Bruno Prata
Os últimos dias confirmaram que, em Portugal, é muito difícil e fatigante encontrar racionalidade, retidão e até juízo quando o assunto é futebol. Esta sanha rancorosa observou-se, por exemplo, quando mentes atormentadas pelo insucesso gastaram tempo, espaço e antena a questionar a honradez e a nobreza de treinadores e presidentes apenas porque estes, imagine-se, trocaram cumprimentos cordiais com os seus análogos de clubes que nesse dia eram seus adversários. Provavelmente, o cúmulo desta animosidade absurda foi ver (e eu vi-o "in loco") um líder de uma claque insurgir-se furiosamente contra os seus submissos correligionários apenas porque estes dedicaram palmas de conforto aos jogadores e treinadores da sua própria equipa (que, coisa rara e audaz, tinham propositadamente procurado a sua confinidade para arcar com a culpa de um resultado desportivo que se havia tornado abruptamente negativo), isto enquanto arremessava o megafone e as suas próprias vestes na direção da equipa, num striptease colérico e num transtorno de ansiedade que só os especialistas na matéria poderão qualificar. É futebol, dir-me-ão, como se esta sanha descontrolada tivesse de merecer a mesma aceitação que os atos bárbaros recolhiam no Coliseu da Roma Antiga.