António Boronha: «Com Madaíl a FPF era pró-Blatter»

António Boronha: «Com Madaíl a FPF era pró-Blatter»
António Boronha: «Com Madaíl a FPF era pró-Blatter» • Foto: Filipe Farinha

António Boronha foi dirigente da FPF entre novembro de 1998 e junho de 2002. Embora tenha chegado depois das eleições de 1998, diz que o voto português deve ter sido em Joseph Blatter: "Era o candidato apoiado pelo Havelange. O João Rodrigues era muito próximo do Havelange e o conselheiro do Gilberto Madaíl [anterior presidente da FPF], por isso tenho quase a certeza que votaram no Blatter", explica.

Boronha lembra que, no período de Madaíl, "a Federação foi sempre pró-Blatter". "Nas eleições de 2002, nem houve uma reunião de direção para discutir o sentido do voto. O Madaíl decidiu sozinho e votou no Blatter."

Boronha esteve em três congressos da FIFA e privou de perto com o atual presidente do organismo. "Chegou a estar na minha casa", lembra. O antigo dirigente defende que o problema do "nepotismo e da corrupção" nas eleições à presidência da FIFA tem a ver com a distribuição dos votos: "Se pensarmos no futebol, 80% das receitas estão na UEFA e na CONMEBOL [confederação da América do Sul], mas as duas confederações não chegam a ter 30% dos votos. Esta é uma realidade. Cada país tem direito a um voto. A Alemanha tem um voto, tal como o Butão. É evidente que não se compra o voto da Alemanha, mas o do Butão é facílimo."

Há muitas formas de conseguir votos. Seja por corrupção ativa ou por pequenos incentivos. Boronha dá um exemplo: "Fazer um campo de futebol na Zâmbia vale um voto ao Blatter e custa-lhe tostões." Como acabar com isso? "Alguns países, devido ao seu peso, deviam ter direito a mais votos do que outros, mas isso nunca vai acontecer, porque o sistema protege-se a si próprio."

Esta poderá ter sido apenas uma visita de reconhecimento. Amândio de Carvalho acredita que Figo não vai desistir de vir a ter um papel importante no futebol: "A candidatura deu-lhe reconhecimento internacional e ele pode vir a desempenhar um papel importante no futuro, seja na FIFA ou na UEFA." O antigo "vice" da FPF lembra ainda que, provavelmente, Figo abandonou a corrida quando percebeu que não iria ter alguns apoios com os quais contava. Um deles pode ter sido do presidente da UEFA: Platini fez vários elogios à candidatura de Figo, mas apoia o jordano Al Hussein.

António Boronha diz que Figo percebeu que tinha poucas hipóteses e, por isso, decidiu retirar a candidatura. "Nestas eleições ele sabia que não ganhava, mas pode ganhar daqui por quatro ou oito anos. Acredito que esta desistência faça parte da própria estratégia para alcançar esse lugar no futuro. O Figo é inteligente, não faz nada por acaso."

Tanto dinheiro como a ONU

Cerca de 4,5 mil milhões de euros foi quanto a FIFA diz ter ganho com o último Mundial, o evento desportivo mais lucrativo da história. Este valor não foi utilizado para a construção dos estádios do Brasil, com um custo a rondar os 14 mil milhões de euros, que serão pagos pelos contribuintes brasileiros. João Rodrigues deixa a pergunta: "A FIFA devia investir 70% dos ganhos do Mundial no futebol, em investimento direto e não para luxos inqualificáveis. Gostava de saber se esse dinheiro vai para o futebol, para estímulos financeiros por causa dos votos, ou para outras coisas?"

É difícil saber onde está o dinheiro. A FIFA vive sob a designação de organização sem fins lucrativos, com a proteção do sigilo bancário dado pela Suíça, país onde a instituição está sedeada. Numa entrevista dada durante o último verão, Blatter chegou a dizer que a FIFA tinha uma reserva monetária de 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,3 mil milhões de euros), equivalente às reservas das Nações Unidas.

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