Atleta do Sp. Braga vai procurar a marca para a maratona olímpica no último dia de qualificação
Depois de ter ficado a apenas 40 segundos da marca de qualificação olímpica em Sevilha, Solange Jesus joga a última cartada de olho em Paris no domingo. Em Praga, na República Checa, a atleta do Sp. Braga parte em busca do tão sonhado registo abaixo das 2:26:50, naquele que será mesmo o derradeiro dia válido para a obtenção dessa marca. Em entrevista a Record, Solange Jesus garante estar pronta para o desafio, assume a pressão, mas encara-a como algo positivo.
R - Como foram estas últimas semanas e meses no pós Sevilha?
SOLANGE JESUS – Parei uns 3 dias depois de Sevilha. Mas uma semana depois estive ao serviço do Sp. Braga na Taça dos Clubes Campeões Europeus de crosse. Isso dificultou um pouco a fase de recuperação, mas felizmente depois dei ali mais dois dias de descanso e, com calma, voltei a treinar. De início sem grande quilometragem, mas vi que a recuperação estava a correr bem. Fomos trabalhando semana a semana. Sempre a ajustar o que tinha de ser ajustado, por não saber como o corpo iria reagir.
R – Quando voltaste a meter carga os treinos correram como esperavas?
SJ – Sim. Felizmente o corpo respondeu bem e, lá está, a mente ajudou e o corpo respondeu. Consegui rapidamente estar ao nível que estava a treinar para Sevilha. Ultimamente as coisas têm corrido bem e agora é esperar que no próprio dia também corram bem.
R – No espaço de 13 meses vais fazer a 5.ª maratona e, pelo meio, conseguiste dois recordes pessoais. Como é que uma atleta consegue fazer essa recuperação de maratona para maratona?
SJ – O facto de ter a oportunidade de descansar faz toda a diferença. E acho que tem sido isso. Mas também houve alguns anos em que, não tendo desistido do atletismo, estive um pouco afastada, e isso permitiu-me chegar a estar fase da minha carreira e vida mais folgada.
R - Por outro lado, achas que as novas sapatilhas também te ajudaram nessa recuperação mais rápida?
SJ – Sim, acho que sim. O impacto acaba por ser mais reduzido. A corrida é um desporto de alto impacto e é o que causa o maior desgaste. E estas sapatilhas vieram ajudar neste sentido.
R – Olhando ao que fizeste em Sevilha, o que achas que podias ter feito de diferente e/ou o que falhou?
SJ – Gerir melhor as emoções.
R – Até aos 35 quilómetros ias bem dentro da marca de qualificação… É uma lição que tiras?
SJ – Tiro lições de todas as competições e sem dúvida que essa me deu mais uma grande lição.
R – Com 37 anos continuas a ter lições…
SJ – Acho que todos nós continuamos a aprender. Apesar de termos sempre experiência atrás de experiência. É como o sábio: o sábio não sabe tudo, está sempre a aprender.
R – Nessa Maratona de Sevilha ficaste a 40 segundos exatos do teu objetivo. É fazer um segundo mais rápido por quilómetro…
SJ – É curioso, porque é isso que toda a gente me pergunta, principalmente aquelas pessoas que gostam de atletismo, mas que não percebem tanto da modalidade em si. Eu digo ‘é quase menos um segundo por quilómetro, mas é difícil’. Quando estamos no terreno não é fácil traduzirmos isso no resultado final.
R – Nestas cinco maratonas, olhando agora para trás, tendo em conta que estás a ter para fazer a marca, continuas a não arrepender-te de ter ido a Nova Iorque?
SJ – Nós sabíamos que não seria uma prova para conseguir mínimos. Foi uma situação que surgiu, uma oportunidade que poderia não voltar a ter. E abraçámos essa competição nesse sentido. Aproveitando a preparação do Mundial. É logico que não é o ideal, mas abraçámos como sendo uma das maratonas rainhas do mundo. Um palco completamente diferente, não ia com estratégia de tempo, porque sabia da dificuldade do percurso. Mas acabei por não ter muita sorte. Porque corri com Covid e não sabia. Quando chegámos a Portugal fiz o teste, porque sabia que algo não estava bem e o resultado deu positivo. O meu maior medo era o pós Covid, especialmente depois do esforço da maratona… Estava com receio, mas felizmente três semanas depois corri no nacional de corta-mato, grande parte do percurso estive na frente e as coisas correram bem.
R – Como também aconteceu em Nova Iorque, onde estiveste muito tempo na frente… Nova Iorque, olhando para as principais maratonas, será a mais importante.
SJ – Quando surgiu a oportunidade, foi esse o meu principal pensamento. Poder pisar aquele palco, do outro lado do Mundo. E correr ao lado das atletas que estavam, porque era um lote de elevado nível.
R – E agora Praga. Porquê Praga?
SJ – Depois de Sevilha, como tive de fazer o crosse, uma semana a mais de recuperação é mais uma semana de trabalho. Foi isso que pensámos. E daí termos optado por Praga. Estávamos na dúvida entre Hamburgo e Praga, mas depois optámos por Praga. É mais seguro. Deixa-me mais segura nesse sentido, de ter uma semana de trabalho e de recuperação.
R – Mas ser no último dia de qualificação é uma pressão acrescida.
