Há uma vontade indómita em Jorge Jesus de recuperar um sistema de jogo com três centrais, tal como experimentou em duas ocasiões na época passada frente ao Borussia Dortmund e ao Legia Varsóvia, em partidas da Liga dos Campeões. A coisa não resultou em ambos os casos – foi legítimo questionar a ‘experimentação’ numa competição tão importante como aquela – e o técnico do Sporting foi forçado a emendar a mão no decorrer dos próprios jogos. Mas o gosto ficou lá.
Este não é um sistema novo no futebol, mas estava em desuso, sobretudo porque associado à ideia de um líbero, figura desconhecida para as novas gerações. Mas a evolução do modo de pensar o futebol passou a exigir dos jogadores versatilidade e ocupação inteligente de espaços, pelo que, gradualmente, os treinadores estão a recuperar e a adaptar o sistema de três centrais, o que pressupõe a utilização de laterais com uma propensão ainda mais ofensiva do que a que já têm.
No Mundial de 2014, as seleções de Chile, Costa Rica e Holanda apostaram neste sistema com resultados interessantes, acabando todas por ser eliminadas apenas no desempate por penáltis: os chilenos nos ‘oitavos’ diante do Brasil, os costa-riquenhos nos ‘quartos’ frente... à Holanda, e os holandeses nas ‘meias’ com a Argentina . E, na recente Taça das Confederações, cinco (Alemanha, Rússia, Austrália, Nova Zelândia e México) das oito equipas em prova utilizaram o 3x5x2 ou o 3x4x3.
Nas competições de clubes, a Juventus, hexacampeã italiana, joga assim há alguns tempo, mas não é caso único. Chelsea, atual campeão inglês, Borussia Dortmund, Hoffenheim ou Sevilha também apostam neste sistema, havendo ainda a promessa de José Mourinho o implementar no Manchester United. O que torna então este sistema tão interessante, mas ao mesmo tempo tão complicado de colocar em prática? É precisamente a sua versatilidade e a possibilidade de jogar de várias maneiras num mesmo encontro, uma vez que permite a adaptação a esquemas mais defensivos (atuando com uma linha de cinco defesas) ou mais ofensivos (com reforço de elementos no meio-campo e/ou no ataque) consoante o grau de dificuldade dos adversários. Entre outras coisas, uma equipa bem oleada nestes processos consegue encurtar espaços e ser mais intensa nas ações, recupera mais bolas e lança rapidamente o contragolpe.
Jorge Jesus que, na presente pré-temporada, voltou a experimentar os três centrais, diante de Belenenses e Basileia, já havia confessado admiração pelo 3x4x3: "O futebol, na minha opinião, vai avançar para isso". Mas Jesus sabe – até porque já tentou jogar assim – que este sistema tem especificidades que os jogadores não apreendem facilmente ou podem até não ter características para as executar e, por isso, é natural que faça dele uma aposta alternativa e não a principal. Veremos como se dá .