Hoje vamos para Dakhla. Amanhã é dia de descanso. O rali faz uma pausa e nós agradecemos bastante.

Parto sempre com alguma expectativa para esta etapa pois normalmente os resultados são bastante bons. Já a ganhei, já fiquei em segundo entre os camiões e faço sempre um brilharete à geral. O ano passado estive muito perto de ganhar mais uma vez, mas a porta da caixa de carga abriu e obrigou-nos a parar.

Nesta zona de Marrocos o terreno é bastante plano, muito liso. As pedras de calcário vão cobrindo o solo misturadas com aquelas ervas a que chamamos "couve-flor". São umas plantas grossas e duras que desejamos nunca pisar. O terreno é duro e bastante compacto. Não se degrada com a passagem dos veículos. Há muitas pistas que se cruzam constantemente e a navegação não é fácil. Obriga a uma grande concentração. Nesta etapa faço a vida negra ao navegador. Ele sabe-o e prepara-se para isso. Aqui o horizonte é muito amplo, conseguimos ver ao longo o pó dos outros concorrentes e esse é o meu truque. A minha experiência como piloto de moto deu-me uma grande capacidade de leitura de terreno e aqui aplico-a ao máximo. Junto a isto aquilo a que chamam sensibilidade feminina e cá vou eu. Gostava de ficar mais uma vez no topo da classificação, mas não sei se a sorte vai estar sempre do meu lado.

Esta etapa é normalmente curta, mas este ano vai ter cerca de 456 Km por isso não estou segura que o terreno seja sempre igual e que consiga o sucesso dos outros anos. Depois ainda temos 240 Km de ligação e vamos chegar tarde ao acampamento. A ideia é aproximarmo-nos o mais possível da fronteira pois, depois de amanhã, entramos na Mauritânia.

Por essa razão deixo-vos já o meu texto que escrevo antes de partir. Parto cheia de expectativa perguntando a mim própria se serei capaz de repetir a proeza dos outros anos.