A análise de todas as equipas do Tour'2023

Conheça as apostas de cada formação e também os seus objetivos

Segunda Grande Volta da temporada, o Tour é a prova mais importante de todo o calendário mundial e, por isso, é na prova gaulesa que entram os melhores dos melhores. Tal como no Giro, em França estarão presentes as 18 WorldTeams, isto para lá de outras quatro vindas do escalão ProTeams: Lotto–Dstny, Team TotalEnergies, as melhores desse escalão no ano passado, e ainda Uno-X Pro Cycling Team e Israel–Premier Tech, estas duas convidadas pela Amaury Sport Organisation (ASO).
Abaixo poderá conhecer um pouco melhor cada uma delas, saber as suas apostas e quais os reais objetivos. Uma análise da autoria do especialista Pedro Filipe Pinto.

jumbo - visma

Objetivo: Vitória na geral
Ganhou (pausa dramática)... quase tudo! Jonas Vingegaard chega ao Tour para defender o título conquistado na época passada e deixou um rasto de destruição em praticamente todas as corridas em que participou esta época: venceu Gran Camiño, a Volta ao País Basco e o Critérium du Dauphiné, somando ainda 9 etapas conquistadas. Pelas pernas (e não só, já lá vamos) que apresentou ao longo desta temporada, é visto como o principal candidato a festejar em Paris e traz uma equipa completamente focada em si, com destaque para Sepp Kuss, que depois de ajudar Roglic a ganhar a Volta a Itália, está em França para renovar a distinção de melhor gregário de montanha do Mundo. Mas também há Kelderman, Benoot, van Baarle e o faz-tudo Wout van Aert, que, com a ajuda de Laporte, irá novamente atrás da camisola verde. Mas voltando a Vingegaard, sabem qual foi o seu principal problema? Foi… (segue na análise seguinte)

uae team emirates

Objetivo: Vitória na geral
... Tadej Pogacar. Pois, na única vez que Vingegaard e Pogacar se enfrentaram esta temporada – no Paris-Nice – o esloveno foi dominador! Ganhou 3 etapas e a geral com 1.39 minutos de vantagem para o dinamarquês, isto depois de conquistar a Andaluzia e antes de ‘arrecadar’ a Volta a Flandres, a Amstel Gold Race e a Flèche-Wallone. Incrível! O pior veio a seguir, na Liège-Bastonge-Liège, quando caiu e fraturou o pulso direito. Já regressou, ganhou ambos os campeonatos nacionais da Eslovénia e apresentou excelente forma, mas veremos como se safa com um pelotão ‘a sério’. É o estado daquele pulso, que ninguém sabe muito bem como está, que coloca o favoritismo do lado de Vingegaard, mas só a estrada nos dará certezas. Adam Yates foi contratado para dar apoio a Pogacar nas montanhas do Tour para a Jumbo não jogar com os números como fez em 2022, mas acho que agora servirá mais como um plano B, caso o pulso de Pogacar dê de si. De resto, se Majka, Soler e Grossschartner cumprirem os seus papéis, estará aqui um bloco que criará muitos problemas aos principais adversários.

ineos grenadiers

Objetivo: Top 5
Há muito tempo que Daniel Martínez sabia que seria o líder da Ineos no Tour e não tem parado de desiludir. Sim, ganhou a Volta ao Algarve, mas eis os resultados quando enfrentou montanhas ‘a sério’: 25.º no Paris-Nice, 34.º no País Basco e 23.º no Critérium do Dauphiné. As indicações estão longe de ser as melhores, mas a armada britânica tem um plano B: Egan Bernal. Desde sempre que fui fã de Bernal, ainda recordo como festejei a sua vitória no Tour de 2019, mas depois do que lhe aconteceu em 2022 – acidente do qual teve sorte de sair com vida –, é demais pedir-lhe que seja o líder no Tour e que bata de frente com Pogacar e Vingegaard. Mesmo assim, deixou melhores sensações do que o compatriota, por isso poderá estar na luta por um top 5, achando eu que o top 10 é o mais provável. No meio de tudo isto está Pidcock, que poderá ser o plano C, seja para a conquista de etapas ou para se descobrir como voltista: foi 16.º no ano passado, na estreia.

