Tiro de partida para uma nova vida

Da ideia ao concretizar da mesma foi… um ‘tirinho’.

A participação portuguesa nos Jogos Paralímpicos do Rio’2016 contará com o tiro como novidade na comitiva e tal deve-se à ascensão meteórica de Adelino Rocha, que no espaço de um ano – já na fase final da preparação para o evento - conseguiu os mínimos e carimbou o passaporte para o palco de todos os sonhos. Não que Adelino, de 40 anos, apenas se tenha iniciado no tiro recentemente, mas sim porque o seu percurso é bem diferente do normal.

Afetado por falta de mobilidade e sensibilidade na perna esquerda (que lhe complica o equilíbrio na hora de atirar), devido a um acidente de viação sofrido aos 17 anos – "um dia depois de celebrar o aniversário" -, Adelino Rocha sempre teve paixão pelas armas – "desde pequeno", admite -, mas apenas começou a competir ‘a sério’ onze anos depois do acidente que lhe mudou a vida. Fê-lo entre os atletas ‘normais’, conforme o próprio descreve, durante vários anos e com resultados de realce – batia-se de igual para igual. Até que tudo mudaria em 2014, em Granada.

Foi numa dessas aventuras competitivas, num Campeonato do Mundo, no qual foi vice-campeão, que lhe propuseram enveredar pelo desporto paralímpico. A proposta foi de Domingos Rodrigues, o selecionador nacional e treinador de João Costa, deixando desde logo Adelino curioso. "Paralímpicos? Nunca me lembrei disso… Por que é que eu nunca participei ou tentei entrar?", questionou, na altura.

Da ideia ao concretizar da mesma foi… um ‘tirinho’. "Em março de 2015 fui a uma prova internacional, em Londres, fui avaliado por um médico, fiz a minha primeira competição aí e consegui logo o primeiro mínimo, de P1 (a 10 metros). Fiquei em nono lugar. Depois até ao fim do ano tinha três provas que davam acesso aos Jogos. Fui a duas e consegui o apuramento, mínimos em tudo, por isso estou feliz e contente da vida", recorda o atirador, que no Rio de Janeiro competirá em P1, P3 e P4.

Trabalho onde os outros se divertem

Ligado ao mundo das armas desde muito cedo, Adelino Rocha é um ‘faz-tudo’ no Clube de Tiro de Fervença. Por lá trabalha há vários anos enquanto monitor, naquele que considera ser "o maior clube a nível nacional". "Tem todas as condições para que um atleta possa evoluir na modalidade", admite.

"Trabalho onde os outros se divertem. Também me divirto, claro. Mas como o pessoal gosta de divertir-se aos fins de semana, eu tinha os fins de semana mais limitados. Mas é para fazer uma coisa que gosto de fazer", confessa. Por cá, diga-se, será onde efetuará a sua preparação, ao contrário dos seus opositores. As verbas, especialmente as que são direcionadas para as viagens, são o grande problema.

"Este ano, depois de conseguir o segundo mínimo que precisava para os Jogos, não fui – nem vou – a mais nenhuma prova internacional, enquanto esses atletas com quem compito, estão a fazer todas as provas internacionais. Estão a preparar-se. Eu vou treinar-me por cá, os outros adversários estão a competir. Estiveram em Hannover, depois na Polónia, a seguir a isso vão para os Estados Unidos e depois vão para os Jogos. E eu estou por Portugal", explica Adelino.

O gozo de dar luta aos olímpicos

Antes de optar pelo desporto paralímpico, Adelino Rocha competia de igual para igual com os olímpicos do tiro, tendo até deixado alguns para trás. "Já ganhei a alguns. Fica na história, na memória. No norte, onde compito quase sempre, normalmente ganho. Quando vou para Lisboa, onde aparece o João Costa e atletas com maiores capacidades, aí é mais complicado. Mas ando sempre lá por cima, pelo primeiro terço da tabela. Por isso dá-me gozo", confessa. De olhos no Rio’2016, admite que o "objetivo inicial será ficar nos oito primeiros, ou seja tentar ir às finais". "É possível. Tenho de treinar bem, preparar bem e ir focado nesse objetivo", frisa.

Por Fábio Lima
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