Rui Pinto e os casos de doping: «As pessoas têm de deixar de acreditar em contos de fadas...»

Atleta do Sporting lamenta que atletismo tenha sido "abolroado" por vários episódios recentemente

• Foto: Pedro Catarino

O atletismo é mais falado do que nunca pelas incríveis marcas feitas pela elite internacional, mas também pelo lado negativo. No caso pelo doping, com recorrentes casos nos últimos meses que têm manchado a reputação da modalidade. A Record, Rui Pinto lamenta toda esta situação e fala em concreto de Espanha, onde recentemente explodiu um verdadeiro escândalo.

RECORD - Está aqui ao lado e é impossível não falar disto. Como vês esta questão do doping em Espanha?

RUI PINTO - É em Espanha, mas também noutros países. É triste, porque, no meu caso, corro há muitos anos com atletas espanhóis. Depois provavelmente tenho atletas espanhóis à minha frente... O próprio sistema, com casos de controlos positivos escondidos, leva-te a pensar que se calhar há mais... E isso leva-nos a um sentimento de injustiça. Ainda há pouco tempo, num estágio recente, via o Katir a treinar. Olhava para ele quase como um Deus, mas depois acontecem estes casos que nos deixam tristes e a duvidar um bocado. De certa forma, é o que já disse: leva a fazer uma reflexão e perceber que há valores que temos de preservar. Se fazemos um resultado, não sendo tão expressivo quanto o que vemos outros fazer, mas se é o nosso melhor... Devemos estar de consciência tranquila e não nos cobrarmos por uma coisa que em muitos casos é uma mentira. Assim temos a possibilidade de andar nisto de uma forma descansada, com uma carreira longa. Os nossos resultados podem não ser fantásticos, mas são os nossos. E há pessoas que se identificam connosco e não podemos defraudar essas expectativas e admiração.

R - Olhamos para os resultados e começamos a admirar... e depois é uma falsidade. Quase não sabes se deves admirar...

RP - Sim, é isso. E depois tu notas... Competes com eles, são do nosso nível e, num ano, já nos dão um minuto. Sentes que estás a fazer as coisas bem, tens uma boa orientação técnica, tens cuidados, és trabalhador e quando estás neste contexto... Ainda hoje comentei isso 'não vejo ninguém a trabalhar muito mais do que eu'. Quando tens este contacto é bom, porque começas a pensar que não vês atletas a fazer algo muito superior ao que nós fazemos. E depois os resultados são muito díspares. Isso leva-nos a duvidar do caminho que alguns seguem, mas também nos leva a ter mais orgulho no que fazemos, ter admiração por nós mesmos, por não nos deixarmos levar por esse caminho. Porque é um caminho muito fácil. Acho que as pessoas têm de aprender a valorizar quem é honesto e trabalhador e não acreditar em contos de fadas. Qualquer pessoa que esteja por dentro consegue ver isso a léguas!

R - Falando em referências, agora num ponto de vista positivo, quem era o teu ídolo?

RP - Recordo-me de ver o Rui Silva a obter grandes resultados. Depois também porque privei com ele. Foi uma pessoa sempre cinco estrelas. Identifico-me pela pessoa que é. A outro nível, a Vanessa Fernandes. Tive a sorte de treinar com ela, conviver e ser amigo dela. Tem uma capacidade de trabalho... Ver isso ao vivo fez-me elevar o meu nível nesse sentido. Passei a ter uma capacidade muito superior, porque vi alguém que trabalhava como ninguém e isso ajudou-me muito. E continua a ajudar em momentos mais difíceis. Essa disciplina, esse rigor, bebi um pouco disso da Vanessa.

R - E quem temos agora no nosso atletismo que pode ser uma referência? O Isaac Nader...?

RP - O Isaac está num nível internacional, já consegue, como nos Mundiais, lutar por medalhas. Isso já é a excelência. A nível nacional, a esse nível não consigo dizer um nome, porque ele está num nível elevado. Mas temos o Etson [Barros], que tem estado a um nível brutal. Temos o José Carlos Pinto, que tem investido e está a fazer por dar o salto. O Alexandre Figueiredo, o Duarte Gomes... Vejo um futuro risonho. A curto prazo são estes. Mais a longo prazo temos a Mariana Moreira, que tem potencial para atingir um nível bastante elevado. Isto para lá da Mariana Machado! Tem sido uma lufada de ar fresco. Mais a Salomé Afonso.

Por Fábio Lima
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