E tudo Santos mudou

À Seleção Nacional cabe o fraco consolo de jogar para o terceiro lugar da Taça das Confederações. E é tão fraco o consolo que o capitão Cristiano Ronaldo nem esperou por domingo. Deixou a restante equipa na Rússia e foi conhecer os seus gémeos. Cá para nós, estamos a falar de um jogo que nem faz sentido numa prova tão curta como esta. Mas, havendo a obrigação de o discutir, então que Portugal faça o que lhe compete e termine a prova no último lugar do pódio. Mesmo sem CR7 em campo.

Foi, aliás, sem Ronaldo – ou, pelo menos, sem o contributo dele durante 95 minutos –, que Portugal ganhou à França no encontro decisivo do Euro’2016, provando finalmente ser possível sobreviver à ‘Ronaldodependência’ que tinha marcado o percurso da formação portuguesa desde a saída de cena de Luís Figo, após o Mundial de 2006. O total protagonismo assumido por CR7 na Seleção passou a ser tal que os companheiros quase pareciam impelidos a passar-lhe a bola o mais depressa possível, inibindo-se não só de procurar a própria sorte, como deixando a mesma a cargo das capacidades extraordinárias do melhor jogador do Mundo (foi assim eleito pela primeira vez em 2008).

Mas CR7 nunca foi o ‘Super-Homem’ e a crença de que podia resolver tudo sozinho, nos tempos de Scolari (na sua fase final), Queiroz e Paulo Bento, era naturalmente impossível de cumprir. E, apesar de ser normal garantir a qualificação para as grandes competições, os resultados nas fases finais eram apenas ‘bonzinhos’ – ‘quartos’ do Euro’2008, "oitavos’ do Mundial’2010, ‘meias’ do Euro’2012 (o grande resultado desta altura) e fase de grupos do Mundial’2014.

A tendência mudou com a chegada de Fernando Santos. Criticado por comandar uma equipa expectante, por proporcionar um jogo que não empolga, o experiente técnico deu, contudo, maior consistência e eficácia defensiva à equipa e reequilibrou-a. Formou um bloco compacto que já não tem apenas Cristiano Ronaldo como referência, mas todo e qualquer jogador mais bem posicionado e apto a dar sequência aos lances. Deixou de ser ‘Ronaldo e mais dez’, para passar a ser ‘Ronaldo a acrescentar valor ao valor dos restantes dez’. "Somos uma equipa que sabe ter bola e atacar, mas também sabe defender. Foi isso que nos levou a ser campeões da Europa. As pessoas podem não gostar mas foi assim que aconteceu e comigo vai continuar a ser assim", resumiu o técnico na Rússia. Santos habituou Portugal a querer mais da Seleção. Ser afastado da final da Taça das Confederações sabe a pouco, mesmo sem perder qualquer jogo. O caminho é este e só a renovação da equipa ditará se é possível assumir uma postura mais afirmativa diante de adversários do ‘mesmo campeonato’. Para já, uma certeza: a Seleção até pode perder com várias equipas, mas também pode ganhar a qualquer uma. E isso não era possível afirmar há alguns anos.

Deixe o seu comentário

Pub

Publicidade