Duas coreanas a sprintarem

Na última crónica falei-vos das primeiras subidas ao C1 e ao C2, onde já pernoitei duas vezes acima dos 6.000 metros de altitude. Entre essas duas noites no C2 subi um pouco mais e sozinho reinstalei 250 m de corda em troços mais inclinados, que em condições normais não necessitaria mas que serão uma preciosa ajuda para a descida de uma tentativa de cume ou mesmo do regresso do cume, de onde imagino descer muito cansado.

Quando regresso ao CB parece que estou noutra montanha. A neve derreteu por completo e o CB passou a ser um prado esverdeado. Já há cheiro no ar e os pássaros vêm visitar-nos. Os 4.000 metros são agora uma altitude agradável! Um duche quente, lavar roupa, recarregar baterias com os sistemas solares, escrever textos, reeditar fotos e filmes são por estes dias tarefas simpáticas.

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Este sobe e desce é o estímulo necessário ao organismo para que ele se adapte sem se desgastar demasiado para estar pronto para a subida ao cume. Outro indicador é o aumento de apetite! Normalmente, eu teria de subir mais umas noites, mas creio que com a adaptação que ainda guardo da expedição da passada primavera ao Manaslu, no Nepal, poderei reduzir o desgaste de mais subidas e descidas, caso as datas de cume estejam para breve. Esperemos que sim, mas isso é a meteorologia que dita!

Neste momento estão outras expedições de austríacos e suíços nos C1 e C2 a fazerem as suas aclimatações, para quando surgir uma janela de oportunidade, um período de bom tempo, estarem todos prontos a repartir o trabalho de abrir trilho, na muita neve fofa que ainda não endureceu completamente, até aos 8.125 m do cume do Nanga Parbat.

Mas não sou o único "finalista" no CB, estão aqui duas coreanas na luta pelo título da primeira mulher a completar os 14. A meu ver é um jogo muito perigoso este de subir 8.000 m em corrida, em competição. Miss Go Misun é uma antiga campeã de escalada desportiva. Tem 10 cumes escalados, mas quer fazer três este verão, todos no Paquistão - primeiro o Nanga, e depois voará de helicóptero para os Gasherbrum I e II, onde já tem outras equipas de coreanos e sherpas nepaleses a trabalhar as vias. A outra coreana é miss Hun Sun, que conheci no K2 e no Broad Peak - tem 11 cumes, faltando-lhe o Nanga Parbat e o Gasherbrum I, e ficando o Annapurna, no Nepal, para ambas no próximo outono... Esta segunda já me convidou para o Annapurna, mas disse-lhe que não tenho pressa!

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Acredito no sucesso delas com todo este apoio artificial que têm, pois as ascensões no Himalaia para os coreanos têm outras regras, em comparação com a filosofia europeia. Ambas recorrem a oxigénio artificial nas mais altas montanhas e grandes ajudas por parte de outros alpinistas profissionais. Mas, infelizmente, a "História do Desporto" esquece sempre o n.º 2 e só se lembra do n.º 1! Tenho pena de Gerlinde e Edurne Pasaben, que poderiam deixar um melhor exemplo na história do alpinismo, uma ética diferente e não o "vale tudo" para conquistar o troféu! A vantagem das europeias não é assim tão grande e o desequilíbrio de apoios é enorme!

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