Antes da partida, Lopes pesava 53 quilos e tinha 45 pulsações por minuto...
26 de julho de 1976. Horas antes da final dos 10.000 metros nos Jogos Olímpicos de Montreal, Canadá, Carlos Lopes é abordado por vários adversários que lhe perguntam como é que ele se sente.
“Estou bem”, respondeu o português. “Então não te preocupes que vais ganhar, mas toma atenção ao finlandês Lasse Viren”, avisaram-no. Lopes perceberia pouco depois que o mundo do atletismo não era cor-de-rosa, quando foi conduzido ao controlo antidoping e Viren, o vencedor, nem sequer figurava na lista.
Lopes deixou então de ser aquela figura inocente que acreditava na ciência exata do cronómetro. “Fui segundo e queria ser campeão olímpico, Essa ideia nunca mais saiu da minha cabeça. Tinha de conseguir concretizar esse sonho”, recordou a Record aquele que foi o primeiro campeão olímpico português.
Só oito anos mais tarde é que Lopes regressaria aos Jogos Olímpicos, em Los Angeles (1984), depois de ter falhado por lesão Moscovo (1980).
“Sabia que, apesar de ter 37 anos, nada era impossível. Acreditava nas minhas possibilidades, nunca duvidei desse objetivo, mesmo quando estive quase três anos sem correr”, referiu o fundista do Sporting.
A abordagem aos Jogos de Los Angeles foi feita com dois anos e meio de antecedência. Tudo foi estudado ao pormenor. Chegou no pico da forma. Antes da partida pesava 53 kg e tinha 45 pulsações por minuto...
“Sabia que era o melhor atleta na maratona dos Jogos, era o mais rápido e tudo apontava para que tudo se decidisse nos últimos 5.000 m. Tinha a corrida toda controlada. Foi tudo pensado ao pormenor”, frisou Lopes, que foi ao pódio vestido com o fato de treino do técnico Fernando Mota. Eram 3h10 da madrugada em Portugal quando Lopes cortou a meta em primeiro. E a festa durou até às tantas...
Só em Portugal falou com o pai
• A festa pela conquista da medalha de ouro prolongou-se por várias dias em Los Angeles. Muitos parabéns dos emigrantes portugueses, que queriam a todo o custo falar com o campeão impediram Lopes de ter a sua privacidade. Os convites para as competições não paravam de chegar. Tinha ficado a sensação do dever cumprido e dos muitos treinos feitos entre as 11 e as 13 horas na zona de Torres Vedras. Como naquela altura não havia telemóveis, Lopes só conseguiu falar com o pai, António Lopes, no dia em que chegou a Lisboa, no aeroporto da Portela. A emoção foi tanta, que o pai só mais tarde reparou que lhe tinha sido roubada a carteira...
MOMENTOS MARCANTES
No Sporting a troco de 4 euros/mês
O acordo dos dirigentes do Sporting com Carlos Lopes já tinha sido estabelecido em março de 1966, e em setembro deu-se a mudança de Viseu para Alvalade.
Firmino Afonso apareceu na cidade viseense decidido a trazer Lopes para Lisboa. Só que o atleta nunca disse aos pais que tinha tudo acertado: um subsídio de 800 escudos por mês (cerca de 4 euros) e a promessa de um emprego.
Viajou de carro, a meio da viagem teve saudades e chorou, mas ao fim de algum tempo já vestia de leão ao peito. Finalmente estava ao pé do seu ídolo de infância, Manuel de Oliveira, que nos Jogos de Tóquio (1964) tinha sido 4.º na final dos 3.000 metros obstáculos. Lopes foi-se afirmando paulatinamente e no início da década de 70 já era uma figura bem respeitada no Sporting.
Eusébio na festa de homenagem
9 de outubro de 1976, Estádio José Alvalade. Eusébio, o Pantera Negra, tinha chegado na véspera da digressão que fizera pelos Estados Unidos. Lopes convidou-o para a sua festa de homenagem pela conquista da medalha de prata em Montreal’76. O King disse que sim. Foi o último jogo de Eusébio com a camisola do Benfica.
“O Carlos Lopes merecia o sacrifício”, comentou a antiga glória do Benfica antes do dérbi com o Sporting que apresentou o argentino Hector Yazalde. O Benfica ganhou por 3-2, Eusébio jogou 85 minutos e, no intervalo do jogo de futebol, Lopes ganhou uma prova de 2.000 metros (5.24,0m).
Afirmação leonina no corta-mato
Mário Moniz Pereira foi o responsável técnico pela clara supremacia do atletismo leonino, a partir da altura em que assumiu as funções de treinador em Alvalade, em meados dos anos 40.
Desenvolveu um excelente trabalho com Manuel Oliveira, mas a afirmação internacional do Sporting deu-se em meados dos anos 70, quando o clube passou a deter a hegemonia na Taça dos Clubes Campeões Europeus de corta-mato.
A primeira vitória foi em 1977, em Palência (Espanha), através de Carlos Lopes, Fernando Mamede, Aniceto Simões e Carlos Cabral, como a foto indica. Foram dezenas de títulos que Lopes ajudou a conquistar pelos leões.
A glória no Coliseu de Los Angeles
Depois de se ter quedado pelas eliminatórias em Munique (1972) e a frustração da prata em Montreal (1976), Lopes abordou os Jogos de Los Angeles (1984) cheio de ambição. Nem o facto de ter sido atropelado 16 dias antes da maratona, enquanto se treinava na Segunda Circular, em frente ao Estádio da Luz, o deixou preocupado.
Em Los Angeles ficou alojado com a mulher, Teresa Lopes, num hotel fora da aldeia olímpica. “Sabia o que valia cada um dos meus adversários e como eles corriam. Um bom observador tem a prova meio ganha”, disse Lopes, que aos 37 anos e meio teve a glória e o reconhecimento de carreira.
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