Ciclista compara investimento com aquele que é feito por ouros países
O ciclista da seleção portuguesa de pista João Matias disse este sábado à Lusa que seria "vergonhoso" se os apoios dados à modalidade não fossem reforçados, depois do ouro no madison e prata no omnium em Paris'2024.
"Era vergonhoso se não houvesse esse trampolim neste momento. Vi a prova [de madison, em que Iúri Leitão e Rui Oliveira conquistaram ouro] com a minha esposa e o meu filho, e disse à minha mulher: 'mau era se daqui para a frente não conseguimos fazer uma equipa de perseguição, se não nos dão dinheiro'. Ainda por cima vi o primeiro-ministro na pista com eles, e se calhar foi o dia certo...", comentou o ciclista da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua.
Dois dias depois da prata no omnium, Leitão juntou-se a Rui Oliveira para conquistarem hoje o título olímpico de madison, corrida de duplas que deu a Portugal o seu primeiro ouro em Jogos Olímpicos fora do atletismo.
A dupla lusa somou hoje 55 pontos, nas 200 voltas à pista do Velódromo Saint-Quentin-en-Yvelines, mais oito do que a Itália, com Simone Consonni e Elia Viviani, segunda classificada, enquanto a Dinamarca, com Niklas Larsen e Michael Moerkoev, terminou no terceiro posto, com 41.
Na estreia lusa em provas masculinas de pista, Iúri Leitão e Rui Oliveira conquistaram a primeira medalha de ouro olímpica para Portugal sem ser no atletismo, depois dos campeões Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nélson Évora e Pedro Pichardo.
A dupla assegurou a 32.ª medalha portuguesa em Jogos Olímpicos, a quarta nesta edição, depois das pratas de Iúri Leitão, no omnium, e de Pichardo, no triplo salto, e do bronze da judoca Patrícia Sampaio (-78 kg).
João Matias, de 33 anos, é ele próprio um dos símbolos da seleção que, desde a abertura do Velódromo Nacional, em Sangalhos, tem crescido de forma gradual, somado medalhas e títulos internacionais em Mundiais, Europeus e Taças do Mundo.
Agora, após o momento da consagração, o praticante espera apenas "que a quem compete arranjar dinheiro pegue na seleção", para que possam trabalhar para uma prova de perseguição por equipas, que envolve quatro ciclistas na pista, bem como alargar a base de jovens praticantes.
João Matias elogia o esforço da federação e do selecionador Gabriel Mendes, que dirige este projeto desde o início, para esticar o orçamento, mas considera que "estão mais que dadas as provas" de que a modalidade "merece dar o salto monetário, para continuar com estes resultados e ter mais ainda".
"Vemos as grandes seleções levarem pessoas para registar as corridas, mais fisioterapeutas... Quem vir uma comitiva de uma das seleções mais potentes, e quem vê Portugal, e depois nos vê campeões... diria que são os campeões olímpicos mais baratos de sempre", ironizou.
Quanto à prova de hoje, Matias, como quanto ao omnium de Iúri Leitão, tem dificuldade em descrever. "Quase me deu uma paragem cardíaca, entrei num sítio que ainda não conhecia", confessou o ciclista.
Numa corrida "rapidíssima", com a média a rondar os 60 quilómetros por hora e com "condições mesmo extremas", rapidamente o controlo inicial deu origem a um 'caos' com várias quedas e muitas marcações.
Leitão e Oliveira "estiveram excecionais" e souberam "esperar pelo momento certo para a machadada final", e se o objetivo era ficar nos oito primeiros lugares, o selecionador "sabia que tinha homens para lutar pela prova".
"Isso é trabalho dos últimos anos, e um mais específico que fizeram os dois. Claro que o sonho estava lá. Depois, aplicá-lo na prática é o mais complicado. (...) Correu tudo como tinha de correr para serem campeões olímpicos. A tática foi perfeita, a força estava lá, o sentimento estava lá", descreveu.
O registo de Portugal no ciclismo de pista em Jogos Olímpicos, de resto, dificilmente poderia ser muito melhor, depois da estreia com um sétimo lugar de Maria Martins no omnium, em Tóquio'2020, e dos dois pódios, em dois possíveis, até aqui em Paris'2024.
Falta uma corrida, o omnium feminino, e também aqui "o objetivo da 'Tata' é o diploma", garante João Matias, que se desfaz em elogios à ciclista da Moçarria, uma "cola" para o grupo da seleção que, assumem, é praticamente uma família. "É a última atleta portuguesa nos Jogos Olímpicos, e será acarinhada por toda a comitiva. Não vai sentir peso nenhum, e vai transformar tudo isso em energia positiva, aproveitar tudo o que puder para tentar sacar um grande resultado", resume.
Falar em medalha "é difícil", mesmo que "agora pareça fácil, depois de duas conquistadas", mas o que está para trás não tem de trazer pressão, "só tranquilidade". "O trabalho está feito. De certeza que vão olhar para ela e marcá-la, porque o nome Portugal já representa muito na história do ciclismo de pista", refere.
Ainda assim, e pela "caminhada muito solitária" que Martins tem percorrido, agora ladeada de Daniela Campos mas muitas vezes como única ciclista feminina no grupo, e como pioneira em Tóquio'2020, João Matias não tem dúvidas: "merece muito" a medalha.
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