Pedro Pichardo salta das polémicas para o inédito segundo ouro: o perfil do bicampeão do Mundo

Pedro Pichardo
• Foto: AP

Pedro Pablo Pichardo saltou da polémica saída do Benfica e da contestação à falta de apoios para uma inédita de atletismo para um português.

Na capital japonesa, onde já tinha conquistado o título dos Jogos Olímpicos Tóquio'2020, disputados no ano seguinte, Pichardo tornou-se no quinto português com dois ou mais 'metais', mas o único com dois títulos de campeão.

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Conseguiu-o aos 32 anos, no ano em que deixou o Benfica, alegando "divergências inconciliáveis", no pináculo da polémica com a diretora do projeto olímpico do clube, Ana Oliveira, uma das responsáveis pela sua contratação, em 2017.

Um ano depois de ter sido batido por duas vezes pelo também cubano, mas naturalizado espanhol, Jordan Díaz, na final dos Europeus Roma2024, com críticas à organização, ao lançar a suspeição sobre a medição do melhor salto do rival, e nos Jogos Olímpicos Paris2024, um rival hoje ausente por lesão, Pichardo voltou ao 'trono'.

A capital japonesa voltou a ser feliz para Pichardo, que soma quase 10 medalhas com a camisola de Portugal em grandes competições: três em Mundiais ao ar livre, duas olímpicas, outras tantas em Europeus ao ar livre, uma nos Campeonatos do Mundo em pista coberta e duas nos Europeus 'indoor'.

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Antes, como cubano - sob a bandeira com que saltou 18,08 em 2015, mais quatro centímetros do que o recorde nacional português conseguido em Roma2024 --, já tinha subido duas vezes a pódios de 'majors', com o bronze nos Campeonatos do Mundo Moscovo2013 e a prata nos Mundiais em pista curta Sopot2014.

Por cumprir continua o sonho de bater o recorde do mundo e 'voar' acima dos 18,29 do britânico Jonathan Edwards, como cidadão português.

A quezília com o Benfica, clube com o qual se incompatibilizou, antecedeu Paris2024, e as críticas à falta de apoio nacional a modalidades que não o futebol, anunciando publicamente a vontade de reunir com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, só teve desfecho em janeiro, com o pedido de rescisão unilateral.

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Com essa litigância por decidir, assinou, em março, pelos italianos do ATL-Etica, de San Vendemiano, abdicando da temporada de inverno, e dos Europeus Apeldoorn2025 e dos Mundiais Nanjing2025.

Sem nunca virar a cara a um conflito, já distante parece estar a rivalidade com Nelson Évora, um dos 'recordistas' de medalhas em Mundiais, com quatro (uma de ouro, uma de prata e duas de bronze), tal como Fernanda Ribeiro (uma de ouro, duas de prata e uma de bronze).

Polémicas à parte, o agora duas vezes medalhado olímpico nasceu em Santiago de Cuba, no dia 30 de junho de 1993 e, desde cedo, mostrou que estava reservado para grandes 'voos', o mais brilhante até agora ocorreu no estádio que hoje o consagrou como primeiro português bicampeão do mundo, com a conquista do título olímpico de Tóquio2020.

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Este foi só mais um dos palcos mundiais a ser dominado por Pichardo, que se sagrou campeão do mundo de juniores, em 2012, vice-campeão absoluto no ano seguinte, e se juntou, em 2015, ao exclusivo lote de triplistas a voar mais de 18 metros, onde figuram, entre outros, o recordista mundial Jonathan Edwards, com 18,29 de Edwards.

Depois de ter falhado a estreia olímpica no Rio2016, por decisão dos médicos da seleção cubana, devido a uma microfratura num tornozelo, Pichardo desentendeu-se com a federação, que não o deixava ter o pai -- que é a sua sombra - como treinador e foi suspenso.

Em abril de 2017, desertou de um estágio da seleção em Estugarda, na Alemanha, rumou a Portugal, onde foi acolhido como refugiado e assinou pelo Benfica, graças à intervenção da responsável pela modalidade, e também antiga saltadora, Ana Oliveira, com quem agora está incompatibilizado.

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"Tomámos conhecimento da decisão do Pedro e, seguindo a estratégia da direção do Benfica, fizemos um convite, que foi aceite de imediato, porque já conhecia o clube. Depois, tudo correu de forma natural, apesar de algumas pessoas não terem percebido o impacto desta contratação. Estamos orgulhosos pelo que fizemos, porque agora o Pedro é um português integrado e realizado na sua vida", explicou Ana Oliveira, em declarações à Lusa.

O então cubano era a resposta à transferência de Évora para o rival Sporting e, sete meses depois, em novembro de 2017, naturalizou-se português -- um processo que só ficou concluído para a federação internacional em outubro do ano seguinte --, tendo, na estreia com as cores nacionais, sido quarto nos Mundiais de 2019, antes de conquistar o título de campeão europeu em pista coberta de 2021.

Avesso a entrevistas, apreciador do Algarve, que lhe faz lembrar a sua terra natal, e de comida portuguesa, à exceção do tradicional bacalhau, apoderou-se do recorde nacional em 2018, ao saltar 17,95 na etapa de Doha da Liga de Diamante, que viria a conquistar, melhorando-o em 11 de junho último, para 18,04 -- insuficientes, tal como hoje, para superar Jordan Díaz.

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"O Pedro é muito inteligente e tem uma enorme capacidade de aprendizagem e decisão. É um autodidata e gosta de ser autónomo, o que lhe permitiu também uma mais fácil e maior adaptação à nossa sociedade. Ele adora Portugal, é extremamente cuidadoso e exigente consigo próprio. Costuma dizer que só gostava que fôssemos menos burocráticos, mas quem não gostaria", descreveu então a diretora do projeto Benfica Olímpico.

Antes do corte de relações entre ambos, a responsável encarnada descrevia-o como apreciador de música e de filmes em casa, assinalando-lhe o "enorme sentido de humor".

"As prioridades para ele são sempre a família e a sua profissão, por esta ordem. É muito focado e disciplinado. Além dos títulos e das medalhas, tem um objetivo muito forte que é o de bater o recorde do mundo como cidadão português", revelou Oliveira, após Tóquio2020, sendo que esse sonho continua a ter de esperar.

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Por Lusa
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