groupama - fdj

Objetivo: Pódio
Au revoir, Thibaut Pinot! A Volta a França vai dizer adeus a uma das figuras mais queridas da corrida na última década e pouco. Ganhou no Tourmalet e no Alp D’Huez, por isso tenho a certeza que vai tentar mais uma vitória histórica, quem sabe no Grand Colombier. Mas o principal objetivo da equipa passa por atacar o pódio e, com apenas 22 quilómetros de contrarrelógio (e com montanha), é a oportunidade perfeita para David Gaudu, o 4.º classificado de 2022. A Groupama apostou tudo no francês de 26 anos e até deixou o seu ‘amigo’ Arnaud Démare em casa para não andarem às turras. King Küng vai surgir muitas vezes na frente da corrida para tentar uma ou outra etapa, visto que 'cronos'… nem vê-los.

ef education easypost

Objetivo: Pódio
Estou bastante curioso para ver esta equipa em ação. Tem um dos principais candidatos ao pódio em Richard Carapaz, que conta com apoio de luxo – Esteban Chaves e Rigoberto Urán. Resta saber qual o momento de forma destes corredores, principalmente do líder, que ainda não apareceu este ano – foi 36.º no Critérium do Dauphiné, por exemplo... Por outro lado, a EF conta com profissionais de fugas como Magnus Cort, Neilson Powless e Bettiol, que deverão ter liberdade para atacar a corrida. Veremos qual a estratégia desta equipa.

soudal quick - step

Objetivo: Amarela e ganhar etapas
E se o sonho amarelo começar logo na primeira etapa? Julian Alaphilippe não é o mesmo de 2019, mas vai apostar tudo na primeira etapa para pegar na liderança do Tour e levá-la o mais longe possível. Será que consegue repetir? Duvido, porque, repito, não é o mesmo de 2019. Por isso, a maior esperança da Soudal é mesmo Fabio Jakobsen, aquele que, na minha opinião, divide com Jasper Philipsen o trono de melhor sprinter do Mundo. Leva 5 vitórias este ano e chega em boa forma. Veremos quantas leva depois de no ano passado ter cumprido logo na primeira oportunidade. E lá está, tem Morkov para o lançar.

bahrain victorious

Objetivo: Pódio
Para ti, Gino! Admito que estou arrepiado a fazer a análise desta equipa, porque Gino Mader, rapaz da minha idade, devia estar nesta lista para a Volta a França. Infelizmente não está… No entanto, todo o pelotão terá o sorridente suíço na cabeça, principalmente os seus colegas, que darão tudo para conseguirem apontar para o céu e dedicar vitórias ao ciclista que morreu no decorrer da Volta a Suíça. Phil Bauhaus, sprinter que começou a dar nas vistas com 19 anos na Volta a Portugal, é quem terá mais oportunidades, mas Fred Wright e Mohoric também vão tentar várias vezes. Menos liberdade (pelo menos numa fase inicial) terão Haig, Bilbao e Poels, que ficarão ao lado do líder Mikel Landa, que, desta vez, correrá por algo maior que o Landismo.

bora - hansgrohe

Objetivo: Pódio
Depois da conquista na Volta a Itália de 2022, Jai Hindley virou as suas atenções para o Tour e a verdade é que não deu muito nas vistas durante bastante tempo. Sim, fez top 10 na Vuelta, mas esperava-se mais… Contudo apareceu bem no Critérium du Dauphiné, onde ficou à porta do pódio. Buchmann vai ser o principal (e provavelmente único) apoio do australiano nas montanhas gaulesas, por isso Hindley vai precisar de estar em excelente forma para conseguir atacar o pódio. Para surpresa de muitos, Sam Bennet foi preterido, com o sprinter escolhido a ser Jordi Meeus. Decisão difícil porque o irlandês e o belga têm o mesmo número de vitórias… 1! Não terão vida fácil.

LIDL - trek

Objetivo: Top 5
Depois de o Covid-19 lhe ter roubado a possibilidade de lutar pela Volta a Itália, Giulio Ciccone quer vingar-se no Tour. O italiano não tem de se preocupar com o contrarrelógio, por isso tem uma excelente oportunidade para atacar o top 5 e, quem sabe, algo mais. Mas querem saber um dado curioso? Ciccone vai participar numa Grande Volta pela 11.ª vez e nunca terminou entre os 10 primeiros! Nunca conseguiu não ter um dia mau. Veremos se é desta. Pedersen vai atacar etapas ao sprint e a camisola verde, enquanto Juanpe López e Quinn Simmons terão liberdade para irem para fugas. Já Skjelmose será protegido depois de ter conquistado um outro estatuto com a vitória na Volta a Suíça. Só tem 22 aninhos!