SJ – A pressão, como costumamos dizer, é um privilégio. E se estou sob essa pressão é sinal de que estou num bom nível. E estou grata por isso. Há pressão, mas estou muito orgulhosa pelo trabalho que temos desenvolvido e feliz pelo meu percurso. É um objetivo, já assumimos há algum tempo isso. Se conseguir, ótimo. Vamos ficar extremamente felizes. Se por algum motivo não conseguirmos, tenho a consciência tranquila. Porque fiz de tudo para lá estar ao melhor nível.
R – Se não conseguires a marca, tens depois os Europeus…
SJ – Neste momento é um segundo objetivo. Estamos focados nos Jogos. E o Europeu, apesar de ser uma representação e querer estar lá, neste momento para já é o meu segundo plano. Passará a ser primeiro caso não esteja em Paris. A época já vai longa e só espero estar bem de saúde e sem lesões.
R – Fizeste a primeira maratona aos 34 anos. Achas que foi a idade certa?
SJ – Tudo vem no momento certo. Veio na altura em que tinha de vir. Se eu pensava que podia ter corrido mais cedo, um ou dois anos antes? Talvez. Mas as coisas não aconteceram. Não tinha a mente preparada para isso.
R – Tu és treinada pelo Ricardo Gomes, teu namorado. Há quanto tempo trabalham juntos? Como é esse trabalho?
SJ – Trabalhámos juntos desde finais de 2019. Ele é a pessoa que melhor me conhece. E estou muito grata e tenho-lhe muito respeito nesse sentido, pela paciência, porque por vezes não é fácil. Estar aqui no papel de atleta, treinador, companheiros de vida, nem sempre é fácil. Mas conseguimos conciliar as coisas e tem sido mutio gratificante trabalhar com ele. Acho que é uma pessoa consegue olhar para a atleta e perceber algumas dificuldades que possa estar a passar. Consegue ser motivador. Já não sei competir sem ele ao pé de mim.
R – Ele normalmente dá-te dicas nas provas?
SJ - Normalmente sim, mas nas maratonas nem sempre. Em Nova Iorque, por exemplo, os treinadores não podem acompanhar. Fora isso, felizmente tem podido acompanhar. E sempre que é possível ele vai-me dando dicas no percurso e motivando. Isso é muito importante.
R – Têm alguma história curiosa?
SJ – A ida a Nova Iorque, porque causa do visto. O dele veio primeiro, o meu não chegou e tivemos de ficar mais um dia em Portugal. E eu já lhe dizia para não irmos! Foi bastante stressante, mas foi engraçado porque no fim deu para rir, mas no inicio foi muito complicado. A determinado momento até lhe disse para apanhar o avião e eu ia no dia seguinte… Foi engraçado. Isto em pleno aeroporto!
R – Tens alguma superstição antes da competição?
SJ – Basicamente falo sempre com os meus pais antes da competição. Aquele último ‘boa sorte’ e também do treinador. Porque é quem me transmite mais confiança.
R – Qual foi o ponto alto da tua carreira até ao momento?
SJ – É difícil… Todos os momentos têm as suas coisas boas e menos boas. Mas diria a Maratona de Sevilha, mesmo não conseguindo mínimos. Porque durante muito tempo consegui correr num ritmo brutal, que não se corria há muito em Portugal. Isso foi um dos pontos altos, porque deu-me mais motivação para acreditar que consigo fazer algo bonito na maratona.
R – Como vês o facto dos tempos de qualificação ficarem ainda mais difíceis…?
SJ – É muito complicado, porque não estamos a falar de um minuto ou dois. Estamos de três minutos e meio, praticamente. É um quilómetro! O nível está demasiado elevado. Demasiado, o nível está elevadíssimo. Mas o que é certo é que tenho visto atletas a correr muito. Se é difícil, mas estamos cá para tentar, para trabalhar. Seja o que estiver destinado.
R – E o ponto menos bom?
SJ – Talvez quando houve algum momento em que tive trocas de treinadores, em que acabou por ser difícil continuar a treinar da mesma forma. Houve uma forma que não me encontrei bem comigo mesma. Estive mais afastada e penso que foi o mais difícil.
R – Tens o apoio da Puma e da 226ers. Estes dois apoios são importantes para a tua carreira?
SJ – Sem o apoio da Puma e da 226ers, era muito mais difícil. Só me consegui dedicar a partir do momento em que tive o apoio da Puma, a partir do ano passado.
R – Até então trabalhavas…?
SJ – Sim. Conciliava os treinos com um trabalho normal, de 8 horas diárias. Trabalhava numa empresa de logística.
R – Esse apoio da Puma, com todo o gasto no material, que está cada vez mais caro, é uma ajuda, para lá de teres acesso privilegiado a modelos que ainda não estão no mercado…
SJ – São tudo fatores de motivação, porque encaro o atletismo como o meu trabalho e tento focar-me ao máximo e estar o mais concentrada possível. Isso tem permitido também ter melhores resultados.
R – Que cuidados tens no teu dia a dia agora que só te dedicas ao atletismo?
SJ – Não é que faça mais do que fazia. Cuido da recuperação, massagem, na alimentação tento sempre ser bastante regrada, tenho uma nutricionista. O que noto mais é o descanso. Como posso descansar, os treinos têm mais qualidade.
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