Ricardo Silveirinha
Antes de Sudakov, aquele espaço não existia para o Benfica. A equipa rodava a bola em jogo de andebol por fora do bloco dos adversários e nunca gerava movimentos que criassem desequilíbrios ali, em frente à área. Sudakov dá qualidade com e sem bola.
Não perceber isto e dizer, como já li por aí, que "depois dizem que o Sudakov fez uma assistência quando o golo é todo do Pavlidis" é ver futebol com dois gelados de morango e chocolate no meio dos olhos. Aquele golo nunca teria acontecido sem a qualidade e superior percepção do que é este jogo por parte do Sudakov. O ucraniano percebe rapidamente, e em todos os contextos, o que deve fazer para criar instabilidade nas chamadas entre-linhas.
Bastou um passe vertical de Barrenechea (muito bom nestes passes de ruptura; será interessante vê-lo à frente de Manu) para o Chaves abanar. E abanou porque o ucraniano gosta de percorrer a relva no espaço entre os médios e os defesas adversários, criando um desconforto que desposiciona o esqueleto inicial e o força a mexer-se e a criar caos. O resto é simples: receber bem e dar de imediato em Pavlidis, que adora este jogo mais de envolvimentos curtos - lindo como, mal passa, percebe que deve dar opção ao grego e apressa-se a correr para o meio.
Tal como todos os grandes jogadores, é pelo relvado e em rendilhado que se chega à baliza. Os meninos Schjelderup, Prestianni e Rego também são assim, também pensam assim. Por isso será tão importante saber utilizá-los bem e no contexto certo. Tal como um génio chamado Gonçalo Moreira que não sei o que está ainda a fazer na equipa B (mas sobre este craque falarei num texto só seu).
Pavlidis recebe já a saber o espaço que tem. E, ao contrário do que é seu hábito, porque adora envolver os colegas em mais um passe, em vez de criar a triangulação com o Sudakov, rematou. Inesperadamente, rematou. Como tinha feito na primeira parte no primeiro golo. E aqui parece-me que temos mão do Mourinho: muito provavelmente, o Mister já percebeu que o Pavlidis, ao contrário do que faz mais dentro da área em que é muito perdulário, tem um óptimo remate de meia-distâncIa.
Com a confiança do treinador, o grego soltou a perna e fez dois óptimos golos de fora da ára. Mas o Heorhyi da jogada foi outro.