O clássico de domingo não fugiu à regra: nem um adepto xeneize nas imediações do Monumental...
Desde 1913 que a rivalidade se confunde com uma doença, em Buenos Aires. River Plate e Boca Juniors, oriundos do mesmo bairro mas pelo tempo e pelas incompatibilidades separados para extremos da cidade, protagonizam o maior clássico sul-americano e um dos mais apaixonantes do mundo do futebol. Em 2004, Mauricio Macri, um dos mais bem-sucedidos presidentes do Boca (com um mandato de doze anos), abriu mais uma brecha nas relações difíceis entre os dois gigantes: alegando incapacidade de acolher os seus próprios adeptos no Estádio La Bombonera, impediu que a equipa visitante tivesse direito a qualquer lugar no seu recinto.
A reciprocidade do River não se fez esperar e a rivalidade extremou-se de tal modo que a federação argentina decretou – caso único no mundo – a ‘porta fechada’ aos adeptos visitantes nos dérbis. Esta pode ser uma forma encontrada para diminuir animosidades e evitar confrontos, mas, por outro lado, aumenta a rivalidade e a possibilidade de reações descontroladas do público.
Vitória mais saborosa
Veja-se o sucedido em maio, na 2.ª mão dos oitavos-de-final da Libertadores, quando os jogadores millonarios foram atingidos com gás pimenta em La Bombonera, no retorno ao relvado para a segunda parte. Jogo suspenso, pena de derrota ao Boca e River a seguir na competição até... à vitória final, perante os mexicanos do Tigres.
E o clássico de domingo não fugiu à regra: nem um adepto do Boca nas imediações do Monumental, concentrando-se no bairro de La Boca para ver o jogo pela televisão e festejar, no final, a mais saborosa de todas as vitórias, por 1-0. O médio Fernando Gago lesionou-se no primeiro minuto de jogo, sem adversários, ao colocar mal o pé esquerdo no relvado. Substituído com aparato, foi mesmo assim apupado ao limite. Com direito, até, a objetos enviados para a pista do estádio. É, dizem-nos em Buenos Aires, "uma questão cultural". Na verdade, há muito que a rivalidade entre River Plate e Boca Juniors ultrapassou o campo estritamente desportivo.
River Plate: Sangria depois da Libertadores
É difícil resistir a tanto abandono. O River Plate, depois da conquista da Libertadores, entrou em decréscimo exibicional e de resultados, e viu partir alguns dos principais nomes. Da equipa com que Marcelo Gallardo contava no início da temporada (na Argentina a época desportiva pauta-se pelo ano civil), o abandono mais sofrido terá sido o do ponta-de-lança Cavenaghi.
A estranheza causada pelo destino (os cipriotas do Apoel), é compensada pela idade do avançado (31 anos), que, assim, junta a ilha mediterrânica ao México, Espanha, França, Brasil e Rússia na sua folha de serviços. Porém, depois de dois anos e meio no River, e face à escassez de bons avançados a recrutar na Argentina, os adeptos não digeriram bem a saída, sobretudo porque também partiram o central Funes Mori (Everton, e o avançado colombiano Teo Gutiérrez (Sporting), enquanto Kranevitter já acertou o negócio com o At. Madrid, seguindo para Espanha após o Mundial de clubes, em dezembro. Já Pablo Aimar terminou mesmo a carreira há cerca de dois meses.
São muitas saídas de uma só vez, sobretudo porque outras possíveis traves mestras da equipa que vai defender os sul-americanos no Japão tardam em atingir o melhor patamar: Lucho González e Javier Saviola têm estado a contas com lesões, o central Balanta é menos agressivo do que Funes Mori e o avançado Lucas Alario, de 22 anos, ainda necessita de futebol nas pernas para se tornar uma referência.
Assim, o River Plate ficou afastado da luta pelo título argentino após a derrota de domingo, valendo a Libertadores e a possibilidade de uma boa campanha no Mundial de clubes para tornar a época positiva. Mas, para ganhar no Japão, o River terá, possivelmente, de bater o Barça, de... Messi.
Boca Juniors: A palestra das claques xeneizes
Na Argentina é assim. O peso das claques assume uma importância determinante na gestão dos clubes e influencia – ou procura influenciar – o desempenho dos jogadores em campo. Que o diga o Boca Juniors, que, com a vitória no ‘Superclásico’ sobre o River Plate conseguiu ultrapassar uma crise anunciada.
Na véspera do jogo do Monumental, 25 elementos de La Doce (a principal e mais radical estrutura organizada de apoio ao Boca) estiveram em La Bombonera, no último treino da equipa orientada por Rodolfo Arruabarrena para o importante jogo. Os adeptos foram à ‘casa amarilla’, oficialmente, para dar alento à equipa. Na verdade, o seu objetivo era bem diferente, até porque as claques, sendo subsidiadas pelos resultados desportivos, sentiam o perigo de uma redução de recursos com um eventual mau resultado ante o maior rival. Ainda por cima, no último fim de semana, Rodrigo Betancur, a mais jovem estrela (de apenas 18 anos) dos xeneizes, tinha sido o responsável direto pelo golo do San Lorenzo, que venceu na Bombonera.
Foram discretos na abordagem os responsáveis pela La Doce: Mauro Martin e um dos irmãos Di Zeo, representando duas das três fações da claque, reuniram com os capitães da equipa e com Betancur. Uma palmadinha nas costas do jovem, mas com o paternal ar de quem queria, efetivamente, exigir que "o erro não se repita". Mas também um alerta a todo o plantel, que parece ter feito eco: no relvado do Monumental, o Boca foi muito mais frio e eficaz, mandou no jogo para sua conveniência e o golo solitário de Lodeiro ditou a mais saborosa de todas as vitórias no campeonato argentino.
Respiram fundo as claques mas, sobretudo, Betancur, que não se esquecerá do aperto de mão envenenado da véspera...
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