O «Sniper» luso à caça de sucesso

Eurico Peixoto distingue-se neste grupo de "heróis da Argentina" pelo papel muito específico que desempenha dentro de campo: o "homem do serviço técnico, meio a brincar. Na verdade ele tem um papel importantíssimo, declarou há dias o seu colega de selecção e equipa, Carlos Teixeira.

"Há o hábito, nas equipas de topo, e quando o jogo está 'taco-a-taco', de fazer entrar um jogador especificamente para o serviço, principalmente para servir na vez de um central, já que, normalmente, têm o serviço menos conseguido. Mas nunca na vida pensei que essa função me fosse atribuída", explica Eurico, um dos jovens (21 anos) que entraram para a selecção pela mão do seleccionador Juan Diaz; o "cubano" como lhe chama, no seu jeito irreverente e bem humorado.

A estreia do jogador do Vitória de Guimarães neste papel e ao mais alto nível foi, aliás, algo complicada: "Foi na campanha de apuramento para o Mundial. Estávamos a jogar com a Holanda e quando entrei para servir estava um bocado... 'borrado'. E por isso, as coisas nem me correram tão bem. O 'cubano' dizia-me para servir para uma determinada zona, e eu nem tentava colocá-la perto da linha, só queria mesmo servi-la direitinha para o outro lado da rede e para a área indicada."

O jogador de equipa

A especificidade do seu trabalho na equipa provoca-lhe, no entanto, a natural impaciência de um jovem que tem a jogar na sua posição Jorge Alves e Manuel Silva. Assim, qualquer oportunidade o faz vibrar.

"Quando jogámos com a Polónia para a Liga Mundial, andámos sempre a jogar quase sempre com os mesmos, mas no segundo jogo pude entrar. O encontro não estava a correr bem para nós, mas fiz três ataques seguidos bem sucedidos... mas depois acabei o "set" com uma má recepção para a bancada. O que é certo é que vencemos o terceiro parcial e só perdemos o quarto porque tivemos algum azar. Mas no final, apesar de termos perdido e estar toda a gente cabisbaixa, eu estava eufórico, feito burro, com a bandeira portuguesa, aos saltos."

E contudo, apesar da normal vontade de ter um papel mais interveniente, Eurico não deixa que isso lhe roube o bom humor ou o espírito de equipa. Basta ver a forma como encoraja os colegas enquanto esperava para entrar em campo. "Não tinha nada que estar chateado. ´Só tinha é que entrar, servir como me pediam e depois apoiar o pessoal todo."

Uma moral inabalável e que quer mais: “Os Jogos Olímpicos; um sonho que se tornou um objectivo perfeitamente alcançável.”

Andebolista "desviado"

A presença de Eurico na selecção acaba mesmo por ser um daqueles golpes de malabarismo do destino. É que o agora voleibolista internacional esteve em tempos com um pé no andebol. "Tinha conhecimentos no ABC e estava a pensar colocá-lo lá", recorda o seu pai, Eurico "sénior", hoje um professor de Educação Física reformado, mas que foi um dos grandes responsáveis pela carreira desportiva do filho.

O caminho deste promissor jogador de andebol sofreu uma reviravolta com a passagem, pela escola onde estudava, de um treinador de formação do Castelo da Maia, Carlos Simão. Foi pela sua mão que Eurico Peixoto deu os primeiros passos no voleibol. E o resto... é História.

Os equívocos da nova fama

Eurico garante que as coisas pouco ou nada mudaram desde o Mundial da Argentina. "Apenas a recepção no aeroporto foi uma loucura, nada a que estejamos habituados."

E, contudo, recorda um episódio: "Uma vez telefonaram para minha casa, da PT, para saber se estávamos interessados numa solução qualquer de Internet. E eu expliquei à senhora que não, porque passava pouco tempo em casa, e que até tinha estado fora ao serviço da selecção. E perguntaram-me que selecção. Respondi-lhes de voleibol e então percebi a funcionária a dizer entusiasmada a outras pessoas que tinha ali o Eurico Peixoto da selecção de voleibol. Foi um bocado estranho."

Uma "estrela" do público

Eurico Peixoto não será um dos primeiros nomes a surgir quando se fala de atletas da selecção nacional de voleibol. Contudo, pela sua permanente boa disposição, humor irreverente e sorriso contagiante, rapidamente se torna um fenómeno de popularidade por onde quer que passe.

“Se calhar somos mais conhecidos no Brasil ou na Argentina do que em Portugal. No Brasil, por exemplo, era um mar de gente à porta do nosso hotel, e na Argentina havia muita gente que me vinha pedir a camisola. Eu achava que eram loucos, que deviam pedir aos que jogavam (risos)...”

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