Tenho quase diariamente discussões com alguns colegas da comunicação social acerca dos méritos (e deméritos) dos desportos de ondas. Entre os críticos nota-se, muitas vezes, para não dizer sempre, o profundo desconhecimento de quem está por fora. A expressão peixe fora de água parece-me divertidamente apropriada nestas conversas.
Enquanto esgrimimos argumentos, sinto-me, muitas vezes, como um missionário a espalhar um evangelho que, sei, chegará inevitavelmente a estas paragens, mesmo a jornais ditos desportivos que não são muitas vezes, assumo, maqis do que jornais de futebol.
O que me entristece é que quando comecei o meu percurso no jornalismo desportivo, já há mais de uma década, havia mais espaço mas também mais abertura a coisas novas. Na altura argumentava-se que o leitor queria futebol e que não cabia aos jornais educar gostos, apenas servi-los. Será mesmo assim? Para os donos dos jornais, de certeza. Para mim, nem por isso.
Nestas discussões em que se criticam os desportos de ondas, há uma barricada que se pode definir como aquela que separa quem está na água de quem está na areia. Uma barreira que não existe entre os praticantes dos desportos de ondas. No surf e no bodyboard, para citar os mais divulgados, convivem entre as ondas o gestor e o desempregado, o polícia e o meliante, o engenheiro e o operário. Dentro de água, já encontrei gente de todas as idades, classes sociais e formação académica. Enquanto se espera por uma onda fala-se de tudo, até, imagine-se, de futebol.
No Surf (com letra grande, porque se fala de todos os tipos de corredores de vagas, de prancha grande, pequena, com ou sem quilhas ou até mesmo sem a dita prancha), existe o verdadeiro e único comunismo: as classes são abolidas, levadas pelas ondas que são, afinal, a razão de ser deste tipo de actividade.
Alguns reclamam para si uma praia ou um pico como se fossem seus donos, outros distinguem-se pela maior habilidade ou temeridade no acto de surfar uma vaga. Mas, no final, todos partilham o mesmo espaço líquido, numa homenagem darwiniana à origem marinha da vida.
No cúmulo, a grande vantagem dos Surfistas (novamente com caixa alta) relativamente os outros praticantes de desportos é esta comunidade em que todos partilham um bem comum. Em termos puramente desportivos, ou, vá lá, futeboleiros, alinham no mesmo terreno de jogo, no relvado comum.
E é essa a grande virtude destes desportos. No futebol, podemos ir à Luz, ao Dragão, a Alvalade ou até ao Bernabéu ou Old Trafford. Ver. Mas passam-se vidas sem nunca pisar os relvados dessas catedrais. No mar, o maior templo deles todos, é possível estar na água com um Kelly Slater ou um Mike Stewart. Porque o terreno de jogo é de todos e porque, no limite, somos todos iguais: obcecados pelo vício de descer uma onda.
Aí, meus amigos, acaba a discussão. Gostam muito de futebol? Excelente, eu prefiro a minha dama. Porque vocês nunca poderão dar uns toques com Maradona, o Pelé ou o Eusébio. Mas eu posso estar na água com o Kelly ou o Mike. E, já agora, que diabo, deixá-los apanhar uma onda no meu quintal.
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