Cronistas

Nuno Félix
Nuno Félix Scout internacional

Para o ano os putos ficam em casa a jogar PlayStation!

Uma família, pai benfiquista, a mãe sportinguista, tal como o filho, já a filha saiu ao pai. Esta família sonhava com um dia ao ar livre, na mata do Jamor, onde sempre almoçaram juntos, fizeram piqueniques, desfrutaram da natureza, e, claro, assistiram a grandes espetáculos desportivos, Depois dos jogos, celebravam juntos, onde até os derrotados afogavam as mágoas nos ombros dos vencedores!

Este sonho, que eu, como muitos dos que me lêem, já viveram, foi destruído em nome da "segurança", que separa os adeptos independentemente das suas afinidades, mas apenas pelas suas cores. No estádio, o pai e a filha, benfiquistas, foram colocados num setor, enquanto a mãe e o filho, sportinguistas, foram encaminhados para a "fan zone" oposta. Fora do estádio, a separação foi igualmente imposta, barrando qualquer possibilidade de interações pacíficas e amigáveis entre os adeptos de clubes rivais. O que deveria ser uma festa do futebol, com as diferentes paixões unidas pelo amor ao desporto, transformou-se numa experiência de fragmentação, sem espaço para a convivência

Milhares de adeptos transformados em manadas monocromáticas, obrigados a viver a experiência do futebol de maneira isolada e desligada do verdadeiro espírito desportivo. O estádio tornou-se num simulacro de um campo de batalha, como os generais gostam de dispor as suas tropas, onde os adversários são colocados em campos opostos e assicatados para o embate. 

Bem vindos ao securitário mundo do futebol binário!

A verdadeira festa do futebol não é sobre distâncias e divisões, mas sobre o poder do jogo de unir pessoas de diferentes origens e paixões e nunca pode promover a separação de quem se ama.

Este é o verdadeiro problema do futebol moderno, forças de segurança militarizadas e empoderadas por um poder político cobarde e populista: não é apenas a obsessão pela segurança que limita a experiência dos adeptos, mas a crescente intolerância que assim se infiltra no fenómeno desportivo uma vez que a integração, a inclusão e a multiculturalidade clubística são vistas como uma ameaça e não como uma oportunidade.

Este modelo securitário e segregacionista afasta-nos da essência do desporto, que é a partilha de momentos e sentimentos únicos, independente das cores que vestimos, é o reflexo de uma sociedade que, cada vez mais, prefere a separação à integração dos diferentes.

Para o ano que vem os putos ficam em casa a jogar Playstation e os pais vão ao cinema ao Colombo. E assim se mata o futebol. E assim se matam as famílias.

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