Quis o destino, e por destino leia-se o horário do calendário de provas, que o desfecho da final no triplo salto feminino coincidisse com a final dos 100 metros, vagamente conhecida como a prova mais importante dos Jogos. Assim, fazer a reportagem do enorme concurso de Patrícia Mamona, com direito a recorde nacional, e ver Usain Bolt tentar o 3.º ouro no hectómetro pressupunha uma ginástica que me pareceu inicialmente impossível. Até porque o engenheiro que projetou o Engenhão, passe a redundância, não se lembrou naturalmente que cinco andares entre a tribuna de imprensa e zona mista é capaz de ser muita coisa. Surpreendentemente não tenho o dom da omnipresença (espantem-se) e por isso calculei que devia dar um salto de fé. O caminho de Patrícia entre a pista e zona mista daria para subir, ver Bolt durante menos de 10 segundos, e voltar? Com a preciosa ajuda de outro adepto do jamaicano desatei a correr, como nunca tinha corrido. Saltei poças de água, subi escadas em passos de gigante, porque o elevador não é de confiar. Não cheguei ao 5.º andar. Fiquei-me logo ali pelo 2.º, onde provavelmente nem teria autorização para entrar. Não faz mal. Vi a prova. Como Bolt começou pesado e acabou em modo chita. Voltei a fazer o mesmo caminho. Quando cheguei à zona mista, Mamona ainda não estava. Foram os melhores 100 metros da minha vida.