Entregar tudo ao inimigo

Entregar tudo ao inimigo
Entregar tudo ao inimigo

Uma Seleção irreconhecível cometeu erros em série e rendeu-se aos alemães sem condições. Nalguns momentos, parecia uma equipa de anjinhos, tal a forma como se deixou bater por um adversário que sabe aproveitar o que o jogo lhe dá. Como sempre.

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Portugal não entrou no Mundial com o pé direito como prometeu Cristiano Ronaldo. Entrou com o pé esquerdo. Pior ainda: entrou com dois pés tortos, tal foi a quantidade de asneiras que sistematicamente cometeu durante o jogo. Correção: os erros precipitaram-se sobretudo na 1.ª parte, mas a verdade é que o jogo até já tinha terminado antes do intervalo.

Haverá várias explicações (algumas delas tentaremos dá-las aqui, outras terão de ser dadas pelo selecionador e pelos jogadores), mas seguramente não há justificação para uma exibição tão incapaz, e sobretudo incompetente, da Seleção Nacional, que deixou profundamente humilhados os adeptos portugueses, especialmente aqueles que fizeram o esforço de estar na Arena Fonte Nova, em Salvador.

Os erros pagam-se caro em alta competição, e quando ainda por cima o adversário é a Alemanha, então nem vale a pena haver mais conversa. Bem podemos lamentar que eles, alemães, como sempre, aproveitam tudo e nós tudo desperdiçamos. Nada de novo.

Mas a verdade é essa: mais do que o mérito que deve ser atribuído (e muito) à Alemanha, foram os sucessivos disparates cometidos pela equipa portuguesa que apressaram o descalabro e fizeram com que a Seleção entregasse o jogo de mão beijada.

Lista sem fim

Que erros? Querem começar por onde? Vamos seguir a ordem cronológica.

O lance do penálti resulta de uma bola aparentemente resolvida por Meireles depois de ele próprio ter facilitado. O bloqueio alemão foi eficaz e de repente Goetze apareceu na área, ganhando posição a JoãoPereira. O agarrão da camisola é evidente.

Vamos para o segundo erro, que resulta no 2-0. Um pontapé de canto, arma forte e conhecida dos alemães, não pode ser abordado com tanta displicência pelos centrais. Ambos saltaram: Bruno Alves à frente, Pepe atrás, e Hummels ficou no meio para cabecear para o golo.

Terceiro erro: a expulsão de Pepe. O central brincou com o fogo mas teve a felicidade de resolver o problema ao recuperar a bola. Depois, foi um filme já visto e imperdoável. Müller fez fita e Pepe, em vez de ignorar a situação, pois o árbitro percebeu que não tinha existido qualquer falta do português, virou-se para o alemão com a impetuosidade que nestes momentos faz com que toda a gente interprete da pior forma as suas atitudes. Foi o que aconteceu. Pepe pôs-se a jeito, só encostou a cabeça a Müller mas acabou expulso.

Quarto pecado capital: a abordagem “soft” de Bruno Alves no lance do 3-0, permitindo que o esperto Müller tirasse a bola nas barbas do português.

Quinto e derradeiro erro capital, e que é uma espécie de dois em um, foi o pontapé de Rui Patrício a colocar a bola em zona de perigo e que originou o 4-0. A emenda que André Almeida foi fazer abriu um buraco no lado esquerdo da nossa defesa que Schürrle aproveitou. Depois, Patrício voltou a não ter capacidade para defender e segurar, oferecendo a bola a Müller.

Quem tem, tem

Era difícil resistir a tanto erro acumulado, especialmente porque, uma vez mais, Portugal não foi capaz de aproveitar as poucas oportunidades de golo que conseguiu construir.

Aliás, o jogo até poderia ter seguido outro rumo se Hugo Almeida tivesse arte para fazer golo numa bola em que (azar dos azares) foi parar ao seu pior pé (o direito), pelo que em vez de sair um remate para a baliza saiu um passe para Neuer.

A oportunidade fora boa e refletia até uma atitude ambiciosa, diria mesmo corajosa, da equipa nacional na abordagem do jogo.

Paulo Bento quis que a equipa assumisse a iniciativa, conquistasse a bola e jogasse numa linha de pressão subida. A estratégia obrigava Moutinho a atacar a bola que por norma saía para Kroos e menos vezes para Lahm.

