Jornalista Pedro Filipe Pinto explica detalhadamente o que esperar
Depois de no ano passado ter começado na Hungria, com três etapas no estrangeiro, o Giro deste ano começará e acabará em solo italiano e será praticamente na sua totalidade disputado em 'casa'. Apenas contará com um ligeiro saltinho até à Suíça para uma etapa de alta montanha - onde o pelotão chegará até aos 2.500 metros de altitude.
Serão quase 3.500 quilómetros durante 3 semanas (21 dias), num programa que contempla três contrarrelógios individuais, cinco etapas de alta montanha, cinco de perfil ondulante e, em teoria, oito a convidar aos velocistas. A análise, da autoria do especialista Pedro Filipe Pinto está nas linhas abaixo.
Etapa 1: Fossacesia a Ortona (19.6 km - contrarrelógio individual)
Prólogo? Qual prólogo? É começar logo a abrir! Quase 20 quilómetros de contrarrelógio para fazer as primeiras diferenças e ainda ali com uma dificuldade nos últimos 4 mil metros. Remco Evenepoel (Soudal) tem aqui uma oportunidade para marcar uma posição importante, mas Primoz Roglic (Jumbo) e João Almeida (UAE) também fazem do esforço individual uma arma. Será um bom teste para ver quem entra com a corda toda. Em termos de favoritos, Filippo Ganna (Ineos) é o principal até porque... ganhou todos os cronos em que participou na Volta a Itália e foi o primeiro camisola rosa em 2020 e 2021. Stefan Kung (Groupama) também estará de olho na vitória, mas será difícil bater Pipo.
Aposta: Filipo Ganna (Ineos)
Etapa 2: Teramo a San Salvo (201 km)
Complicado ver algo mais do que um sprint compacto nesta etapa. Existem duas contagens de montanha de quarta categoria que apenas servirão para os homens da fuga lutarem pela camisola azul. É verdade que a classe de sprinters nesta edição do Giro não é das mais entusiasmantes, mas há nomes importantes como Mark Cavendish (Astana), Fernando Gaviria (Movistar) ou Mads Pedersen (Trek), corredor que eu considero muito mais do que um sprinter. Mas há mais dois nomes que eu gostava de referir: Kaden Groves (Alpecin), que já leva 3 vitórias esta época, e Pascal Ackermann (UAE), que tenta voltar aos bons velhos tempos. Veremos se consegue.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin)
Etapa 3: Vasto a Melfi (216 km)
Não é um teste de fogo, mas será um teste à atenção dos candidatos à geral. Etapa longa, quase 200 quilómetros planos e depois aparecem ali umas montanhas inclinaditas que podem muito bem causar o caos se a colocação não for a melhor. Se tivesse de apostar, diria que não acontecerá nada de especial e que Mads Pedersen vai ganhar depois da Trek endurecer a corrida, mas nunca se sabe…
Aposta: Mads Pedersen (Trek)
Etapa 4: Venosa a Lago Laceno (175 km)
Vamos a um cliché? Vamos! Ninguém vai ganhar a Volta a Itália neste dia, mas um ou dois podem muito bem perder. São três contagens de segunda categoria, com a última a deixar os corredores a apenas 3 quilómetros da meta. Numa fase tão precoce da corrida, as diferenças vão ser feitas na última subida, mas mesmo assim só vai sofrer quem não estiver num dia bom, porque 9,6 km a 6,2% de inclinação e apenas um pouco acima dos 1000 metros de altitude não deve ser suficiente para fazer cair muita ‘fruta madura’. Mas acredito num grupo reduzido a sprintar pela vitória e aqui poderemos ter a primeira vitória de Roglic ou Evenepoel.
Aposta: Primoz Roglic (Jumbo)
Etapa 5: Atripalda a Salerno (171 km)
A primeira metade desta etapa vai ser bastante acidentada, mas não o suficiente para as equipas dos sprínters não trabalharem. A fuga vai tentar ganhar uma margem suficiente para conseguir disputar a vitória, mas os homens rápidos têm este dia marcado e acredito em mais uma chegada em pelotão compacto.
