Aos 35 anos, Gustavo Ribeiro, mais conhecido por Guti, tem conquistado crescente protagonismo na Alemanha. Depois de uma carreira de futebolista onde passou pelos quatro cantos do Mundo - Espanha, Grécia, Indonésia, Malta, Chipre, Finlândia, Alemanha e Áustria antes de terminar o trajeto de jogador em 2016 -, é na Baviera, mais concretamente no TSV Kareth-Lappersdorf, que vem dando passos seguros como treinador.
Atualmente, comanda a formação de sub-19 e lidera destacamente a tabela do campeonato, com 11 vitórias em outros tantos jogos. E isto só com futebolistas de idade inferior a.. 18 anos. "Está tudo a correr muito bem. Há 25 anos que o clube não tinha um desempenho assim neste escalão. Devido à boa prestação, dois jovens foram para outros clubes, numa divisão acima (um central e um atacante). O objetivo é o 1.º lugar e ganhar a liga o mais depressa possível. Depois da pausa de inverno temos cinco jogos importantíssimos. Se os vencermos, fica o caminho aberto", constatou Guti em declarações a Record, fazendo questão de sublinhar que, desde que chegou à Alemanha, em 2017/18, entre Kareth-Lappersdorf e Regensburg leva 31 vitórias e apenas cinco derrotas em 36 partidas.
Dado o sucesso, a cobiça não se cinge apenas aos jogadores e Guti vem chamando não só a atenção dos media locais mas também de outros clubes. "Tenho várias propostas da Landesliga (sexto escalão nacional, terceiro na Baviera) para treinador principal de equipas seniores. Mas disse à direção que se subirmos à 2.ª liga nacional continuarei no clube e nos sub-19", garantiu, recordando que nesse escalão já há a possibilidade de defrontar históricos da região, como Bayern Munique ou TSV Munique 1860.
Mesmo em seniores, onde a equipa principal atua na terceira divisão da Baviera, as condições são muito melhores do que em emblemas de primeiro escalão em Portugal. "Num jogo normal, estão 1200 pessoas a assistir ao vivo. O clube tem quatro campos relvados, mais o estádio de 7 mil pessoas. Depois há ainda o campo das escolinhas e um sintético. É o clube com mais desportos aqui na zona", constatou.
Regresso a Portugal só em condições especiais
Totalmente ambientado à Alemanha e com a companhia da família, Guti admite difícil um retorno ao seu país. "É muito complicado. As condições aqui não têm nada a ver. A treinar sub-15 aqui ganho mais do que em seniores em Portugal. A voltar, seria para uma 1.ª ou 2.ª liga, como adjunto. Já falo alemão fluentemente e estou a concluir a minha licença, só falta um passo. Aliás, nos últimos três anos sou o único estrangeiro a conseguir essa meta. Estou bastante contente aqui", sentenciou, deixando claro que terminar a formação é uma das suas prioridades.
A própria mentalidade germânica contribui para uma maior estabilidade, profissional e familiar, quando comparada com a realidade latina, onde a chicotada psicológica é tantas vezes usada: "Aqui, nos juniores, mesmo que estejas em último lugar fazes a época toda. Vi em Portugal treinadores de sub-17 a serem despedidos devido a resultados ao fim de três jogos. Isto leva a refletir...."
Ao estilo de Jorge Jesus
Guti Ribeiro admite que segue os mandamentos de Jesus. Não de Cristo mas de Jorge, o que dá cartas no Flamengo e está, agora mais do que nunca, nas bocas do Mundo. "Revejo-me em Jorge Jesus, é o número 1 português atualmente e não digo apenas pelo trabalho que fez no Flamengo mas em geral, desde que chegou ao Benfica. Bruno Lage, por exemplo, tem que trabalhar ainda muito para conseguir o que Jesus fez. E sinceramente não acredito que consiga", atirou, referindo que tenta colocar em prática alguns dos conceitos do amadorense.
"Jogámos há pouco tempo com o segundo classificado, onde são todos de segundo ano, alguns até com experiência sénior, e ganhámos 3-0 na casa deles. Incuto a mentalidade Jorge Jesus. Pressão e tática. Isso faz com que durante 90 minutos consigam pressionar", explicou.
Elogios a Gonçalo Paciência
Dada a proximidade, convidámos Guti Ribeiro a comentar os desempenho de André Silva e Gonçalo Paciência no Eintracht Frankfurt, onde ambos têm feito, com alguma regularidade, dupla de ataque na presente temporada.
"Ambos têm estado em destaque. Sou bastante assíduo no que toca a ver a Bundesliga e desde que eles estão no Frankfurt acompanho muito a equipa. Gonçalo Paciência está impecável, muito mais jogador desde que chegou à Alemanha. A equipa também ajuda, pois tem um plantel muito equilibrado e um excelente treinador."
Por João Socorro Viegas