Manuel Boto

Manuel Boto
Manuel Boto

Benfica - um problema de liderança!

1. Ao escrever sobre o "meu" Benfica escassos dias após o falecimento de Sven-Goran Eriksson, obviamente que as minhas primeiras palavras e pensamentos são para esse grande Senhor!

Chegou ao Benfica em 1982, pela mão de Fernando Martins, um Presidente-líder, homem carismático que nele acreditou numa conversa que imagino perfeitamente surreal. Martins não falava inglês, Eriksson ainda menos português. Mas por uma qualquer química inter-líderes ou por sinais de fumo, ambos acreditaram um no outro, numa união que trouxe triunfos e glórias ao Benfica.

Estas coisas não se explicam, sentem-se, como Martins um dia me disse em conversa fugaz no seu Hotel. Também eu o compreendi, quando cumprimentei Eriksson, algures num tempo posterior. Tinha um olhar, um sorriso, exercia um fascínio na simplicidade das suas conversas. A diferença para Martins é que eu falava inglês, o que ainda dá a Martins um crédito maior por ter acreditado neste Homem-bom e líder, apenas com base em sensações.

Meu Caro Eriksson, tal como expressou uns dias antes de falecer, vou seguir os seus conselhos, vivendo a (restante) vida como puder. Mas ao pensar em si, como hoje, com uma lágrima no olho (confesso) que não quero reconhecer como tristeza, mas de alegria, como pediu!

Até já.

2. A vida tem os seus "timings". Tudo a ser feito no seu tempo e com o tempo que as ocasiões exigem. A vida ensina-nos a viver, uns com mais sorte, outros nem tanto, mas vamo-nos encontrando ao longo das décadas. Uns conseguem realizar-se nalgumas profissões, outros vivem as oportunidades que a vida lhes vai concedendo.

Rui Costa foi jogador de eleição (um dos meus grandes ídolos de sempre!) e realizou-se nesta vertente somando sucessos consecutivos e, se mais não teve, foi porque ficou demasiados anos na Fiorentina, ainda hoje um jogador recordado (como Gabriel Batistuta) como uma das maiores figuras de sempre do clube.

No ocaso do futebolista veio para o "seu Benfica", jogou ainda umas épocas e, com LFV, chegou a dirigente, uma vertente em que objetivamente não se notabilizou, seja por culpas próprias ou alheias. As circunstâncias conhecidas empurraram-no para Presidente e, por esta altura, começaram os seus problemas.

Seja pela sorte dos aprendizes, seja por méritos de Schmidt que meteu a equipa a jogar um futebol de sonho até à venda de Enzo ao Chelsea, Rui Costa foi campeão logo em 2022/23, com um percurso invejável na milionária Champions, e porventura acreditou ser igualmente um predestinado. O ano passado até começou com a conquista da Supertaça, enchendo toda a equipa dirigente, Schmidt e Sócios, plenos de confiança na repetição dos êxitos do ano anterior.

Mas rapidamente se percebeu que se o Porto estava com graves dificuldades financeiras, o Sporting estava muito bem estruturado e com credenciais para cobiçar o título. A época acabou por ter demasiados dissabores para os adeptos benfiquistas, descrentes da capacidade competitiva da nossa equipa que até foi eliminada da Taça da Liga pelo Estoril. Em Alvalade, para o campeonato num momento crucial até nos poderíamos ter redimido, mas uma arbitragem com problemas de visão tirou-nos o golo limpo do empate. Na Taça, também em Alvalade, perdemos com naturalidade.

A partir dali, foi sempre a descer, enquanto a contestação a Schmidt aumentava de tom, sobretudo com base em decisões inexplicáveis para o comum dos Sócios na liderança da equipa, mas (verdade seja dita) igualmente penando pelas enormes lacunas no plantel a obrigarem a remendos sucessivos, cuja responsabilidade maior tem sempre de ser assacada ao Presidente e partilhada pela estrutura dirigente da SAD (onde se integra o treinador).

No final da época, pediu-se incessantemente a cabeça de Schmidt, mas Rui Costa resistiu. Por convicção ou porque as Contas da SAD não acomodavam a indemnização, com riscos inerentes de infringir o Fair Play financeiro? Nunca o saberemos, mas a época começa e quando esperamos reforços de qualidade, vemos a venda de João Neves que só pode ser ditada por imperativos financeiros.

A partir daí, chegam umas segundas linhas para suprir algumas das falhas visíveis do plantel, sempre com a complacência de Schmidt, que me leva a perguntar: réu ou vítima? O início do campeonato foi desastroso com a derrota em Famalicão (bela equipa!), anunciado pelo descalabro do jogo pelo Fulham e é nestes momentos que as lideranças se exercem.

Tal como já o escrevi, Rui Costa perdeu o timing de provocar eleições quando Luis Mendes saiu e recentemente voltou a demonstrar a sua impreparação para Presidente de um clube como o Benfica quando no regresso de Famalicão não ousou fazer contas com Schmidt, faltando (perdendo) umas boas 3 semanas para o final do mercado que lhe permitiriam poder satisfazer quem fosse o novo treinador.

Preferiu esperar pela véspera do fecho do mercado para depois de mais uma exibição medíocre da equipa em Moreira de Cónegos em que lá salvamos 1 pontito nos descontos, finalmente então despedir Schmidt. O surpreendente é que no dia dessa decisão, Rui Costa fala aos Sócios às 18.30h e ao arrepio da mais ementar regra de boa liderança, não anuncia o novo treinador, deixando o clube a navegar largos dias em águas turvas (no momento em que escrevo andamos todos à deriva a ser bombardeados com hipóteses que só alimentam a convicção de quem queremos não aceita e só está disponível quem não queremos).

Volto ao princípio, todos podemos exercer qualquer lugar, mas a competência ou impreparação vêm sempre ao de cima, sobretudo esta, sempre mais rápida na perceção alheia. Quando não sabemos de tudo (até porque não temos de saber) mas lideramos e temos a responsabilidade de decidir, devemos procurar ajuda entre os mais próximos, pelo que a pergunta é legítima: quem sobra atualmente na Administração com funções executivas? Alguém tem a perceção de que são todos solidários neste afundar de esperanças em que nos encontramos?

Mercado a fechar, mais uma venda, desta vez de Leonardo na busca do cash que existe na Arábia e proporciona a garantia de uma mais-valia, sem sermos financeiramente capazes de resistir (curioso como o Sporting mantém Gyokeres!), sem treinador (esta de relembrar que estamos nas pausas das seleções e sugerir que no imediato nem faz falta, já nem me consegue fazer sorrir…), pergunto "quo vadis" Benfica? Sem falar que estamos sem CFO, ouve-se que Lourenço Coelho quer sair de Administrador, no Seixal saem quadros e alguém deve saber a razão sem ter a coragem de atuar. Entretanto, os Estatutos continuam por aprovar, com algumas alterações que antecipo cruciais para a obtenção de resultados eleitorais mais de acordo com a vontade genuína dos Sócios (e menos das Casas).

A rampa está profundamente inclinada, o Sporting a 5 pontos, FC Porto está de volta e tem ligeiro avanço de 2 pontos, o Braga não será "pera doce" e sente o Benfica acessível, o momento deveria ser de nos unirmos (e quando a bola voltar a rolar lá estarei a apoiar como sempre desde há mais de 60 anos!), mas creio que isso só será possível com eleições a curto prazo. Será esta a vontade destes dirigentes quando ouvimos alvitrar Lage ou Paiva para treinador?

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