Aposta: Mark Cavendish (Astana)
Etapa 6: Nápoles a Nápoles (162 km)
Atenção: perigo. Mais de metade desta etapa é feita a beira-mar e por isso há vários sinais de perigo, começando por um gigante chamado Valico di Chiunzi (10,4 km a 5,8%) ainda no primeiro terço da tirada. Este aviso não é para os homens da geral, mas sim para os corredores mais rápidos que queiram disputar a vitória ao sprint. Alguns conseguirão passar com os melhores, mas vejo uma fuga a sair vencedora neste dia. Se conseguir acertar no vencedor será incrível e… merecia um aumento!
Aposta: Jonathan Milan (Bahrain)
Etapa 7: Capua a Gran Sasso (218 km)
E, pela primeira vez, chegamos acima dos 2 mil metros de altitude e é numa daquelas subidas bem chatas. Não é a mais dura, mas os últimos 38 quilómetros são praticamente sempre a subir, o que vai ‘moer’ as pernas a muita gente. As diferenças poderão ser feitas nos últimos 6 quilómetros, que é quando a estrada empina um pouco mais, com a média a subir para os 7%. Provavelmente veremos mais um frente a frente entre Evenepoel e Roglic, naqueles famosos sprints em montanha que deixam toda a gente para trás nos últimos metros. Mas atenção, a marcação homem a homem entre estes dois pode virar-se contra eles.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal)
Etapa 8: Terni a Fossombrone (207 km)
Segunda etapa consecutiva acima dos 200 quilómetros e com um final com subidas não muito longas mas bastante inclinadas e, antes de um dia tão importante como o contrarrelógio por equipas, não devemos ver as principais equipas preocupadas em controlar a corrida. Daí achar que esta é para a fuga.
Aposta: Lennard Kamna (Bora)
Etapa 9: Savignano sul Rubicone a Cesena (35 km - contrarrelógio individual)
Mais um contrarrelógio que vai fazer grandes diferenças entre alguns candidatos que são especialistas e… os outros. Esta é mais uma oportunidade para Filippo Ganna brilhar, mas toda a gente vai estar focada em Evenepoel, Roglic e João Almeida, para tentar ver quanto tempo conseguem ganhar aos restantes.
Aposta: Filippo Ganna (Ineos)
Etapa 10: Scandiano a Viareggio (196 km)
Um miminho para os homens da geral. Nem toda a gente reage bem aos dias de descanso e, por isso, ter uma etapa deste género é perfeito. Muita gente vai querer ir para a frente porque a primeira metade da tirada é praticamente sempre a subir, mas há duas equipas que vejo a trabalhar: Trek e Jayco, para Mads Pedersen e Michael Matthews, respetivamente.
Aposta: Mads Pedersen (Trek)
Etapa 11: Camaiore a Tortona (219 km)
Mais uma etapa que vejo a ir para fuga, isto porque vai ser complicado para as equipas dos sprinters controlarem a corrida naquelas duas subidas longas nos primeiros dois terços da tirada. Os primeiros 50 quilómetros vão ser rapidíssimos porque toda a gente vai querer estar na frente da corrida, com o grupo a ficar escolhido nos primeiros quilómetros da subida a Passo del Bracco. Adivinha-se um dia razoavelmente calmo para os homens da geral.
Aposta: Magnus Cort (EF)
Etapa 12: Bra a Rivoli (179 km)
Uma subida de 10,8 quilómetros a 5,9% de inclinação (os últimos 5 quilómetros têm média de 8,3%) a 29 quilómetros da meta pode originar a alguns ataques de ciclistas a pensar na vitória da etapa, mas o mais provável é termos uma equipa a endurecer a corrida para tentar levar a discussão para o risco. Se estiver em boa forma, Michael Matthews (Jayco) tem aqui uma excelente oportunidade para triunfar, isto porque o Colle Braida é a única dificuldade do dia.
Aposta: Michael Matthews (Jayco)
Etapa 13: Borgofranco d’Ivrea a Crans-Montana (207 km)
Ui, que bombom! A altíssima montanha chega finalmente à Volta a Itália e logo com direito ao ponto mais alto da prova. A Grand San Bernardo é a primeira subida do dia e serão só 34 quilómetros a 5,5% de inclinação, com a contagem de montanha a estar nos 2470 metros de altitude. Aqui o pelotão já vai estar bastante reduzido, mas depois ainda mais duas contagens de primeira categoria, com a última (13km a 7,4%) a coincidir com a meta. Aqui sim, vamos ver mesmo quem pode ou não ganhar a Volta a Itália. Acreditando que Remco Evenepoel e Primoz Roglic dirão presente, esta é uma excelente oportunidade para João Almeida mostrar que é candidato.
