Pedro Honório da Silva
Cristiano Ronaldo embaixador da Esports World Cup: Uma parceria histórica
O anúncio desta semana de Cristiano Ronaldo como embaixador global da Esports World Cup representa, sem sombra de dúvida, um momento histórico para os esports mundiais. Quando o maior ícone do desporto contemporâneo se associa à maior competição de esports da atualidade, estamos perante uma validação sem precedentes desta modalidade. E há uma coincidência que nos enche de orgulho: tanto CR7 como a Federação Portuguesa de Desportos Eletrónicos partilham a mesma nacionalidade portuguesa, o que torna esta parceria ainda mais simbólica para o nosso país.
Um golpe publicitário de génio
A estratégia de marketing por detrás desta parceria é, reconheçamos, genial. Associar a imagem de Cristiano Ronaldo - que muitos consideram o melhor jogador de futebol de todos os tempos (entre os quais me incluo) - à Esports World Cup é um movimento que transcende o próprio mundo dos esports. Esta associação coloca definitivamente os esports no mapa mediático global, conferindo-lhes uma legitimidade e visibilidade que nenhuma outra iniciativa conseguiu até hoje alcançar.
A escolha não podia ser mais acertada: CR7 representa valores como a excelência, a dedicação, o trabalho árduo e a superação constante - valores que são intrínsecos aos atletas de esports de alto rendimento. A sua capacidade de reinvenção ao longo da carreira, adaptando-se a diferentes contextos e mantendo-se no topo mundial durante mais de duas décadas, espelha perfeitamente o que se exige dos atletas de esports numa indústria em constante evolução.
A maior iniciativa de credibilização dos Esports
Esta parceria representa, possivelmente, a maior iniciativa de credibilização dos esports alguma vez realizada, até mais do que a criação dos Jogos Olímpicos de Esports. Quando uma figura com a dimensão global de Cristiano Ronaldo empresta o seu nome e imagem aos esports, está a enviar uma mensagem clara ao mundo: os esports são desporto legítimo, com atletas profissionais, competições sérias e um futuro promissor.
O impacto desta associação vai muito além do marketing. Cristiano Ronaldo tem a capacidade única de chegar a públicos que tradicionalmente não seguem esports, criando pontes entre o desporto tradicional e os esports. Esta crossover é fundamental para o crescimento sustentado da modalidade e para a sua aceitação por parte de patrocinadores, media e, crucialmente, governos e instituições desportivas tradicionais.
A questão fundamental: e os grassroots?
Mas nem tudo é perfeito. Embora reconheça e aplauda esta iniciativa espetacular, continuo com dúvidas fundamentais sobre como os atletas e clubes grassroots beneficiam deste ecossistema de elite. A Esports World Cup, tal como outras competições do género, funciona como um circuito de elite comparável à Fórmula 1, ao PGA Tour ou ao ATP - competições que representam o pináculo das suas modalidades.
No entanto, ao contrário do que acontece no desporto tradicional, não existe nos esports um mecanismo de solidariedade que beneficie os clubes e atletas de base. No futebol, por exemplo, graças ao sistema de solidariedade da FIFA, quando um jogador é transferido, uma percentagem do valor reverte para todos os clubes que contribuíram para a sua formação. É esta ligação que permite que clubes pequenos, como o CF Andorinha na Madeira onde Cristiano Ronaldo começou, continuem a beneficiar do sucesso dos seus antigos jogadores.
A história de Cristiano: um exemplo do que deveria existir nos Esports
A própria trajetória de Cristiano Ronaldo ilustra perfeitamente como deveria funcionar um sistema saudável. Desde os primeiros passos no CF Andorinha, passando pelo Nacional da Madeira, Sporting, Manchester United, Real Madrid, Juventus e agora Al-Nassr, cada clube que contribuiu para a sua formação continua a beneficiar financeiramente do seu sucesso. Este modelo garante que o investimento na formação de base seja recompensado e que exista um incentivo real para que clubes pequenos apostem no desenvolvimento de jovens talentos.
Nos esports, esta ligação simplesmente não existe. Um jogador pode começar num clube amador, ser descoberto por uma organização profissional e alcançar o sucesso mundial sem que o clube que o formou veja qualquer retorno do seu investimento. Esta desconexão é prejudicial para todo o ecossistema, pois desincentiva o investimento na base da pirâmide competitiva.
A necessidade de proximidade com os grassroots
É aqui que considero fundamental uma aproximação da Esports World Cup e outras competições de elite aos movimentos grassroots. Estabelecer pontes entre as competições de topo e as comunidades de base não é apenas uma questão de justiça - é uma necessidade estratégica para a sustentabilidade a longo prazo dos esports.
Imaginem o impacto que teria se a Esports World Cup implementasse um programa de desenvolvimento grassroots, onde uma percentagem dos seus prémios fosse canalizada para apoiar clubes amadores, competições regionais ou programas de formação de jovens talentos. Esta iniciativa não só fortaleceria a base da pirâmide como criaria um sistema verdadeiramente meritocrático onde o talento pode emergir de qualquer parte do mundo.
Um apelo ao legislador português
Este momento histórico para os esports mundiais deve servir como um catalisador para Portugal, até porque envolve um símbolo nacional. É urgente que os responsáveis pelo desporto no nosso país comecem já a legislar e a criar as condições necessárias para desenvolver infraestruturas sólidas e regras claras que solidifiquem as comunidades grassroots de esports em Portugal.
Quando existir um ecossistema nacional robusto, com clubes bem estruturados, atletas protegidos e competições organizadas, será muito mais fácil integrar os nossos talentos nos sistemas competitivos de elite como a Esports World Cup. Portugal tem o potencial de se tornar uma referência mundial no desenvolvimento de atletas de esports, mas isso só será possível com o investimento adequado na base da pirâmide.
A parceria entre Cristiano Ronaldo e a Esports World Cup é um marco histórico que devemos celebrar. Agora, cabe-nos a nós garantir que este momentum seja aproveitado para construir um futuro verdadeiramente inclusivo e sustentável para os esports em Portugal e no mundo.