Estimados leitores, terei a honra de acompanhá-los durante o campeonato europeu e sinto desde já um grande entusiasmo por poder servir um público internacional. Em especial porque serei lido num país onde disputei alguns dos meus 150 jogos internacional e tenho a certeza que vocês, como eu, estarão a partir de hoje, quando a França defrontar a Roménia, no jogo inaugural em Paris, sentados em frente ao televisor para um mês de futebol do mais puro. Seremos milhões.
Espero não fazer chorar os fãs de Cristiano Ronaldo, mas temo que Portugal esteja em risco de ser uma das seleções que ficará pelo caminho na primeira ronda do Euro’2016. Islândia, Áustria e Hungria formam um grupo, em aparência, fácil para Portugal. Mas as três seleções cresceram muito. Afinal cair nos quartos-de-final também não mudava muito a reputação de Ronaldo. A reputação de que só ganha títulos com o Real Madrid, como recentemente na Liga dos Campeões. Portugal parece-me uma equipa muito débil e isto apesar de ter à sua disposição o supertalento de Renato Sanches, de 18 anos, por quem o Bayern Munique pagou ao Benfica uns impressionantes 35 milhões de euros. Assim, o meu conselho para o Cristiano Ronaldo será o seguinte: não chores, sê valente.
Não vejo, em geral, uma equipa que possa dar uma surpresa tão grande como a que conseguiu a Grécia, ao consagrar-se campeã do Europeu de 2004 em Portugal. Seleções fortes como a Croácia, com o verdadeiramente extraordinário Luka Modric, a recém-melhorada Inglaterra ou Itália não as vejo mais longe do que nos quartos-de-final. Os italianos estão empenhados numa renovação total. O selecionador Antonio Conte decidiu prescindir do genial Andrea Pirlo, que joga agora no distante New York City. E nem leva sequer em consideração Mario Balotelli, pelo que do momento a seleção italiana não tem rosto. Exceção feita, obviamente, ao excelente guarda-redes Gianluigi Buffon.
Vamos então passar aos mais favoritos. Logicamente encontram-se no mais poderosos. O campeão mundial Alemanha e a Espanha, a defensora do título europeu. O treinador da Alemanha, Joachim Löw, volta a apoiar-se no eixo do Bayern Munique. Acompanhado de Manuel Neuer na baliza está a dupla de centrais Jerome Boateng e Matts Hummels, que regressa do Borussia Dortmund para o Bayern. E na ofensiva pode contar com Mario Götze, o homem do golo que valeu o título mundial e Thomas Müller, o melhor goleador do Mundial do Brasil. As renúncias do capitão Phillip Lahm e o avançado Miroslav Klose, contudo, serão duras de superar. E o facto de o novo capitão Bastian Schweinsteiger, quase sempre lesionado com o Manchester United, estar de regresso de forma lenta à equipa parece ser um bom plano, mas também não deixa de ser um risco. O novo equilíbrio conseguido entre os homens experientes e a juventude que chega será vital para a Alemanha. O selecionador espanhol, Vicente del Bosque, decidiu prescindir definitivamente de Fernando Torres, autor, faz anos, do golo do 1-0 frente à Alemanha na final. Contudo não leva o experiente e competitivo Diego Costa e perde também por opção os desequilíbrios de jovens como Isco e Saúl. Em troca, optou no ataque por Álvaro Morata e Lucas Vázquez e o veterano do Athletic Bilbao, Aritz Aduriz. Uma mistura interessante. Mas surpreenderam-me os que deixou de fora. Com a exceção de Xavi, Del Bosque pode contar com o bloco quase completo do Barcelona: Andrés Iniesta, Jordi Alba, Gerard Piqué e Sergio Busquets. Uma garantia de êxito.
Naturalmente, a França é um dos grandes favoritos ao título na sua casa. Nomes como Paul Pogba, Oliver Giroud e Antoine Griezmann não só prometem um futebol estético mas também golos. Será realmente interessante ver como Griezmann evoluiu. Não há mais trocas de cor no cabelo a cada três dias e não haverá mais escapadelas noturnas. Griezmann pode ser a grande estrela deste Europeu, algo para o qual também o vejo como candidato o alemão Toni Kroos, também vital no Real Madrid, com a sua precisão extraordinária no passe.
Por último, não se surpreendam se colocar outra seleção bem colocada entre os favoritos: a Bélgica. Com a sua combinação explosiva de fortaleza física e técnica. Posso mencionar Kevin de Bruyne, Eden Hazard ou Yannick Carrasco, autor do golo 1-1 para o Atlético Madrid na final da Champions. Porém, trata-se apenas de três representantes de uma equipa superforte. Repito, não seria para mim uma surpresa que a Bélgica ganhasse este torneio.