Daniel Sá

Daniel Sá
Daniel Sá Diretor Executivo do IPAM

Acabem (de vez) com a proibição de venda de álcool nos recintos desportivos

A proibição da venda de bebidas alcoólicas nos recintos desportivos em Portugal está num morno debate há vários anos. A legislação, em vigor desde os anos 80, é considerada por muitos clubes e dirigentes como desatualizada e desajustada à realidade atual do espetáculo desportivo.

As instituições desportivas portuguesas e o Governo já admitiram rever as normas, permitindo a comercialização regulada de bebidas de baixo teor alcoólico, mas ainda não houve fumo branco. É difícil de aceitar e compreender que, nos dias de hoje, seja possível beber uma cerveja num festival de música ou numa peça de teatro e não o poder fazer num jogo de futebol, voleibol ou basquetebol.

A questão não é apenas legal, mas na minha opinião é de grande importância estratégica. A venda de bebidas alcoólicas representa, em muitos países, uma fonte relevante de receitas e uma componente muito importante da experiência do adepto. Em Inglaterra, cada jogo da Premier League pode gerar centenas de milhares de euros em vendas de bebidas. Na Alemanha, alguns clubes da Bundesliga chegam a vender mais de 40 mil cervejas por jogo. O AZ Alkmaar, na Holanda, fatura mais de 6 milhões de euros por época apenas com cerveja.

Em Portugal, os clubes estão privados dessa receita. Pior: os adeptos consomem no exterior dos estádios, muitas vezes em espaços menos controlados, bebidas de elevado teor alcoólico, o que pode aumentar o risco de incidentes. A incoerência é evidente já que, em concertos, festivais e até em recintos de outro tipo de eventos, a venda de álcool é permitida. Nos camarotes dos estádios, também. Mas nas bancadas, não.

A experiência internacional mostra que é possível conciliar segurança com consumo moderado. Um dos exemplos mais emblemáticos vem do US Open, torneio de ténis realizado em Nova Iorque. Durante os 14 dias do torneio é vendido um famoso cocktail. Chama-se Honey Deuce e é feito com 4 cl de vodka Grey Goose, 12 cl de limonada fresca, 1 cl de licor de framboesa e 3 esferas de melão (simulando pequenas bolas de ténis), servido num copo acrílico colecionável, que muitos adeptos guardam como recordação.

Na edição de 2025, foram vendidos 738.459 cocktails, ao preço de 23 dólares cada, gerando 17 milhões de dólares em receita. O cocktail tornou-se um ícone do evento, parte da identidade e da experiência dos adeptos. O Honey Deuce representa assim mais de 3% das receitas totais do US Open, estimadas em cerca de 500 milhões de dólares.

O sucesso do Honey Deuce é um verdadeiro caso de estudo em marketing desportivo. A bebida não é apenas um produto, mas sim uma experiência, uma memória com uma fotografia partilhada nas redes sociais, e é também uma fonte de receita que ajuda a financiar o evento e a melhorar a experiência do público.

Portugal tem estádios modernos, sistemas de segurança avançados e uma cultura desportiva em evolução. Está na altura de rever a legislação e permitir que os clubes possam explorar, de forma responsável e regulada, esta oportunidade. A venda de bebidas alcoólicas pode ser uma ferramenta para melhorar a experiência do adepto, aumentar a receita dos clubes e modernizar o espetáculo desportivo.

Tchim, Tchim!

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