Jogo do pau: ataque ao ouro

Seleção Portuguesa no Campeonato do Mundo na Polónia com ambições elevadas

A selecção portuguesa do jogo do pau, modalidade que muitos entendidos classificam como a única arte marcial de origem lusa, já se encontra na Polónia para participar no Campeonato do Mundo de Stickfighting, termo inglês adotado mundialmente para denominar o estilo de combate que no século XVI começou por chamar-se esgrima lusitana.

A competição, cuja organização é da responsabilidade da GSBA (Global Stick & Blade Association) realiza-se na cidade de Breslávia, entre 1 e 4 de Agosto, e contempla a participação de 12 países, sendo que Portugal, que  está representado com uma comitiva de 10 atletas (oito homens e duas mulheres) que vão competir nas respectivas categorias diferenciadas por peso e idade, arranca a prova com ambições elevadas.

Horizonte de esperança muito por força do estatuto arrecadado por Carlos dos Santos, militar da GNR de profissão de 44 anos, que, para além de ser o seleccionador nacional, também é tri-campeão europeu e bi-campeão mundial de Stickfighting. Currículo suficiente para o jogador/treinador dar expressão à linha de afirmação em perspectiva.

"Naturalmente sou candidato. O objetivo é arrecadar o terceiro título mundial consecutivo, o que seria uma coisa inédita, mas a Seleção tem atletas que também podem atingir patamares interessantes. Vamos ver como corre a prova", comentou Carlos dos Santos, esclarecendo que "o primeiro Campeonato do Mundo disputou-se em 2009 e o evento realiza-se de dois em dois anos", para logo de seguida divulgar como se deparou com a modalidade: "O primeiro contacto surgiu durante uma formação promovida pela GNR. A guarda utiliza o bastão como instrumento profissional e o seu manuseamento requer competências. O formador suscitou curiosidade, comecei a aprender mais sobre no Ginásio Clube Português e depois surgiram os convites para participar em provas. Posteriormente comecei a dar treinos na unidade e desde ano passado o stickfighting é uma modalidade da guarda, pelo qualquer militar pode praticar e competir".

ORIGEM

O Stickfighting ou combate de bastão é a versão moderna do jogo do pau português, sendo que a modalidade começou por ser conhecida por esgrima lusitana na época do rei D. Duarte.

"Isto começou no século XVI por força dos danos colaterais dos treinos de espada a uma mão. Cortavam-se muitos braços e como o rei não conseguia ninguém para treinar e para evitar mais danos, mandou procurar pelo reino um pau com resistência suficiente do tamanho de uma espada. Encontraram essa madeira no minho. Começou por ser  um treino da realeza, mas paulatinamente foi adoptado de forma secreta pela população e pastores. Nos anos 90 do século passado começou como modalidade desportiva, sendo que é a única arte marcial com origem portuguesa", asseverou Carlos dos Santos, garantindo que "a promoção e prática da modalidade também tem o objetivo de impedir o risco desta actividade de origem portuguesa desaparecer".

ADVERSÁRIOS

Apesar de Portugal ter sido pioneiro na prática do agora denominado stickfighting, o estilo de combate conheceu desenvolvimentos nos antípodas, mas Carlos dos Santos assume a vantagem da aplicação das leis da física que sempre vigoraram em Portugal.

"Nos outros países a variação mais aproximada diz respeito às comunidades de filipinos espalhadas pelo mundo, com especial presença nos Estados Unidos da América, França e Espanha. Contudo, ao contrário de Portugal, nas Filipinas o hábito era utilizar uma catana, arma que é muito mais leve do que uma espada, pelo que o estilo também é muito diferente. Os filipinos utilizam mais o pulso, mas a nossa pancada baseia-se na rotação do corpo, logo a pancada é mais forte", explicou Carlos dos Santos.

LOGÍSTICA

A violência do jogo do pau implica um ringue até sete metros quadrados e obriga os atletas a uma logística de protecção para minimizar os efeitos das pancadas. Contudo, a mobilidade também o seu preço, mas há peças que são obrigatórias.

"Cada atleta tem de utilizar capacete específico da modalidade. Já as luvas normalmente são de hóquei em patins e a coquilha utilizada pode ser de qualquer outra arte marcial. As joelheiras são opcionais e normalmente são as utilizadas no voleibol", referiu Carlos dos Santos, salientando que o "o bastão, de tamanho similar a uma espada de uma mão, é feito de bambu ou de PVC para não provocar a quebra de ossos".

PONTUAÇÃO

Os combates do Stickfighting no Campeonato do Mundo são a eliminar até à final e a pontuação é estabelecida conforme o número de vezes e o local em que cada adversário é atingido.

"O sistema é parecido ao da esgrima olímpica, vence quem marca mais pontos. Na esgrima só se pode utilizar a ponta do florete, no stickfighting temos de atingir com pancadas redondas, que implicam meia rotação do bastão. Há muitas estratégias de ataque e defesa, mas são quase sempre pancadas brutais porque é inspirado em combates reais de espada, sendo que são mais valorizadas as pancadas na cabeça do que no braço ou na perna", explicou Carlos dos Santos.

SONHO OLÍMPICO

Carlos dos Santos é perentório a assumir que "a probabilidade do Stickfighting vir a ser uma modalidade olímpica é um sonho". "Tenho uma aluna que acredita vivamente, mas não é mais do que um sonho", referiu o seleccionador, ciente do contexto da modalidade: " A Seleção vai participar no Campeonato do Mundo na Polónia à custa de patrocinadores e apoios particulares, caso contrário nem pensar porque não há apoios para viagens e equipamentos. Se outras modalidades mais reconhecidas não conseguem sobreviver sem ajudas externas, quando mais o Sickfighting. Depois, para uma modalidade ser olímpica tem de preencher uma série de requisitos, que o Stickfighting não tem, nem de perto. A título de comparação, o karaté, que é uma modalidade muito antiga e é praticada por milhões de pessoas em todo o mundo, não conseguiu vingar. Foi modalidade experimental nos jogos de Tóquio, porque era no Japão, mas em França já foi o Surf e o Skate. Em Portugal o Sitckfighting tem apenas umas dezenas de praticantes, mas está provado que também não adianta muito ter um número muito elevado praticantes e muitos países envolvidos se depois não há retorno financeiro porque as marcas não apostam".

Por Pedro Malacó
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