ag2r citroên team

Objetivo: Top 5
O terceiro lugar no Critérium du Dauphiné de Ben O’Connor deixou os responsáveis da AG2R com um sorriso de orelha a orelha porque agora acham possível repetir o quarto lugar de 2021. É esse o principal objetivo da formação francesa, que deu bastante apoio ao australiano, com homens de montanha como Felix Gall (esteve bem na Volta a Suíça) e Aurélien Paret-Peintre (brilhou na Volta a Itália). Cosnefroy será pau para toda a obra, pois tanto poderá ser dos primeiros a queimar em etapas de montanha, como também poderá ser lançado para a frente da corrida à procura de vitórias.

alpecin - deceuninck

Objetivo: Amarela e ganhar etapas
Quem me conhece, sabe que tenho um espaço especial para Mathieu van der Poel no coração (e não só), por isso é com toda a alma que escrevo isto: Van der Poel vai ganhar a primeira etapa em Bilbao e vestir a camisola amarela, tal como fez em 2021, aí na segunda etapa. Esse será o primeiro objetivo da Alpecin, que, juntando o monstro holandês a Jasper Philipsen e, quem sabe, Soren Kragh Andersen poderá sair de França com uma mão cheia de vitórias. Acham muito? Então vejamos, as duas primeiras são perfeitas para Van der Poel, depois há 6 para os sprinters e mais algumas que o líder da equipa tem marcadas no livro de prova. Vão encher o saco!

intermaché - circus - wanty

Objetivo: ganhar etapas
Este é um aniversário importante: faz 10 anos daquele Tour histórico para Portugal no qual Rui Costa conquistou duas etapas. O português mudou de equipa esta temporada e parece que rejuvenesceu. Tem 3 triunfos em 2023 e mais uma mão cheia de bons resultados. Na Volta a Suíça mostrou aquilo que poderá fazer em França: boas pernas para atacar fugas e somar mais um triunfo ao seu já recheado palmarés. Para além disso, será o capitão de uma equipa que terá em Biniam Girmay a principal fonte de sucesso. O eritreu estreia-se no Tour e vai tentar fazer história, tal como já fez no Giro em 2022. Para a geral, a Intermarché terá Meitjes, mas não espero muito do sul-africano, só mesmo aquele yo-yo na cauda do grupo dos favoritos nas etapas de montanha.

cofidis

Objetivo: Top 10
Guillaume Martin pode fazer top 10? Pode, tanto que já fez, mas perante este pelotão não será fácil. Bryan Coquard pode ganhar etapas ao sprint? Pode, mas perante este pelotão não ser nada fácil. A equipa da Cofidis tem qualidade, mas não entrará nesta corrida com grandes ambições. A regularidade do trepador francês será a maior arma e atenção ao jovem Alex Zingle, que, tal como Fedorov, tem aqui um bom palco para se apresentar globalmente.

movistar team

Objetivo: Pódio
Mais uma oportunidade para Enric Mas atacar o pódio da Volta a França. Aquele que por tantas vez foi visto como o sucessor de Alberto Contador ainda não conseguiu melhor que o 5.º posto e, apesar de ter resultados consistentes ao longo da temporada, não são suficientes para dizer que é aquele homem que estará logo atrás dos dois ‘monstros’. O espanhol terá em Pedrero, Izagirre, Mulhberger e Nelson Oliveira fiéis escudeiros, sendo que Aranburu, Jorgensen e, principalmente, Ruben Guerreiro deverão ter alguma liberdade para atacarem e tentarem vitórias em etapas.

team dsm

Objetivo: Top 5
Desenrasca-te, Romain Bardet. É mais ou menos esta a estratégia da DSM na Volta a França, isto também porque sabem que o gaulês não precisa de muito apoio para conseguir sacar um bom resultado numa Grande Volta. Apesar de continuar com cara de ‘puto’, o francês já tem 32 anos e conta com 6 pódios no Tour, incluindo um 2.º e um 3.º. A missão não será fácil, mas vejo Bardet a apontar a um top 5, objetivo para o qual terá muitos concorrentes. Mas se não for ele, o que fará a DSM? Bem, não muito, só se o sprinter Sam Welsford sacar um milagre da cartola, o que não é muito provável.

israel - premer tech

Objetivo: Top 10 e vitória de etapa
Michael Woods vem de vencer a Route d’Occitanie, será esse um indicador suficiente que lhes permite achar possível lutar por um bom lugar na geral? Talvez. O experiente canadiano estará completamente por sua conta, porque o resto da equipa estará mais preocupada em somar uma vitória de etapa. Dylan Teuns é o nome óbvio, mas Derek Gee e Frigo não eram nomes óbvios e foram das principais figuras da Volta a Itália. Por isso, a minha aposta para revelação da Israel é Corbin Strong, australiano de 23 anos que, apesar de não ter vitórias esta época, já somou uma mão cheia de resultados fortes. Perceberam? Fortes, Strong… esqueçam.

