Luiz Felipe Scolari: Do sonho italiano às... «boas hipóteses» lusas

Foi uma manhã de emoções para Luiz Felipe Scolari. Tido com um "duro", alcunhado mesmo de "sargentão", o treinador brasileiro mostrou a sua autêntica veia latina e não escondeu alguns sentimentos que lhe vão na alma.

Quando se despediu dos jornalistas portugueses que o seguiram nesta estada em Itália, ao fim da manhã em Cologna Veneta - a vila localizada a cerca de 50 quilómetros de Verona, no norte do país - onde nasceu o seu avô, Felipão, respondendo a um "esperamos ver-nos em breve em Portugal", deixou escapar uma frase que enfatiza a ideia deixada anteontem na conferência de Imprensa: "Há boas possibilidades!"

Foi mais uma demonstração do lado cortês e diplomata de Scolari, pois, minutos antes, no discurso que proferiu no palacete que serve de sede ao município de Cologna Veneta, frisando já possuir passaporte italiano e considerar-se, também por isso, cidadão deste país, o técnico que conquistou para o Brasil o quinto título mundial de futebol confidenciou que "gostaria, um dia, de trabalhar em Itália, num clube ou na selecção, apesar de este não ser o momento". E, consciente da mensagem que estava a passar, Scolari sublinhou: "Sei que na selecção italiana não há tradição de contratar técnicos estrangeiros, mas lembro que as minhas raízes estão aqui!"

Avós ensinaram italiano

Na singela homenagem prestada pelo município de Cologna Veneta, Scolari foi brindado com o título de Cidadão Honorário da cidade, com um discurso "inflamado" do presidente da câmara local, Damiano Vedovato, e uma imensa série de oferendas, desde livros, a medalhas, até um quadro onde o próprio é retratado. Este "regresso ao passado" começou com uma visita muito especial, a casa de um dos poucos parentes chegados de Felipão, o primo Mário. Já no município, sempre com o mesmo ar severo, como já referimos, Felipão deixou-se levar pelas sensações.

"Falo mal italiano, por isso, desculpem-me. Mas se ainda falo alguma coisa foi porque aprendi com os meus avós, com quem vivi, e com os meus pais, até aos cinco anos de idade. Depois deles morrerem, a tradição de se falar italiano em casa foi-se perdendo", explicou Luiz Felipe Scolari, para concluir de forma ainda mais reveladora: "Este é um acontecimento histórico que nunca imaginei viver. Nem sei que dizer... Pode parecer exagero, mas creio que neste momento o meu coração bate mais forte do que quando conquistei a Copa do Mundo. Por todas estas emoções, obrigado, e espero um dia voltar com a minha família."

Luiz tem história(s)

A referência da origem italiana de Scolari vem do seu avô paterno, Luigi Scolari. Mas foi uma mulher, Luigia Bellini, mãe de Luigi, quem levou o ramo da família para o Brasil. Já viúva de outro Luizi Scolari, Luigia (depois Luiza), a bisavó de Felipão, desembarcou no porto de Rio Grande em 1891, oriunda de Santa Apolônia, de Cologna Veneta, província de Verona, levando consigo seis filhos. Luigi, avô de Felipão (mais tarde Luiz), era o mais novo, tendo nascido dois meses após a morte do pai.

Luigi Scolari, sediado em Soturno, no Rio Grande do Sul, casou aos 21 com Genovefa Giavarini, de 24, nascida no Brasil mas filha de italianos. Da união nasceu, a 11 de Janeiro de 1916, Benjamin Jeronymo Scolari, residente em Passo Fundo, distrito de Caxina, casou-se, aos 26 anos, com Cecy Leda Gabriel, de 19 anos, filha de pai venezuelano e de mãe italiana. Cecy foi mãe pela segunda vez no dia 9 de Novembro de 1948, dando-lhe o nome de Luiz Felipe Scolari, que tem mais duas irmãs (Cleusa e Cleonice).

Aos 25 anos, a 29 de Dezembro de 1973, já professor mas ainda no activo como jogador de futebol, Luiz Felipe casou com a professora Olga Pasinato, também de 25 anos. O casal tem dois filhos: Leonardo, nascido a 18 de Março de 1984, e Fabrício, que veio ao mundo no dia 2 de Agosto de 1991.

O 'low-profile' de Gilmar Veloz

A festa de homenagem de Cologna Veneta a Scolari foi mais restrita do que inicialmente havia sido propalado. Foram pouco mais de quatro dezenas de pessoas as que estiveram no salão nobre do município local a assistirem à tal singela cerimónia, à qual se seguiu um almoço íntimo, só para familiares e amigos.

Entre estes encontrava-se o seu empresário, Gilmar Veloz, um cinquentão elegante, com aparente "low-profile", de fato cinzento escuro e "celular" sempre na mão. Passou discreto, sentado no meio da audiência e até para os responsáveis pelo evento, não fosse, já à saída, o próprio Scolari apresentá-lo a Damiano Vedavato, nunca se imiscuindo nos diálogos de Felipão.

'Ciao' Roma... 'Bonjour' Paris!

Scolari regressou ainda ontem a Roma de onde viajará esta manhã rumo Paris. Felipão prossegue, assim, o seu périplo pela Europa, encontrando-se hoje com alguns amigos, incluindo Luiz Fernandez, técnico do Paris Saint-Germain, onde alinham os portugueses Hugo Leal e Filipe Teixeira.

Tudo indica que a próxima escala de Scolari seja Londres, sequência de um convite feito pelo presidente da Liga inglesa, aproveitando a ocasião para manter outro tipo de contactos. Parece, assim, pouco provável que Scolari possa deslocar-se a Portugal para amanhã assistir ao Portugal-Escócia, a menos que seja já para concluir as negociações com Madaíl.

Deixe o seu comentário
Newsletters RecordReceba gratuitamente no seu email a Newsletter Premium ver exemplo
Ultimas de Internacional Notícias
Notícias Mais Vistas