Daniel Sá
A Volta a Espanha em Bicicleta terminou este domingo, encerrando uma edição frenética marcada por grandes feitos desportivos, mas também com fortes tensões políticas. Com um volume de negócios superior a 85 milhões de euros, a prova é capaz de gerar receitas avultadas através de direitos televisivos, patrocínios, turismo, bilheteira e merchandising, mas sofreu vários problemas financeiros, desportivos e reputacionais durante a edição deste ano.
A cobertura mediática é cada vez mais global, com transmissão em mais de 190 países e uma audiência acumulada superior a 400 milhões de espectadores. Nas redes sociais, o evento gerou mais de 1,2 mil milhões de interações digitais, consolidando-se como uma das competições mais valiosas do ciclismo mundial.
O nosso João Almeida foi um dos grandes protagonistas da edição. Terminou em segundo lugar na classificação geral, igualando o feito histórico de Joaquim Agostinho em 1974. Almeida venceu a emblemática etapa do Alto de l’Angliru, protagonizou duelos épicos com o “Super-Homem” Vingegaard e tornou-se o único português da história a terminar as três grandes voltas entre os cinco primeiros. A sua prestação gerou destaque em mais de 60 publicações internacionais, e o número de seguidores nas suas redes sociais aumentou 38% durante a prova.
A edição de 2025 ficou também marcada por um episódio sem precedentes: a suspensão da última etapa, em Madrid, devido a protestos pró-Palestina. Mais de 100 mil manifestantes invadiram o circuito final, derrubaram barreiras e bloquearam o percurso, obrigando os organizadores a cancelar a etapa e a cerimónia de pódio. O vencedor, Vingegaard, e o vice, João Almeida, não cruzaram a meta nem foram oficialmente consagrados.
Os protestos visaram diretamente a equipa Israel-Premier Tech, gerando tensão entre atletas, patrocinadores e autoridades. A organização mobilizou mais de 1.500 polícias, o maior contingente desde a cimeira da NATO em 2022, mas não conseguiu evitar o impacto. Estima-se que o cancelamento da etapa tenha causado uma quebra de 12% nas receitas previstas, afetando contratos de transmissão, ativações de marca e vendas de merchandising.
A ausência da cerimónia de consagração retirou visibilidade aos patrocinadores principais, como a Carrefour, Skoda ou LaLiga, que tinham preparado ações promocionais para o encerramento. A repercussão política foi intensa: o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, elogiou os manifestantes, enquanto a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, criticou duramente o governo por “alimentar a confrontação”.
A organização da Vuelta confirmou que 22 agentes da polícia ficaram feridos e dois manifestantes foram detidos. A etapa foi cancelada a cerca de 50 km da meta, e os ciclistas foram retirados em veículos das suas equipas. A imagem de Jonas Vingegaard parado entre camiões da polícia, sem poder celebrar a vitória, tornou-se símbolo de uma edição marcada pela tensão social e pelo conflito internacional.
Política e desporto sempre andaram de mãos dadas, para o bem…mas também para o mal.