team jayco alula

Objetivo: Pódio e ganhar etapas
Eu já devia ter aprendido a baixar as expectativas em relação a Simon Yates… mas ainda não consegui. Sim, o britânico não terminou as últimas três Grandes Voltas em que participou, mas, mesmo assim, coloco-o bem lá em cima no lote de favoritos. Favoritos ao 3.º lugar, porque se tudo correr sem percalços, os dois primeiros estarão entregues a Pogacar e Vingegaard. O apoio não é o melhor e Yates deverá ficar muito cedo sozinho nas montanhas, mas, mesmo assim… sou um crente. Desta vez, a Jayco não vai apenas focada no líder para a geral, pois leva o sprinter Dylan Groenewegen.

team arkea

Objetivo: Vitória em etapa e classificação da montanha
Com o bloco que leva (também não tem muito melhor), a Arkéa não pode estar com grandes ambições. As fichas estão todas em Warren Barguil, sempre ele, que poderá apostar na conquista de uma etapa de montanha e, quem sabe, na camisola das bolinhas. No entanto, depois de se estrear na Volta a Itália é preciso aferir como está a forma do francês de 31 anos. Depois só vejo Champussin com capacidade para estar perto da glória, pois sabe o que é vencer em grandes voltas – fê-lo na Vuelta de 2021.

lotto dstny

Objetivo: Ganhar etapas
Acho que podia ir copiar o texto do ano passado, porque a base é a mesma. A equipa belga continua completamente focada apenas em Caleb Ewan e, quando o australiano falha (como fez nas últimas duas épocas), a equipa falha também… daí ter descido de divisão. Eu até já estou com pena do Victor Campenaerts, pois nos dias em que não tiver de estar a impor ritmo no pelotão no final das etapas no comboio de Ewan, irá, muitas vezes, para a fuga. Vai ficar completamente rebentado.

astana qazaqstan team

Objetivo: Ganhar etapas
Uma última oportunidade para fazer história! Depois de não ter ido ao Tour na temporada passada, Mark Cavendish saiu da QuickStep e assinou pela Astana, equipa que lhe garantiu a oportunidade de bater o recorde de vitórias de etapas na Volta a França: está empatado com Eddy Merckx, com 34. A tarefa não será fácil para o sprinter de 38 anos, que, em jeito de despedida, digo que (apesar do mau feitio) também tem um lugar especial no meu coração: aquela HTC fez-me apaixonar pelo sprint e ainda mais pelo ciclismo. Voltando à atualidade, acredito que aquela vitória na última etapa do Giro mostrou uma coisa ao melhor sprinter de sempre: mostrou que ainda é capaz. Terá a equipa à sua volta, com Cees Bol como lançador. Vai com tudo, Cav! De resto, Lutsenko vai lutar por uma etapa e, consequentemente, pelo top 10 e atenção a Fedorov – o campeão do Mundo de sub-23 ainda não deu muito nas vistas este ano, mas tem aqui a oportunidade perfeita.

uno - x pro cycling team

Objetivo: Top 10 e vitória em etapa
É norueguês, chama-se Halland - ainda que o 'outro' tenha outra grafia -, por isso... é craque. E confirma-se! Tobias Halland Johannessen, o campeão da Volta a França do Futuro de 2021, vai, finalmente, estrear-se numa Grande Volta e logo com honras de Tour. Aos 23 anos, lidera uma Uno X cheia de expectativas nesta estreia na Grand Boucle. Rasmus Tiller é um nome para ter em atenção para caçar etapas de média montanha e o rejuvenescido Alexander – ganhou na Volta ao Algarve e na Noruega – vai tentar dar um ar da sua graça e, aos 35 anos, somar a 5.ª vitória no Tour.

totalenergies

Objetivo: Vitória em etapa
Infelizmente, esta também será o último Tour de um dos melhores de sempre: Peter Sagan. O tricampeão do Mundo e recordista de camisolas verdes (7) na Volta a França despede-se do ciclismo de estrada no final desta temporada e quer dizer adeus a esta prova especial para ele com uma vitória. Já não é o mesmo Sagan, mas continua a ser dos corredores com mais classe do pelotão, por isso, tudo é possível. Nas etapas de montanha, o TotalEnergies que vamos ver na frente é Pierre Latour com o seu estilo bastante característico. Depois de tantas tentativas, também já merece sorrir na Volta a França.

Por Pedro Filipe Pinto
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