José Manuel Meirim
1. Socorremo-nos de um texto de opinião de Gustavo Pires, publicado no jornal A Bola, em 7.3.2017, onde o autor rebate a imputação, a Pierre de Coubertin, de misoginia e enquadra participação das mulheres nos JO, remontando, no seu texto, ao passado histórico. A esse respeito dá-nos a conhecer que na antiguidade grega as mulheres eram proibidas de entrar no estádio para assistirem aos Jogos Olímpicos. A regra era aplicada às mães e às mulheres dos concorrentes, mas, surpreendentemente, não às meninas jovens e virgens que podiam assistir aos jogos. A palavra chave, é o "surpreendentemente". Não havia, de facto, qualquer surpresa. E, aí sim, surpreendentemente, o mesmo acontece nos nossos dias em ambiente de participação feminina no desporto.
2. Os últimos tempos – incluindo os atuais JO – foram marcados por uma investida quanto ao vestuário desportivo feminino. Em causa, a nosso ver com toda a nitidez, a utilização do corpo da mulher para cativar o público, incluindo o televiso, num exemplo gritante de sexismo.
3. O primeiro embate ocorreu antes do JO com a seleção norueguesa feminina de andebol de praia. Com efeito, as atletas "ousaram" envergar calções em vez do biquíni regulamentar. Por isso foram multadas e a respetiva federação "irá refletir" nas normas lá para novembro. A multa, dizem as notícias, acabou por ser paga pela cantora Pink.
4. Nos JO as atletas alemãs de ginástica – modalidade onde se registaram inúmeros casos de abuso sexual e pressão psicológica - apresentaram-se de fato inteiro. Segundo se afirmou, tal conduta visou também promover, junto das ginastas mais jovens, a liberdade escolha de equipamento. Afirmou uma ginasta: "Queremos que todas as mulheres se sintam bem na sua pele. Na ginástica, torna-se progressivamente mais difícil à medida que deixamos para trás o nosso corpo de crianças. Ainda miúda, não via o fato justo como um problema. Mas à medida que a puberdade chegou, juntamente com a menstruação, comecei a sentir-me desconfortável". E não há que, no universo dos casos mais flagrantes, o voleibol de praia.
5. No fundo, encontramo-nos perante regras federativas internacionais, que procuram alcançar benefícios – das transmissões televisivas, das marcas, da publicidade - utilizando o sexo feminino como "promotor do desporto", de um desporto sexista e oportunista.
O corpo da mulher, a sua beleza, vêem-se utilizados para fins que, mais uma vez, não honram o desporto, nem a dignidade da pessoa.
6. Estaremos ausentes por momentos, mas sempre disponíveis em josemeirim@gmail.com