Já se passaram 15 anos desde o acidente de Nelson Piquet Jr. no primeiro Grande Prémio de Fórmula 1 em Singapura - a primeira corrida de sempre feita pela modalidade à noite -, mas o despiste do antigo piloto brasileiro continua a fazer correr muita tinta na imprensa internacional.
Esta quinta-feira, em declarações ao 'Pelas Pistas Podcast', o filho do antigo tricampeão mundial Nelson Piquet (pai), revelou que o acidente no GP de Singapura, em 2008, foi algo pedido pela equipa para ajudar Fernando Alonso a conquistar a sua primeira vitória no regresso à Renault.
"Foi uma ordem para ajudar alguém da nossa equipa [Fernando Alonso, que acabaria por vencer a corrida], não foi para prejudicar o Felipe Massa [piloto brasileiro que corria pela Ferrari e estava na luta pelo título mundial]. Não foi nada disso. Sim, foi um erro. Mas na posição em que eu estava, sonhar estar na Fórmula 1 durante muitos anos... Nesse ano não tinha ninguém a acompanhar-me. Um advogado, um manager... O meu pai não foi a nenhuma corrida minha durante o meu primeiro ano. Só tinha o Flavio [Briatore], que era o chefe de equipa e também o meu manager. Não era só meu, mas também de mais outros seis pilotos. Eu era apenas mais um nome no meio de tantos outros, como Webber, Kovalainen, Alonso, Fisichella, Trulli...", começou por dizer o brasileiro, agora com 37 anos.
Nelson Piquet Jr. assumiu que foi colocado "contra a parede" assim que chegou a Singapura, criticando a postura do então chefe de equipa Flavio Briatore, que mais tarde viria a ser banido do desporto motorizado. "Chegou a corrida em Singapura e colocaram-me logo psicologicamente contra a parede, não tive escapatória. Muitas pessoas ainda me perguntam: 'Voltarias a fazê-lo?'. A minha resposta é sempre: 'Não, obviamente que não'. Mas com aquela idade e debaixo de tanta pressão... Não tinha ninguém comigo, exceto aquele grotesco do Briatore, que fazia sempre bullying e estava sempre a queixar-se, a pressionar-me e a advertir-me: 'Esta é a tua última oportunidade'", acrescentou o antigo piloto, afirmando que o maior erro da sua carreira foi ter entrado na Fórmula 1 sem alguém a apoiá-lo: "O que eu não voltaria a fazer era entrar sozinho na Fórmula 1. O estado psicológico de um piloto quando entra na Fórmula 1 fica muito sensível. Tem de sentir-se com muita confiança. Quando perde essa confiança torna-se algo muito difícil de recuperar. Alguém que queira o bem do piloto. Isso é o mais importante e que eu não tive. Isso desestabilizou-me de tal forma que as pessoas ainda hoje não conseguem compreender o que eu passei. A pressão e a horrível situação em que me puseram."
O despedimento durante a temporada de 2009 acabou por ser a última gota de água num copo que há muito se previa que mais cedo ou mais tarde iria transbordar. "Ficámos para 2009 e depois saiu a história sobre o que tinha acontecido. Terminaram o meu contrato, algo que supostamente não iam fazer. Eu ia correr o ano todo e, de repente, disseram-me: 'Agora, é o Grosjean que vai ocupar o teu lugar'. E eu disse-lhes: 'Vocês não podem fazer-me isto'. Trataram-me como um cão. E foi então que lhes disse: 'Já que estão a tratar-me como se eu fosse lixo, creio que vamos ter de esclarecer as coisas'. Foi quando toda a gente ficou a saber o que se tinha passado, o que, para mim, foi horrível. Foi muito traumatizante. Ainda hoje é. Muita gente não entende e muitos julgam sem entender a história", terminou.
Por Record