastante atrás, oferece a iniciativa e pratica o contra-ataque. É um facto. Mas nos 90 minutos deste jogo a Itália até contrariou a tendência para ter menos posse de bola (52% contra 48%) e criou as melhores oportunidades de marcar, se bem que acabasse por pertencer à França o maior número de remates e cantos.

O “catenaccio” não é, de qualquer maneira para o futebol italiano, historicamente construído a partir de trás, nem uma necessidade nem uma forma de defender a todo o transe. É uma forma de ver o jogo. Um esquema em que se sentem mais à vontade para praticarem um futebol de inegável qualidade técnica. Isso também se comprovou na bonita festa de Roterdão, que encerrou com chave de ouro uma competição de grande nível, como há muito não se via num Campeonato da Europa.

É tão justa a vitória da França como seria a da Itália.

Na França saiu Petit, talvez em consequência do estado febril dos últimos dias. A equipa voltou ao 4x2x3x1, com Henry em ponta, apoiado por Djorkaeff, na direita, Zidane e Dugarry, na esquerda. A Itália dispôs-se no 3x5x2 habitual. Del Piero regressou ao banco e na frente, em vez de Inzaghi, surgiu Delvecchio (que só tinha jogado 68 minutos repartidos por dois jogos) escoltado por Totti e Fiore.

O realismo da alta competição na fase derradeira retirou à França a afoiteza de movimentos que a caracteriza. O meio-campo italiano, duro a defender mas com um toque de bola superior (ao de Portugal, por exemplo), fez o resto e afastou a bola das balizas durante a quase totalidade dos primeiros 45 minutos.

As acelerações de Henry foram a excepção ao futebol nada incisivo da equipa de Lemerre.

Na segunda metade viu-se um jogo diferente. A Itália marcou cedo, numa jogada bonita iniciada num toque inteligente de Totti (de calcanhar) e finalizada por Delvecchio. E esse golo abriu o jogo.

O problema do ataque da França começou no eclipse de Zidane. A Itália fez um “pressing” eficaz e a ele só escapou a explosiva velocidade do eléctrico Thierry Henry, um jogador que aos 22 anos, com os dois maiores títulos no currículo, é já uma grande certeza do futebol mundial e não apenas o rapazinho esperançoso em que Aimé Jacquet um dia acreditou - tal como acreditou em Trezeguet, a alma gémea de Henry.

Dino Zoff geriu bem o refrescamento da equipa. Lançou Del Piero, Ambrosini, Montella. Recuou Totti. As oportunidades surgiram também pelo avanço da França no terreno, em especial de Thuram.

A França não retirou muito proveito táctico das substituições. Melhorou um pouco porque saíram duas nulidades (Djorkaeff e Dugarry). A entrada de Pires a render Lizarazu foi o acto de desespero do treinador que tem de fazer algo e, mais do que fazer bem, pode dispor de opções de qualidade.

A Itália falhou as oportunidades que teve. A França foi feliz nos últimos segundos. A partir daqui o estado de espírito das equipas era diametralmente oposto para o prolongamento. Foi também isso que esteve retratado na alegria com que Robert Pires, o ex-português, correu pelo flanco esquerdo e destroçou toda a oposição (de Canavarro, que estivera tão bem) até oferecer o golo a Trezeguet e mais um título à França. Fica bem entregue.

Excelente arbitragem de Anders Frisk, da Suécia.

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