Aposta: João Almeida (UAE)
Etapa 14: Sierre a Cassano Magnago (193 km)
Depois de um dia tão complicado, nada melhor do que uma jornada que se avizinha calma. O início da etapa deverá ser muito rápido porque aos 35 quilómetros começa uma montanha de 20 quilómetros que poderá ser decisiva para saber se a fuga terá sucesso ou não. Acho que, mesmo assim, haverá equipas de homens rápidos como Mads Pedersen (Trek) ou Kaden Groves (Alpecin) a trabalhar para tentar ter um final em pelotão compacto.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin)
Etapa 15: Seregno a Bergamo (195 km)
No total serão quatro contagens de montanha, uma de primeira categoria logo a abrir e depois três de segunda - a última a 29 quilómetros da meta. Por isso, cheira a mais um dia para a fuga. Uma pequena colina (1,3 km a 7,3%) a 4 mil metros do risco final poderá ser decisiva para o desfecho desta tirada que será encarada como transição para a última semana.
Aposta: Lorenzo Rota (Wanty)
Etapa 16: Sabbio Chiese a Monte Bondone (203 km)
A semana decisiva arranca logo com um teste de fogo e veremos como os favoritos reagem ao dia de descanso. No total são cinco contagens de montanha, com a última a coincidir com o final. O Monte Bondone (20,3 quilómetros a 6,7%) pode dividir-se em duas partes. Uma primeira mais suave, e depois com uma parte final mais dura (últimos 8,4 quilómetros a 7,8%). A altitude não será um grande obstáculo, por isso não prevejo grandes diferenças entre os favoritos. Estou à espera de mais uma disputa entre Roglic e Evenepoel nos últimos metros.
Aposta: Primoz Roglic (Jumbo)
Etapa 17: Pergine Valsugana a Caorle (195 km)
Um oásis para os sprinters no meio de um deserto cheio de montanha. Serão 197 quilómetros sempre a rolar, com as equipas dos homens mais rápidos do pelotão a trabalhar. Veremos quantos sprinters chegam a esta fase da prova. Ackermann (UAE), a precisar de dar cartas, deverá estar e poderá acabar com um jejum de vitórias que dura desde 2 de agosto de 2022.
Aposta: Pascal Ackermann (UAE)
Etapa 18: Oderzo a Zoldo Alto (161 km)
Antes da etapa rainha, não acredito que as equipas dos principais homens da geral se coloquem em grandes loucuras e, por isso, vejo uma fuga a chegar. Mesmo assim, o final é propício a alguns ataques e, corredores que estejam no top 15 mas um pouco afastados dos lugares cimeiros, podem tentar alguma coisa na primeira das três montanhas dos últimos 25 quilómetros.
Aposta: Thibaut Pinot (Groupama)
Etapa 19: Longarone a Tre Cime di Lavaredo (183 km)
Quatro contagens de montanha, sendo que o pico de três é acima dos 2 mil metros de altitude, o que vai certamente fazer a diferença nesta altura da prova. Muita gente importante vai tentar intrometer-se na frente da corrida, mas o homem mais forte desta corrida (que acho que vai ser Remco Evenepoel) vai tentar deixar uma mensagem forte. A dureza vai ser incrível e nem todos conseguirão responder a um bom nível, por isso este é um dia propício a surpresas e muitas alterações no top 10.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal)
Etapa 20: Tarvisio a Monte Lussari (18.6 km - contrarrelógio individual)
Agora não há equipa para ninguém! Depois de 11 quilómetros planos, os corredores vão enfrentar o Monte Lussari que são ‘só’ 7,1 quilómetros a 12,3% de inclinação! Quem não esteve bem na véspera, não estará aqui nesta montanha que pode muito bem definir o vencedor do Giro. Lembram-se da cronoescalada do Tour de 2020 em que Pogacar (UAE) roubou a amarela a Roglic (Jumbo)? Poderemos ter algo assim! João Almeida, Evenepoel e Roglic vão estar a lutar pela vitória.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal)
Etapa 21: Roma a Roma (135 km)
Etapa de consagração com muita festa, champanhe e cor de rosa. A corrida vai começar nos últimos quilómetros, com os sprinters que ainda sobreviverem a tentarem mais uma vitória. Aponta a uma nova vitória de Groves para arrecadar a camisola dos pontos.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin)
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