Paulo Lopo

Paulo Lopo Presidente do Estrela da Amadora

Uma vitória não significa ganhar o campeonato

Esta semana foi confirmado o regresso dos adeptos aos estádios ou, pelo menos, a alguns estádios. Por muito que esta decisão nos agrade, ainda não é suficiente. É, sem dúvida, uma vitória importante do Movimento "Sem Adeptos não há Futebol", um dos maiores defensores desta causa e um dos principais responsáveis por esta "evolução" recente, mas isto não significa ganhar o campeonato. É vital alargar esta decisão a todos os campeonatos, profissionais e não profissionais, porque não podem existir Adeptos, ou clubes, de primeira e de segunda. Sob pena de colocarmos em causa a sobrevivência do futebol em si.

Depois de, na passada sexta-feira, termos lançado o Movimento "Sem Adeptos não há Futebol", que contou desde logo com o apoio de personalidades como Jorge Jesus, Sérgio Conceição, Pedro Proença, entre muitos outros, esta semana a Liga já propôs à Direção-Geral da Saúde (DGS) a presença de público no encontro que opõe Santa Clara a Gil Vicente no próximo sábado. Ao que parece, a DGS remeteu a decisão final para a Direção Regional de Saúde dos Açores que aprovou a medida e, desse modo, teremos cerca de 1.000 pessoas nas bancadas. Apesar de, ao que tudo indica, este ser um "jogo piloto", de teste, a verdade é que entretanto também a Federação Portuguesa de Futebol confirmou que os próximos jogos da Seleção em casa contarão igualmente com apoiantes no estádio. Se a Seleção pode, por que não podem os outros clubes?

Ora, mentiríamos se disséssemos que estas decisões não são um princípio interessante para a causa pela qual nos temos batido. Mas também estaríamos a faltar à verdade se nos afirmássemos totalmente satisfeitos com as mesmas. Em primeiro lugar, 1.000 pessoas em cerca de 13.000 (capacidade total do recinto) é manifestamente pouco. Outros recintos de outros setores de atividade ocuparam um terço da sua capacidade total e, em Portugal, não existem instalações mais preparadas que os estádios de futebol para receber público. Em segundo, é crucial permitir que todos os Adeptos possam regressar aos campos de futebol por esse país fora, mas para isso é necessário que se permita o regresso à competição dos vários campeonatos não profissionais existentes no panorama nacional e/ou distrital, e também do futebol de formação. Até porque, infelizmente, muitos são os emblemas históricos que, devido à pandemia e à decisão de proibir o regresso generalizado do Futebol, foram obrigados a encerrar portas. E isto é grave, muito grave. Coloca as bases da modalidade em causa.

Estas decisões não podem demorar mais. Já é demasiado tarde. A cada dia que passa perde-se mais um potencial Adepto de futebol para outras formas de entretenimento (gaming, streaming, entre outras) e isto coloca em causa a sobrevivência do desporto-rei, enquanto modalidade e indústria, a médio e longo prazo.

E nem temos sequer a pressão negativa normalmente associada ao pioneirismo, sobretudo desde o surgimento da Covid-19, porque em vários países da Europa, de norte a sul, já temos Adeptos nos estádios. Já temos exemplos lá fora que nos poderão nortear na concretização desta inevitabilidade, portanto resta saber do que estarão os responsáveis à espera para assumir em pleno o regresso do "principal sustento" deste desporto?

E até que vejamos esta questão devidamente respondida continuaremos a fazer crescer esta iniciativa de Adeptos de Futebol que tem como um dos principais propósitos "regressar a casa", ao estádio, porque, e nunca é demais relembrar, sem Adeptos não há Futebol!

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