Duas vezes diagnosticado com o vírus Epstein-Barr, não foi só o sofrimento físico que lhe 'roubou' anos de competição
O ciclista britânico Mark Cavendish (Quick-Step Alpha Vinyl) foi "de ser o melhor do mundo" a "um dos piores", devido ao vírus Epstein-Barr, que lhe 'roubou' anos de competição, mas voltou ao seu melhor em 2021.
"Na altura, nem se pensa no regresso à competição, só em tentar. Foi incrível, e em particular tendo sido reconhecido por esse esforço. Fui de ser o melhor do mundo a um dos piores de um dia para o outro. Travar esta luta, quando tanta gente nos descarta, e tornar-me no melhor outra vez...", reflete o ciclista.
Numa conversa sobre a sua nomeação para o prémio de "Regresso do Ano" dos Laureus, o ciclista, que chegou a anunciar o abandono da modalidade no final de 2020, revela que "trabalho duro e persistência" permitiram-lhe voltar ao topo, sem "apontar aos recordes mas a fazer o que se pode no dia a dia".
Duas vezes diagnosticado com o vírus Epstein-Barr, não foi só o sofrimento físico que lhe 'roubou' anos de competição, em que não conseguia 'render' ao nível a que tinha habituado os adeptos aparentemente sem explicação, mas também o lado mental, com a depressão, que tinha antes apelidado como "desculpa", a instalar-se.
"Não é sobre ser forte ou fraco de cabeça. É uma doença, infelizmente, é química. Não dá para controlar, e especialmente em desportistas há uma ideia errada de que é o nosso trabalho lidar com a pressão. Claro que é. Pego no exemplo de outra das nomeadas, [a ginasta norte-americana] Simone Biles. Havia muita gente a apoiá-la e outra tanta a criticá-la", exemplifica.
Nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, Simone Biles teve de deixar a competição dada a enorme pressão de que era alvo, voltando a competir apenas na última prova, para ganhar uma medalha de bronze, iniciando uma discussão sobre saúde mental, como a japonesa Naomi Osaka já tinha feito ao retirar-se de vários torneios.
Se Cavendish passou por tudo sem "apontar aos recordes, mas a fazer o que se pode no dia a dia, com trabalho duro e persistência", também o apoio constante de profissionais qualificados teve um papel no seu 'renascimento', assim como a experiência e a família, que nunca está longe do pensamento.
"Hoje, já tenho mais cabelos brancos, as costas doem-me muito mais. Há 10 anos, nem tinha filhos. Tenho uma família grande, já. E tenho as responsabilidades que vêm com isso. Qualquer pessoa que seja pai sabe que não há palavras para como mudamos com isso", revela.
A questão da família e da "coragem", para Cavendish, influenciou o seu percurso, dado que o nascimento de mais uma filha, em 2020, fê-lo refletir sobre a capacidade de "correr riscos" na estrada, longe dos que ama.
"Os mais velhos diziam-me, quando era novo, que com família quereria estar mais em casa, sem correr riscos. Quase assusta. Na verdade, teve o efeito oposto. O meu trabalho significa estar longe de casa, arriscar. Se vou ter de o fazer, tenho de o fazer valer. Faz-me trabalhar mais e querer ser um exemplo, e tento dizer a toda a gente para não desistir, para lutar pelo que querem", declara.
A matemática é presença frequente nos argumentos do ciclista de 36 anos, talvez porque se torne difícil somar todas as vitórias que acumulou na carreira, o número de recordes quebrados e seja um 'sintoma' do ciclismo moderno, habituado a medir 'watts', velocidade e outros parâmetros para 'prever' o sucesso.
Assim, ao falar sobre os seus triunfos e ao compará-los com o que seria "o número de vitórias de um 'sprinter' na era moderna, de umas 30 vitórias", não deixa de os desvalorizar, porque "são uma história", e não uma obsessão com recordes.
O regresso ao topo, como uma 'fénix' que renasceu entre velhos conhecidos, na 'família' da Quick-Step que já tinha representado, é claro: em 2021, foram 10 vitórias, quatro no Tour, onde ficou a uma de se isolar como recordista de triunfos, 'contentando-se' com igualar o recorde de 34 de Eddy Merckx, a 'lenda' maior da modalidade.
A capacidade de superação, o trabalho em prol da saúde mental e até a pandemia de covid-19 surgem na reflexão do velocista sobre o regresso.
"No desporto moderno, há muitas plataformas que nos ajudam. É uma vantagem competitiva ter acesso a um psicólogo desportivo. Se precisas de ajuda... Nos últimos dois anos, o mundo tem sido terrível, as pessoas têm perdido pessoas, a possibilidade de fazerem o seu trabalho [...]. [Estar doente] Muda-te para o fim da vida. Não é uma decisão consciente de mudar, não se ultrapassa estar doente. Aprende-se a lidar com isso. Querendo ou não, muda quem és", explica.
De resto, a vitória mais importante, considera, é "ter uma família, depois da doença física e mental", mesmo que admita que no último ano "as estrelas se alinharam", embora tenha feito tudo por isso.
"A analogia que faço é: há uma diferença entre as estrelas alinharem-se e irmos a cada uma e queimarmos as mãos a tentar agarrá-las. Podemos afastá-la, pode estar muito quente e magoamo-nos, mas se queremos muito, podemos agarrá-las e alinhá-las", descreve.
Mesmo que tivesse a opção de "chorar nos tempos difíceis", até porque "não há regresso sem eles", reconhece ser "um sortudo por ter recuperado algo, quando muitas pessoas ainda estão a tentar".
"Digo-lhes que nunca desistam. Se continuarem a tentar, serão recompensadas", garante.
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