O começo, por isso, até foi bom, mas também cedo se percebeu que poderíamos ter alguns dissabores, não apenas pelos erros individuais que logo se verificaram (aos 8’, Patrício colocou a bola nos pés de Khedira e só por milagre não foi golo), mas também porque essa estratégia iria exigir um grande esforço físico que nas condições climatéricas em que o jogo se desenrolou resultaria num tremendo desgaste. Marcar primeiro era claramente uma intenção que ficou comprometida ao... segundo erro.

Antes, porém, Portugal foi capaz de agredir a Alemanha e poderia, aos 25’, ter chegado ao empate com um remate de Nani que passou a milímetros da trave. Mas então já se estava a perceber que o lado esquerdo da defesa nacional não conseguia controlar as triangulações que os alemães por aí desenvolviam, ganhando as costas de Meireles e Coentrão e arrastando a equipa para esse corredor. Ótimo para Goetze que surgia nas zonas de finalização.

A diferença entre uma equipa que tem um homem-golo que sabe o que fazer com a bola e outra que não o tem não se esbateu com a saída de Almeida.Müller ainda fez mais dois golos e Éder perdeu uma excelente ocasião que daria o 2-1.

Arrumados

Com a expulsão de Pepe, o jogo ficou sentenciado. Ter de enfrentar a mais uma hora de jogo com a Alemanha só com 10 em campo e dois golos de desvantagem tornava a missão portuguesa verdadeiramente impossível. O terceiro golo antes do intervalo deixou as coisas ainda mais claras.

No início, Bento ainda testou Meireles a central, mas cedo percebeu que era melhor lançar Ricardo Costa para o que restava do jogo, que era “só” toda a segunda parte. Meireles passou a jogar como trinco, Nani recuou para fechar no meio-campo o lado esquerdo e Éder e Cristiano ficaram na frente.Portugal procurou o melhor equilíbrio possível e lá se foi aguentando. No entanto, o filme de terror não ficou por ali. Fábio Coentrão, ao procurar corresponder a um passe mal medido, lesionou-se e abandonou de maca.

Os soldados portugueses caíam no terreno de batalha, enquanto os alemães se limitavam a gerir o tempo e a bola da forma que mais lhes convinha.

Essa atitude mais passiva dos germânicos não evitou que Portugal sofresse mais um golo. Com o sol a desaparecer do relvado do Arena, de onde há muito tinham desaparecido as dúvidas quanto ao vencedor, a única coisa que se pedia era que o jogo terminasse depressa para o marcador não atingir números mais humilhantes.

NOTA TÉCNICA (notas de 0 a 5)

Joachim Löw (4). O jogo correu-lhe de feição e os pequenos bloqueios que a Alemanha teve de enfrentar (pressão sobre Lahm e Kroos) foram-se esbatendo com o tempo, os golos e a vantagem numérica. A mobilidade de Müller é essencial para que a Alemanha jogue no espaço com terrível eficácia. Outra evidência: a equipa estava bem preparada para o impacto do clima.

Paulo Bento (1). O plano era ambicioso: subir a pressão para a zona de construção alemã e procurar ser rápido nos momentos de posse. Mas toda a estratégia foi ruindo aos poucos e rapidamente ficou reduzida a pó. Sucessivos erros individuais ditaram o descalabro e levaram o selecionador a limitar os riscos inerentes a um jogo que tinha tudo para correr cada vez pior.

ÁRBITRO: Milorad Mazic (2). Ficou claro que não é árbitro que vá ter grande futuro, pelo menos dificilmente estará em momentos de alta exigência num futuro próximo. Não tem estaleca para isso. No entanto, não foi por causa dele que Portugal perdeu. Longe disso. Mais do que pelos erros do árbitro, Portugal saiu penalizado pelos que cometeu. Na expulsão de Pepe, é evidente que o teatro de Müller ajudou à decisão, mas provavelmente menos do que a atitude infantil e inaceitável do central português. O erro maior do sérvio aconteceu aos 75’ quando Éder foi derrubado por Howedes na área. O dianteiro português chegou primeiro à bola e foi tocado pelo defesa alemão. No resto, Mazic acabou por ser feliz em momentos em que os seus assistentes estavam mal colocados mas ainda assim ajudaram-no a tomar boas decisões.

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