Brasil: os Lençóis Maranhenses

O Brasil é rico em praias, em futebol, em samba e em locais paradisíacos. Tivémos a oportunidade de visitar um deles, recentemente classificado pela UNESCO como Património da Humanidade – os Lençóis Maranhenses, no Estado do Maranhão.  Dizia o Mário Pinto, da Jipaventura, o organizador desta expedição, que esta seria uma aventura inesquecível e uma experiência única. Não somos novatos neste tipo de viagens, mas temos de reconhecer que, de facto, o raid ao Nordeste brasileiro foi impressionante, empolgante.  

O Mário tinha razão - conduzir as nossas «pick ups» quilómetros e quilómetros ao longo de praias belíssimas, subir e descer dunas mais assustadoras do que complicadas de ultrapassar, cruzar rios em balsas, tomar banho em águas azuis de beleza indescritível, percorrer ruas de cidades míticas, como as de Jericoacoara, e, ainda, ver lá do alto, a imensidão que são os Lençóis Maranhenses, não foi só uma aventura inesquecível, foi uma descoberta de um Brasil diferente daquele que normalmente nos é oferecido. 

Fortaleza, ponto de partida do raid, revelou-se uma cidade vibrante e, sobretudo, uma cidade que nos deixou confortáveis no que diz respeito à segurança. Visitar o Mercado Central e a Catedral é «obrigatório», caminhar ao longo do «calçadão» que acompanha a praia é óptimo para queimar algumas das calorias obtidas nos muitos e variados restaurantes da cidade. Momentos bem passados e sobretudo absolutamente tranquilos, enquanto se aguardou pela recolha  dos jipes.  

 Do nosso hotel, frente à praia, até ao local onde recolhemos os 4x4, foi um trajecto curto e todo o processo burocrático eficiente. A primeira etapa até Cumbuco teve poucos quilómetros, permitindo ao final da tarde os primeiros mergulhos num mar de águas transparentes e temperatura convidativa. 

A viagem prosseguiu quase sempre ao longo da costa, com muitos quilómetros pela praias, alternando aqui e ali com algumas ligações por alcatrão, por força maior imposta pelas marés, ou com travessias de rios em pequenas balsas que, só pelo aspecto, não pareciam lá muito seguras. Era o arranque do prazer da condução fora de estrada, fácil e segura, mas sempre com redobrada atenção, sobretudo em zonas de dunas, que por vezes podem ser traiçoeiras em especial para os menos experientes.  

E, facilmente chegámos a um dos pontos mais interessantes do raid: Jericoacoara.  Um lugar pelo qual nos enamorámos à primeira vista, assim que deixámos os jipes e embarcámos, com armas e bagagens,  naquilo que os locais chamam de «perúa». O que é uma «perúa», perguntam?  Não, não é o resultado da ingestão de algumas caipirinhas, mas sim camiões, de caixa aberta, com bancos,  que nos levam até aos alojamentos, já que é proibido por lei entrar de carro na cidade. Foi a primeira e engraçada surpresa.  

Jeri, como os locais a apelidam, é inolvidável. As ruas não têm alcatrão mas sim areia, dando a sensação de que estamos numa praia, «mergulhados» em lojinhas, restaurantes, bares, gelatarias, enfim, um mundo de comércio local. E à porta de alguns, lá está o símbolo da cidade: o jerico.  

Percorrer as suas ruas, chinelo no pé, fez-me recordar aquela canção de Scott Mckenzie: «If you go to San Francisco, be sure to wear flowers in your hair». Claro, esta não é a música que ali se ouve, mas o «forró» ouve-se em muitas esquinas e na praia, lá no fim da rua principal, quando o calor abranda, faz-se a  festa, cujos ritmos contaminam velhos e novos. É imperdível uma noite na praia.  

Aqui, em Jeri,  o dia começa cedo, pois pelas seis horas já o sol aquece. As opções para o turista são várias: nós optámos por passar a manhã dando uma volta de buggy pelas dunas para ver as lagoas. E não nos arrependemos. O nosso motorista fez com que a adrenalina subisse a valores altos e o azul das lagoas deixou-nos estupefactos. Como é possível, no meio do deserto, águas com aquele azul tão claro, tão límpido e, simultaneamente tão frio, apesar da temperatura do ar tão amena? 

Deixámos Jeri com ganas de lá voltar, mas o ponto alto da viagem ainda haveria de chegar. Os quilómetros percorridos até à praia de Maceió foram divertidos, e apenas adiou aquele que seria um destino memorável: Barreirinhas, a povoação que é a porta de entrada para os Lençóis Maranhenses.  

No dia seguinte, a Jipaventura tinha preparado uma primeira abordagem pelos lençóis, a bordo de jipes com condutor, pois não é permitido conduzir os nossos 4x4 por ali. A expectativa era grande e a viagem não nos defraudou: a brancura das areias das dunas é impressionante e tomar banho numa das muitas lagoas que se formam entre elas tornam o dia num momento que jamais se esquecerá.  A UNESCO fez o que devia quando, no passado mês de Julho, declarou o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, Património Mundial. E observar aqueles muitos milhares de hectares desde o ar, como nós fizémos, já no dia seguinte, a bordo de uma pequena avioneta, ultrapassa tudo quanto possamos imaginar.  

Como disse no início, não somos novatos nestas andanças de raides todo-o-terreno e já percorremos muitos quilómetros neste nosso Mundo. Porém, esta viagem, por tudo quanto se vê e se vive, pelo prazer que nos dá a condução por pistas, pela praia, pelas dunas, pela beleza dos locais, e também pelo convívio que permite, torna-a numa daquelas viagens que nos leva a querer repetir.  

Por Eládio Paramés
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