Eduardo Dâmaso
Para que fique claro, não tenho nenhuma inclinação clubística pelo Sporting. Nos tempos que correm no futebol, aliás, é muito improvável que venha a reatar paixões antigas que me empurravam para o velho Estádio da Luz e para a magia que jorrava dos pés de Vítor Baptista, Nené, Chalana, Jordão e Toni. Depois, a mesma sensação despontava ao ver o imenso Futre, que era um produto cruzado da cultura competitiva dos três grandes. Futre era único, no seu tempo, o que tornava totalmente indiferente a camisola que envergasse aos olhos de quem ama a beleza do futebol de rua, a rebeldia tática, a poesia de potro indomável que o genial jogador espalhava pelo campo. Essa beleza do futebol percorria os clubes da minha geografia sentimental, que ia do Vitória de Setúbal à Académica. E foi sempre isso que me prendeu ao futebol, que abandonei quando as sociedades anónimas desportivas ditaram as suas regras de pura mercantilização do talento e do suor dos jogadores, que transformaram os clubes em buracos de dívida sem fundo, às mãos de dirigentes que os usam como meio de sobrevivência e aval pessoal perante a banca.