José Manuel Meirim
1. O desporto não vive afastado de patologias sociais bem graves que subsistem no nosso quotidiano. Por outro lado, há muito que se encontra estabelecido que há desportistas a merecerem especial atenção em função das debilidades em que se encontram no mundo desportivo. É o caso dos idosos, dos portadores de deficiência, das mulheres e dos menores. Hoje convocamos as mulheres e as menores.
Se há doença desportiva recorrente na ginástica é a do abuso das atletas sob diversas formas. A Australian Human Rights Commission publicitou, no passado mês, um texto fundamental neste domínio: Change the Routine: Report on the Independent. Review into Gymnastics in Australia. As notícias adiantam que nesse texto – disponível a todos – se revelou que muitas ginastas, a maioria meninas e jovens, foram vítimas de abusos verbais, emocionais, físicos e sexuais desde a década de 80 até aos anos recentes, o que já levou a federação a pedir desculpas.
2. A Comissão fala também em práticas de controlo de peso e ridicularização dos corpos das atletas. O relatório, efetuado com base em entrevistas a 57 pessoas, revela que os entrevistados (atletas, treinadores e familiares) relatam "condutas sexuais inapropriadas, abusos que aconteceram durante os treinos, em lugares públicos e às escondidas, em balneários, em sessões de tratamento físico e em viagens".
3. Caso único? Impressivamente não. As denúncias somam-se às provindas de vários países, constituindo estas práticas abusivas um vírus para o qual se exige vacina e medicamentos eficazes, por parte da federação internacional de ginástica e das federações nacionais. Grécia, EUA - Simone Biles foi uma das vítimas de abusos sexuais por parte do médico da federação norte-americana de ginástica, Larry Nassar - Holanda, Inglaterra, Brasil, Suíça. Existe mesmo uma pretensão de que a as competições de elite só se iniciem aos 18 anos.
4. A Federação Internacional de Ginástica, criou todo um modelo preventivo para fazer face a esta patologia.
Só a Ginástica? Outro impressivo não. A modalidade surge aqui como o exemplo que tem ganho mais atenção pública. Mas os casos no futebol também já têm eco. E, o que é mais preocupante, são as cifras negras que se registam no tema dos abusos de mulheres e de menores, masculinos e femininos, em todo desporto. Vemos, certamente, apenas ponta de um negro iceberg.
5. Sinal positivo: foi dado pelo futebol inglês ('We will not stop talking about this issue') com um boicote às redes sociais, desde as 15h da tarde do dia 30 de abril até às 11h59m de 3 de maio, respondendo ao constante abuso discriminatório de que são alvo, desde logo, os jogadores. A Federação Portuguesa de Futebol seguiu, e bem, o exemplo. A imprensa prestaria um serviço público se extinguisse as caixas de comentários dos leitores on line, carregados de ódio, ignorância, estupidez e potenciadores de violência gratuita.