Talento, comportamento e até amizades: os critérios de escolha de jogadores na seleção espanhola

• Foto: Action Images

Fazer uma convocatória para a Seleção Nacional é um processo moroso e detalhado. Esta quarta-feira os ex-selecionadores espanhóis Javier Clemente e Fernando Hierro e o ex-adjunto de Vicente Del Bosque entre 2008 e 2016 Toni Grande revelaram, em declarações à 'Marca' todos os processos necessários que uma equipa técnica atravessa até chegar à lista final de jogadores escolhidos.

Javier Clemente, selecionador espanhol entre 1992 e 1998, revelou como a seleção de jogadores para a 'sua' Espanha passava muito pela observação de atletas que atuavam nas competições domésticas.

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"Naquela altura, quase que não tínhamos jogadores no estrangeiro e os que haviam não tinham qualidade para serem internacionais. Eu próprio ia aos relvados aos domingos, mas também tinha o auxílio de Andoni Goikoetxea [antigo selecionador sub-21 espanhol] e Iñaki Sáez [ex-selecionador de Espanha em 1968]. Repartíamos os jogos e aqueles que não conseguíamos ir ver, assistíamos depois por televisão", recordou.

Apesar de ter uma boa relação com os jogadores, Javier Clemente assume que só ligava pessoalmente aos atletas em casos únicos.

"Dava-me bem [com os jogadores], mas só ligava aos que convocava. Antes disso, nunca pegava no telemóvel. Só o fazia para falar com algum jogador que tivesse sido convocado para saber se não estava com alguma lesão ou problema naquele momento. Foi o caso do Guardiola. Telefonei-lhe antes do Mundial da França para tranquilizá-lo e dizer-lhe que íamos esperar que ele recuperasse da melhor forma. Os jogadores sabem [que estão convocados] através da imprensa, não é pelo selecionador", revela.

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Fernando Hierro, ex-treinador adjunto do Real Madrid e selecionador espanhol em 2018, sublinhou a importância da personalidade e das relações entre os jogadores convocados, especialmente em listas para torneios importantes, como o Europeu ou Mundial.

"Às vezes é dito que quando entras na Seleção, és como um computador e isso não é verdade. Não é sobre computadores, mas sim sobre pessoas. Algumas pessoas pensam que os selecionadores só se limitam a ver partidas e a chamar os jogadores que mais gostam, mas não é esse o caso", reitera.

"[As seleções mais jovens] têm de ir de encontro com aquilo que está a acontecer na seleção principal: procuramos qualidade, talento, identidade de jogo... tudo isto está diretamente relacionado com o desporto, mas é tão ou mais importante as qualidades como ser humano", acrescenta.

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"Precisamos de saber como os jogadores de comportam e como vivem juntos. Não podemos seguir os jogadores diariamente como fazem os clubes. Se pensarmos em torneio importantes, como o Europeu ou o Mundial, onde testamos tudo em apenas algumas semanas, é importante saberes com quem estás a lidar. Se alguém cria um mau ambiente ou tem uma má atitude pode deitar fora o trabalho de um ano inteiro. Esses aspetos também são trabalhados e influenciam as escolhas", atira.

Javier Miñano, ex-preparador físico da seleção espanhola, explica como ferramentas como 'WyScout' ou 'InStat' são essenciais para acompanhar o desenvolvimento dos jogadores. "Além das informações sobre onde e como eles jogam, também tentamos coletar dados de treino que achamos interessantes e acompanhar, de certa forma, o trabalho individual que cada um tem no seu clube", dispara.

Por Sérgio Magalhães
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