Daniel Sá

Daniel Sá
Daniel Sá Diretor Executivo do IPAM

Futebol português à venda? Os novos donos disto tudo…

Já vão longe os tempos desde a ideia romântica que os clubes são dos adeptos e dos sócios. Este modelo centenário, muito europeu, vai pouco a pouco desaparecendo nas equipas profissionais de topo. Nos últimos anos, este conceito norte-americano de franquia desportiva foi ganhando muita expressão na Europa onde os clubes ingleses foram os primeiros a aderir.

Da forma como a gestão das ligas profissionais é feita atualmente, espera-se que no futuro cada vez mais clubes sejam detidos por milionários, fundos de investimento ou empresas. Em Portugal também irá acontecer.

É esta tendência que vamos ver acentuar-se nos próximos anos, com vários dos maiores fundos de investimento internacionais a assumir posições significativas em clubes e competições um pouco por todo o mundo. No caso de Portugal, certamente que não ficará fora desta equação. Mais tarde ou mais cedo os fundos virão e ocuparão um espaço importante do ecossistema desportivo nacional.

O capital privado através de fundos de investimento, ou private equity, têm assumido um papel cada vez mais ativo no desporto ao longo dos últimos anos com empresas a criar fundos e a criar novas entidades para investir exclusivamente no desporto. Estes fundos estão a comprar ações de sociedades desportivas, clubes, ligas e também direitos de transmissão.

Em 2025, esta tendência tornou-se ainda mais evidente. Um terço dos clubes que disputam a Liga dos Campeões são agora detidos por investidores estrangeiros, com destaque para fundos norte-americanos e do Médio Oriente. Dos 36 clubes participantes, 13 têm proprietários ligados a redes multiclubes ou a fundos de private equity, o que representa um novo recorde na competição. Esta realidade confirma que o futebol europeu está cada vez mais integrado numa lógica de investimento global, onde o retorno financeiro e a valorização de ativos são prioridades.

Portugal não está imune a esta transformação. O campeonato português, apesar de periférico, é visto como uma plataforma estratégica para valorização de jogadores e entrada no mercado europeu. Em 2023, os clubes portugueses geraram quase 600 milhões de euros em receitas com transferências, colocando Portugal como o sétimo maior exportador de talento futebolístico do mundo, segundo dados da FIFA.

A centralização dos direitos televisivos, prevista para 2028, é outro fator que está a atrair investidores. A expectativa de receitas mais estáveis e previsíveis torna os clubes portugueses mais apetecíveis para fundos internacionais. Além disso, a flexibilidade regulamentar em Portugal — como a ausência de limites ao número de estrangeiros e a possibilidade de manter equipas B, sub-23 e sub-19 — permite aos investidores gerir carteiras de jogadores com maior eficiência.

O futebol português está, assim, a entrar numa nova era. A chegada de capital estrangeiro é inevitável e, se bem regulada, pode representar uma oportunidade para profissionalizar ainda mais o setor, aumentar a competitividade e garantir sustentabilidade a longo prazo.

1
Deixe o seu comentário