C. Cruchinho: «Excelência atinge-se pela afirmação positiva»

Carlos Cruchinho "balança" entre o papel de "pedagogo" e de "disciplinador", quando analisa as dúvidas e reclamações que o brucista lançou nos últimos tempos, até porque "ensinei-lhe bastantes coisas mas também aprendi muito"

Os 200 metros bruços da vigésima quinta edição dos Campeonatos da Europa em Helsínquia, poderão ser uma das provas mais importantes da carreira de José Couto - actual vice-campeão do Velho Continente na referida distância, mas em

piscina curta -, na medida em que surgem numa fase da carreira em que o atleta tem colocado muitas coisas em causa, nomeadamente o real valor das "compensações", quando se é, reconhecidamente, o melhor nadador português.

Foi o próprio atleta que, na semana passada, reconheceu, publicamente, a actual falta de motivação para treinar - designadamente em Agosto, período no qual será forçado a trocar as férias pelo trabalho intensivo para os Jogos Olímpicos -, "quando, apesar do estatuto conquistado, ainda não recebi os cerca de dois mil contos referentes às medalhas conquistadas no Europeu de Lisboa, não posso dedicar-me totalmente à modalidade pois esta é amadora e, por incrível que pareça nem sequer consigo arranjar um patrocinador".

Neste cenário, Couto afirma que a obtenção de recordes nacionais e a presença em finais em Helsínquia são fulcrais na perspectiva de conseguir algo de positivo que confira alguma motivação. No primeiro "round" (segunda-feira, nos 100 bruços), o sportinguista superou a melhor marca nacional (que, de resto, já lhe pertencia desde Agosto de 1997), mas, nas meias-finais, afundou-se, nadando quase 1,5 segundos mais lento do que nas eliminatórias e ficando afastado da final. Na terça-feira, Couto joga o apuramento para a "sua" prova, onde se apresenta com o oitavo registo da época (2.15,80, bem distantes do seu recorde nacional - 2.14,90, obtidos em 1997), entre 33 concorrentes.

Em termos estratégicos, Couto já admitiu que não entrará "a matar" como sucedeu no hectómetro, pois, talvez sentindo que está longe da melhor forma, quer "guardar energias para a final". Uma preocupação com a condição física que pode reflectir a irregularidade em termos de treinos desde o Europeu de Lisboa, como, de resto, admite o seu treinador, Carlos Cruchinho. "É verdade que, até Dezembro, o plano de trabalho foi o adequado e que, depois, já não foi bem assim. Mas, neste aspecto, temos de perceber que o José Couto é um atleta de excepção, um competidor inato e, como tal, muitas vezes (e já o fez por diversas vezes) é capaz de surpreender. Sei que lhe ensinei algumas coisas, mas também aprendi muito com ele".

"DIAMANTE"

Cruchinho não o afirma literalmente, mas percebe-se que o técnico tem consciência de que o pupilo é uma espécie de diamante - em muitos aspectos, ainda por lapidar - e "nunca se sabe muito bem até onde pode chegar". No entanto, e se por um lado um técnico tem de ser um pedagogo, por outro, não pode descurar o carácter disciplinador, o que leva Cruchinho a revelar compreensão em relação a algumas reclamações do pupilo, mas também a alertar para aspectos menos coerentes.

"As dificuldades que caracterizam a natação não são diferentes das que afectam o País, tanto desportivo, como numa perspectiva mais abrangente. Não é, todavia, com revoltas ou sentimentos de raiva que se leva um barco a bom porto, mas sim pela afirmação positiva, é assim que se atinge a excelência. Falta de motivação? Quem está apurado para uns Jogos olímpicos não deve sentir isso... a motivação deve ser intrínseca, nunca dependente de compensações exteriores. É evidente que, muitas vezes, é difícil ver, por exemplo, uma equipa de futebol ser levada ao colo, enquanto atletas de outras modalidades que se esforçam tanto ou mais não terem qualquer incentivo. No entanto, as coisas estão melhores em relação, por exemplo, ao período em que eu era nadador", explica o técnico do Sporting.

CONTAS APÓS SYDNEY

Cruchinho refere-se, ainda, às dificuldades referidas por Couto para treinar durante o mês de Agosto - "Para nós treinadores, também é complicado não ter férias e prejudicar o contacto com a família" -, enfatizando que essa é, no entanto, uma necessidade absoluta para quem quer ter uma boa presença nos Jogos de Sydney, após os quais, de acordo com técnico, "será a altura ideal para fazer contas (a prova dos nove) às alterações (conscientes) efectuadas nos primeiros meses do ano ao plano de treinos inicialmente estabelecido". "Riscos" assumidos em conjunto, na perspectiva enunciada por Carlos Cruchinho de que "ensinei bastantes coisas ao José Couto, mas também aprendi muito", nomeadamente a capacidade do atleta em surpreender com bons resultados, o que poderá, perfeitamente, suceder já hoje nas eliminatórias e meias-finais dos 200 m bruços.

Deixe o seu comentário
Newsletters RecordReceba gratuitamente no seu email a Newsletter Geral ver exemplo
Ultimas de Modalidades
Notícias
Notícias Mais Vistas