Uma onda de oportunidades

Uma onda de oportunidades
Uma onda de oportunidades

O Circuito Mundial da ASP chegou a Portugal. Na verdade, é um regresso, já que a Figueira da Foz recebeu algumas etapas do Mundial na transição do milénio. Mas esta tem um carácter especial. O "The Search" tem características particulares, com um prestígio próprio e em que a qualidade das ondas é o critério basilar. Logo, escolher uma onda portuguesa é eleger o nosso país como um dos destinos de eleição do surf mundial.

As repercussões desta escolha ultrapassam em muito qualquer vaidade patriótica e, saliente-se, não representam novidade para qualquer desportista de ondas minimamente culto. De facto, há muito que Peniche, Ericeira, Nazaré, entre outros pedaços de costa portuguesa (continental e insular), fazem parte dos principais roteiros do turismo de surf.

Posto isto, há, ainda assim, duas consequências a retirar desta escolha: uma desportiva e outra económica.

A desportiva é evidente: este Rip Curl Pro Search abre as portas ao regresso efectivo de uma etapa fixa do Circuito Mundial da ASP (WCT). Um regresso que pode até nem passar pela península onde moram os Supertubos, afinal, o que não falta neste país são ondas de qualidade mundial. E a oportunidade pode passar por um "desvio" da etapa espanhola. Há alguns anos que a tirada realizada no país basco deixa muito a desejar. A onda que lhe dá a razão de ser, Mundaka, é extraordinária, mas também é caprichosa e tem obrigado diversas vezes à realização da competição na menos aliciante onda de Sopelana. Se a ASP quiser juntar o útil ao agradável, Portugal é já aqui ao lado...

Quanto à vertente económica, basta atentar nos números de contabilidade das grandes empresas de surf. Há anos que os desportos de ondas deixaram de ser uma brincadeira de miúdos que passeiam pranchas debaixo do braço. As pequenas empresas nascidas na praia e criadas por surfistas são agora gigantes económicos. A Quiksilver, companhia norte-americana que lidera o mercado internacional movimenta, atualmente, qualquer coisa como 2 mil milhões de dólares/ano.

Mas existe outra indústria associada a este fenómenos que ganha cada vez mais força: o turismo de ondas. Também aqui Portugal já marca pontos. Neste momento, é possível ir a Peniche, passar um dia inteiro a surfar e abandonar a península sem ouvir falar português. Nascem como cogumelos os chamados "surf camps", que não são mais que pequenos estabelecimentos hoteleiros (ou candidatos a) que agregam aulas, material e transporte até às ondas para diversos níveis de surfistas e bodyboarders. E, contudo, isto é apenas o princípio. As possibilidades para um tipo de turismo que tem paralelo conhecido no já bem estabelecido turismo da neve são vastos. Com uma vantagem fundamental: contraria a sazonalidade do turismo balnear, pois as melhores ondas não se encontram no verão.  

Não foi por acaso que a autarquia de Peniche trabalhou tanto nos bastidores para mobilizar vontades e fundos institucionais. O auto-reclamado estatuto de "Capital da Onda" tem atrás de si a perspicácia e o sentido de oportunidade de uma cidade que vive do peixe, do turismo balnear e, cada vez mais, das ondas.

Em suma, o Rip Curl Pro Search em Peniche é, sem dúvida, um dos grandes eventos desportivos do ano. Para os muitos (e cada vez mais)  portugueses que polvilham as praias de Norte a Sul do país com as suas pranchas, nem sequer há concorrência. Mas existem outras consequências e outros proveitos a retirar. Se não, perguntem aos industriais de hotelaria de Sagres a Viana. Os seus sorrisos explicarão muita coisa.   


 

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