Luís Alves Monteiro

Luís Alves Monteiro
Luís Alves Monteiro Atleta olímpico

O Desporto português e a arte de pedir sem convencer!

Mais uma vez escrevo sobre este tema.... O desporto português sofre de um problema de auto-respeito. Década após década, repete-se o mesmo ritual: dirigentes a pedir mais dinheiro, ministros a prometer o que podem e no fim, todos a queixarem-se de que o Estado dá migalhas. E dá mesmo. Mas há uma pergunta que ninguém quer enfrentar: o que é que o desporto faz para merecer mais do que migalhas?

A verdade é dura, mas necessária: o desporto nacional continua preso à lógica da mão estendida, não da mão que constrói. Pede-se mais, mas raramente se apresenta um plano. Pede-se orçamento, mas não se mostram resultados. Exige-se apoio, mas não se oferece visão.

Há dias li, no Público, um artigo assinado por um dirigente desportivo, mais um que retoma o discurso do costume: a “necessidade urgente de mais apoios”, sem uma linha sobre o que fazer com eles. Sem metas, sem visão, sem KPIs. É a velha escola da mão estendida: a crença de que o problema do desporto português é apenas a falta de dinheiro, e não a falta de estratégia. o autor segue a tradição inaugurada por quem, há décadas, criou verdadeira jurisprudência nesta matéria o antigo presidente do COP arrastando toda uma classe dirigente.

Mas o desporto português não precisa de palmadinhas nas costas. Precisa de respeito. E o respeito não se mendiga conquista-se.

De facto os números não mentem: nos últimos 25 anos, o número de praticantes duplicou, enquanto o financiamento real encolheu. O Estado pede mais com menos e muitos clubes e Associações estão hoje à beira do colapso. Algumas medidas óbvias que o referido dirigente preconiza continuam por tomar: redistribuir parte do imposto especial do jogo online (mais 13 milhões por ano), aplicar IVA a 6% nos bilhetes de espetáculos desportivos, equiparando-os aos da cultura. Mas, no fim, o que se propõe é apenas mais um SNS do desporto, uma máquina pública sem estratégia, feita para sobreviver, para triturar recursos e não para evoluir.

O poder político, por seu lado, continua a ver o desporto como um luxo simpático, um adereço social que só ganha importância quando alguém traz uma medalha. Entre Jogos Olímpicos, e Campeonatos do Mundo e depois regressa o silêncio. E nesse silêncio, repete-se a ladainha: “precisamos de mais meios”.

Mas o problema não está apenas em quem decide. Está, sobretudo, em quem pede. O desporto português ainda não aprendeu a falar a linguagem que convence quem tem a caneta do orçamento: planeamento, metas, retorno social e económico,

sustentabilidade. Em vez de apresentar projetos com impacto, apresenta listas de necessidades. Em vez de indicadores de sucesso, apresenta queixas.

Nos países que levaram o desporto a sério — Reino Unido, Austrália, Noruega — o investimento público não cresceu por generosidade, mas por método. Planos plurianuais, metas mensuráveis, governação profissional, accountability. Resultado: medalhas, sim mas também sistemas desportivos sólidos, que geram valor económico, reduzem custos na saúde e reforçam o tecido social.

Em Portugal, o desporto continua a viver à boleia dos ciclos políticos. Confunde financiamento com favor e investimento com subsídio. E enquanto não se afirmar como causa estratégica nacional, com um plano a dez anos e resultados tangíveis, continuará a sobreviver de “migalhas com cerimónia”: palmadinhas, selfies ministeriais e promessas recicladas.

Chegou a hora de mudar o paradigma. Deixar de pedir e começar a convencer. Trocar a mão estendida por uma visão estendida sobre o futuro.

Em nota de rodapé e para os nossos Governantes, o verdadeiro investimento começa quando o desporto português deixa de ser um apelo emocional e passa a ser uma estratégia nacional.

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