Fabiano Abreu Agrela

Fabiano Abreu Agrela
Fabiano Abreu Agrela Jornalista e neurocientista

Latinos da América vs. Mundo – A Desconstrução de um Mito

Atribuir superioridade absoluta às equipas europeias é um reflexo de um constructo cultural alicerçado no poder económico e na concentração de atletas de renome internacional. Esta percepção, todavia, não resiste a uma análise proporcional fundamentada.

É factual que a Europa contabiliza 39 títulos contra 27 da América do Sul no Mundial de Clubes. No entanto, esta diferença quantitativa dilui-se quando se pondera a desproporcionalidade geopolítica: são 50 países europeus contra apenas 12 sul-americanos.

A rivalidade entre equipas latino-americanas e europeias, embora escassa em confrontos diretos, ganha agora uma nova perspectiva com a reconfiguração dos campeonatos mundiais de clubes. Tal configuração permite comparações mais justas entre o investimento financeiro das equipas europeias e a competência técnica dos conjuntos latino-americanos.

Tomemos como exemplo o Inter Miami, majoritariamente composto por atletas latino-americanos, muitos deles oriundos do círculo próximo de Messi. Apesar da aura de informalidade atribuída à equipa, a sua performance internacional revelou uma soberania técnica frequentemente desvalorizada pelo discurso hegemónico europeu.

Levanta-se então a questão: os jogadores sul-americanos consagrados na Europa destacam-se pela evolução no velho continente ou porque a complexidade tática do futebol europeu não é tão elevada quanto se supõe e propaga?

Não se trata de uma conclusão precipitada. Mesmo que o torneio cessasse hoje, já é possível identificar padrões: equipas brasileiras confrontam-se em pé de igualdade com as principais do mundo; clubes portugueses enfrentam limitações significativas no cenário internacional; seleções árabes demonstram evolução estrutural; e os EUA dependem, em grande parte, do talento latino.

A miscigenação genética e cultural dos povos latino-americanos talvez encerre um código de plasticidade cognitiva e motora que transcende os paradigmas tradicionais da formação futebolística. No caso de Argentina e Uruguai, por exemplo, poderia o fator climático hemisférico desempenhar um papel neurossocial relevante? Ou seria o prazer pelo jogo mais determinante que a sua mercantilização?

Fica a provocação: será que a excelência futebolística latino-americana decorre da adversidade adaptativa ou da superioridade neurocognitiva resultante da sua história híbrida?

Partilhem vossas reflexões.

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