Higuita: «Visitaria Pablo Escobar na prisão hoje, amanhã e sempre»

Antigo guardião lembra conhecido traficante e fala da amizade entre ambos

Nome lendário do desporto colombiano e também uma figura mítica no plano global, tanto pelo positivo como pelo negativo, René Higuita lembrou em entrevista à revista BOCAS a amizade que manteve com Pablo Escobar, uma relação próxima com um dos mais famosos traficantes de droga da história que o deixou em apuros e que até o levou a cumprir uma pena de prisão de nove meses. Ainda assim, garante, nada disso muda a relação e a admiração que mantinha com o chefe do então Cartel de Medellín.

"Visitaria Pablo Escobar na prisão hoje, amanhã e sempre. Fui um pouco amigo do Escobar, mas esse 'pouco amigo' fez com que muitos quisessem ter-me como amigo. Ainda assim, de quem fiquei mesmo verdadeiro amigo foi do seu irmão, Roberto Escobar", lembrou o antigo guardião, que recordou na mesma entrevista o facto de as pessoas terem deixado de 'reconhecer' Pablo Escobar assim que este foi detido.

"Era conhecido, chegou ao Congresso, mas depois, quando sai de lá, acaba na clandestinidade e vai para a prisão. Aí já ninguém o conhecia. Já não era político, era só um traficante de droga e ninguém queria saber dele. Então eu, que nesse momento era uma figura na Colômbia, disse: 'É assim que se paga uma amizade?' Nesse momento assumi a minha parte mais humana e pensei como seria a vida dele na prisão...", recordou.

E mesmo sendo amigo de vários criminosos que marcaram o país, Higuite assume que também tinha boas relações com quem estava do outro lado da barricada. "Tive muitos amigos e muitos deles eram traficantes. Isso não posso mudar, não posso mudar o meu coração. Conheci militares, também conheci guerrilheiros. Pelo que me contaram, respeito-os, como eles me respeitam a mim. É essa a minha essência e falo dos grupos mais representativos aos mais delinquentes. Por isso vivo tranquilo, vivo em paz e sou amigo de todos".

Os nove meses na prisão

Na mesma entrevista, René Higuita lembrou os nove meses que passou na prisão por alegadamente ter estado ligado à libertação da filha de um dos sócios de Escobar, que havia sido sequestrada. Na altura, lembra, a detenção deu-se nas instalações do Atlético Nacional, clube que representava e que era detido precisamente por Pablo Escobar.

"Começaram a dizer-me: 'se nos entregares o Pablo Escobar não és acusado de nada. És uma pessoa conhecida e o que fizeste dá para sete anos de prisão'. A única coisa que lhes disse foi 'não sou pessoa de arranjar problemas. Não sei de nada disso e mesmo que soubesse não vos diria'. Estavam desesperados para encontrar o Pablo, porque já tinham feito mil e uma coisas. Nessa altura pensaram que eu era muito amigo dele e a maioria dos colombianos passou a achar o mesmo. Levaram-me para Bogotá, de helicóptero, como se fosse o pior delinquente, e os títulos de jornais até diziam que eu era o sequestrador. Fiquei na esquadra dois dias e depois mandaram-me para a prisão, La Modelo".

Esteve nove meses detido e apenas saiu em face da pressão pública após a vitória histórica da seleção sobre a Argentina em Buenos Aires. "Começaram a gritar 'Libertem o René' e isso ajudou a darem-se conta que eu na verdade era apenas um boxe expiatório, que era uma injustiça e acabei por sair", concluiu.

Por Fábio Lima
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