Dirigente português do Flamengo em entrevista a Record
José Boto assumiu a direção do departamento de futebol profissional do Flamengo no final de 2024 e é um homem satisfeito pelo trabalho que está a realizar no clube carioca, que está na luta pelo Brasileirão e está nas meias-finais a Libertadores. A Record fala da importância do scouting e de como nos últimos anos tudio mudou.
RECORD - O Benfica e o FC Porto sempre foram clubes que tinham os seus olheiros e conseguiam contratar jovens jogadores no Brasil, que iam para Portugal e depois faziam boas vendas. O Flamengo tem esse mesmo olhar?
José Boto - Portugal é um dos pioneiros nesse tipo de scouting e eu estou perfeitamente à vontade para falar nisso, pois em 2007 iniciámos o serviço de scouting no Benfica. Mas o que se passou não foi só isso. Os clubes europeus que compravam jogadores ao Benfica começaram a perceber que tinham que vir aqui, direto à fonte. Eles começaram a vir ao Brasil e a contratar esses jovens. Talvez hoje o Benfica, o FC Porto e o Sporting já não tenham essa possibilidade de levarem esses jogadores que levavam entre 2007 e 2015. Eram fáceis de levar e depois eram revendidos por muito dinheiro. A partir de uma certa altura, o Real Madrid veio aqui buscar o Vinícius Júnior ou o Rodrygo diretamente, o Chelsea veio buscar o Estêvão, e hoje é quase impossível um clube português vir buscar um jogador desse nível. Se fosse há uns 10 anos, talvez o Estevão tivesse ido para o Benfica ao invés de ir para o Chelsea. Isso tornou a vida dos clubes portugueses mais difícil, embora eles saibam se reinventar e procurar outros mercados sempre com muito sentido. O Flamengo é um pouco diferente por que nós procuramos trazer jogadores com um pouco mais de nome e já com currículo, o que deixa os adeptos um pouco mais descansados. Não é fácil mudar essa mentalidade, essa cultura, e nós temos que nos adaptar a ela, ao sítio onde trabalhamos. Não é fácil fazer no Flamengo o que é feito no Benfica ou no FC Porto, porque aqui não existe essa cultura. Não só aqui, mas também em outros clubes que se calhar teriam maior necessidade de fazer esse trabalho por não terem a disponibilidade financeira que o Flamengo tem. Mas isso acaba por não acontecer, pois preferem trazer aqueles que os brasileiros chamam de 'medalhões', às vezes com custos muito elevados para a realidade desses clubes, ao invés de fazer mais trabalho de scouting. Existem muitos bons jogadores no Brasil, na Argentina, na Colômbia e poderiam até competir com os clubes europeus trazendo esses jogadores primeiro. O Flamengo pela sua dimensão e pela disponibilidade financeira, não precisa tanto desse trabalho, mas é algo que fazemos aqui, com jogadores que não são conhecidos e que têm uma possibilidade de virem a ser conhecidos no Flamengo e não em outros clubes.
R - Hoje em dia é mais fácil trazer um jogador europeu para atuar aqui no Brasil? A credibilidade é maior?
JB - O facto de terem chegado jogadores como o Saúl, o Memphis Depay, o Braithwaite, entre outros, já mostra que o Brasil hoje tem essa credibilidade. Os clubes brasileiros têm também uma disponibilidade financeira que não existia há alguns anos. O Flamengo, por exemplo, é um clube que paga bem e sempre em dia, e isso faz com que os jogadores europeus acreditem. Nós temos o Saúl, mas temos também o Jorginho, que embora brasileiro, fez a sua carreira toda na Europa e que poderia ter algum receio de vir. Eles se mostraram sempre abertos a vir para cá. As condições do Flamengo, o CT que nós temos que não fica a dever nada aos grandes clubes europeus, o nosso projeto, tudo isso abre as portas. A vinda destes jogadores faz com que outros tenham a curiosidade de também poderem vir. Após trazermos estes, houve outros jogadores que se mostraram interessados em vir para o Flamengo. Jogadores de nome que atuam em grandes ligas. Portanto, acho que é um misto que existe: a credibilidade, a curiosidade, e o jogador europeu a querer vir atuar para o Brasil onde a emoção é muito diferente da Europa. Acho que esse conjunto faz com que os jogadores europeus olhem com outros olhos, ao invés de ir atuar para outras ligas menos importantes como a Turquia. A Arábia Saudita é diferente já que o poderio financeiro é muito elevado por lá. Mas o Brasil é uma boa solução de mercado para virem jogar e se sentirem jogadores de futebol aqui, com uma visibilidade maior. Isto porque em alguns países eles não têm essa mesma visibilidade, mesmo que tenham boas condições financeiras.
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