Dia Olímpico: sonhos de Los Angeles’2028 precisam de mais apoio

Marta Caride aborda as necessidades dos atletas de alta competição

Marta Caride defende maior apoio aos atletas para os Jogos Olímpicos Los Angeles'2028
Marta Caride defende maior apoio aos atletas para os Jogos Olímpicos Los Angeles'2028 • Foto: Arquivo pessoal

Los Angeles, EUA, 2028. É este o local e o ano que Marta Caride tem mente no que ao seu futuro na esgrima diz respeito. A atleta gaiense, para a qual a surdez nunca foi uma desculpa para o que quer que seja, não sabe se lá chegará, nem se terá condições para fazer o caminho necessário, mas, no Dia Olímpico que se assinala nesta segunda-feira, o sonho do Jogos Olímpicos resiste.

“São muitas as variáveis na minha vida para me conseguir posicionar já. Desde logo a financeira, a profissional… Serei médica? Onde? Já com especialidade? São coisas perante as quais neste momento não me consigo posicionar e eu tenho uma componente de grande exigência, mas, se estiver confortável, gostava sim de participar no torneio pré-olímpico”, admite a esgrimista, de 23 anos, várias vezes campeã nacional na arma de florete desde os iniciados até aos séniores.

Tudo porque, não sabendo se os Jogos Olímpicos “são o auge da carreira de alguém”, não tem dúvidas de que será sempre “o materializar de um sonho”. “Porque chegar lá dá um sentido de percurso, porque há toda a atmosfera das várias modalidades, de pessoas muito diferentes, desde a Costa do Marfim a Singapura, de origens e com investimentos muito diferentes. E os valores olímpicos, que são valores de vida. É estar entre ídolos, uns com carreiras feitas, outros a passar pela maternidade ou até refugiados”, antecipa quem tentou, sem efeito, um lugar em Paris’2024.

O feito do apuramento na esgrima, por si só, seria já colossal, admite. “Há três vias. A de equipas, pela qual não conseguimos em Portugal, pois há atletas, mas não há competições por equipas; a segunda que é pelo ranking mundial, em que, conforme os géneros e as armas, há uma ou duas vagas para as melhores atletas que não se qualifiquem por equipas; e a 3.ª via, que é o torneio pré-olímpico por continente e por país, sendo que, de 25 a 30 atletas só uma se apura. Em 2024 fiquei em 12.ª”, lembra.

Na voz não transparece desilusão pelo resultado, mas, quando questionada sobre as condições para competir, o tom é outro. “Quando se diz que o desporto português é uma probreza, quando se diz que há falta de recursos, não são só dizeres, isso sente-se na pele. Há muitos atletas que, como eu, sentem todos os dias barreiras reais que nos impedem de ser melhores. Ser profissional é um luxo em Portugal e isso por si só já nos difere de, por exemplo, atletas italianas e outras, que são profissionais desde os 18 anos. É muito diferente do que fazemos aqui”, lamenta.

O futuro, pelo menos no imediato, pode não ser muito diferente do passado recente que Marta conhece. Afinal, o que seria prioritário, na sua opinião, para aumentar a competitividade da esgrima nacional além-fronteiras. “Passa por apoiar e ter consideração por quem compete, os corajosos que decidiram ficar, que fazem um investimento, seja familiar ou através de patrocínios, para praticar… Eu pago para fazer esgrima, pago para representar o meu país. Sou atleta de alta competição de nível B, mas não tenho bolsa. Pago mensalidade, pago material… O pagamento fixo de bolsas de competição seria um primeiro passo”, assevera.

Por André Monteiro
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