Mundial-2003: «Oficiais» e cavalheiros

Espanha e Jugoslávia são equipas recheadas de atletas de eleição, mas, entre tantas “estrelas”, poucas atingem a dimensão dos respectivos capitães. Enric Masip e Dragan Skrbic, companheiros de equipa no Barcelona e adversários hoje, no Espanha-Jugoslávia – o jogo-cartaz do Grupo A –, somam mais de 400 internacionalizações, e se, em campo, são verdadeiros “oficiais”, pela forma como comandam as esquadras e pelo ascendente que detêm em relação aos colegas, fora dos recintos são autênticos cavalheiros, reconhecidos tanto no universo muito próprio do grande estandarte desportivo da Catalunha como no âmbito mais vasto do andebol internacional.

“Qualquer encontro entre a Espanha e a Jugoslávia é sempre especial. As duas equipas já se defrontaram muitas vezes. Os atletas conhecem-se perfeitamente e existe uma rivalidade própria entre equipas do mesmo patamar. Desta feita, o carácter da partida não é tão decisivo como, por exemplo, quando nos defrontámos, nos quartos-de-final do Mundial de França 2001. Nessa altura, ganhámos e acabámos por chegar à medalha de bronze. Espero que as coisas voltem a correr bem, mas se perdermos não será um drama, pois não coloca em causa qualquer objectivo importante, que, no nosso caso, passa, em primeiro lugar, por conseguir o apuramento para os Jogos Olímpicos (em Sydney 2000 não chegámos às medalhas e ficámos com um amargo na boca) e, se surgir a oportunidade, discutir um dos lugares do pódio”, refere o “pivot” jugoslavo, que se considera “meio espanhol”, por força do casamento e das várias épocas em que actuou no país vizinho, embora esta seja a primeira no Barcelona.

"Guerra" entre amigos

Skrbic não esquece que Masip tem sido um dos elementos que mais o têm apoiado na adaptação à equipa mais representativa da Cidade Condal – “é um veterano e uma referência do clube” –, mas garante que, “quando entrarmos em campo, será uma ‘guerra’... entre amigos, é claro”.

Quanto ao universal espanhol – cada vez mais é utilizado em funções defensivas, para criar espaço na equipa para a magia de Dushebaev no ataque –, garante que a partida será “um clássico. A qualidade das equipas e dos jogadores é tão elevada que dificilmente não será um grande espectáculo. Há de tudo: óptimos defensores, grandes atiradores e inúmeras soluções tácticas”.

Apesar da irrefutável qualidade dos artistas, tanto Jugoslávia como Espanha não conseguiram, ainda, destronar Suécia e Rússia do topo, acabando quase sempre por contentarem-se com medalhas de prata (Espanha, nos Europeus de 96 e 98) e bronze (Jogos Olímpicos de 1996 e 2000, nocaso da Espanha e Mundiais de 99 e 2001 no que diz respeito à Jugoslávia).

Masip reconhece que tem faltado algo para dar o “salto” para um título, mas não deixa de questionar: “Acha que é pouco? É evidente que queremos ganhar uma grande competição. Trabalhamos para isso e havemos de lá chegar. Mas a concorrência é forte e temos de respeitá-la. A começar pela Jugoslávia.”

"Figo" tem as cores do Barça

O Barcelona não é um clube, é uma “religião”, e Masip – que conta 13 epocas no Barça como atleta e muitas mais como sócio – pode avaliar a perda de Figo. “Não voltei a falar com ele, mas isso é meramente circunstancial. O Luís é um grande profissional e limitou-se a seguir o seu caminho. Sempre o disse e mantenho: não há razões para o odiar. Pelo contrário. Se o Barça lhe deu muito, ele deu ainda mais ao clube. É como na vida, quase sempre o ódio é proporcional ao amor no sentimento de perda. Acredito, no entanto, que, por dentro, Figo sempre terá as cores do Barça.”

Elogios para Resende

Como Masip ou Skrbic, também Carlos Resende é um atleta de eleição e uma personalidade admirada. “Quando se fala de Portugal, penso em Resende, um grande jogador e um tipo impecável. Se o vir, mande-lhe um abraço”, diz Masip; enquanto Skrbic refere: “Desde que jogámos juntos na selecção europeia, ficou uma ligação.”

Da desorganização...

Dragan Skrbic tem uma explicação simples para o facto de a Jugoslávia não ter voltado a conquistar um título, depois do desmembramentro da Federação. “Já estivemos perto várias vezes, mas há coisas que dificultam a tarefa. Repare: nas últimas quatro grandes competições, fomos orientados por quatro técnicos diferentes. Assim é complicado. Basicamente, o nível da organização do andebol jugoslavo não acompanha a qualidade dos jogadores. Esse é o problema.”

... à derrota com Portugal

No percurso sempre irregular da equipa dos Balcâs, figura, por exemplo, a eliminação às mãos de Portugal no “playoff” de acesso ao Europeu da Croácia 2000. “Essa derrota foi um passo atrás e, ainda hoje, é uma coisa muito difícil de digerir. Impediu-nos de estar num Europeu onde tínhamos razões especiais para tentar brilhar. Portugal jogou bem e nós, se calhar, não fomos suficientemente sérios”, admite Skrbic.

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