Miguel Sousa Tavares
1 - Deixando-se massacrar suavemente pelo campeão europeu, o PSG, os jogadores do Atlético de Madrid - conhecidos por jogarem feio, bruto e mau, disputando cada lance como se fosse o último - tinham um estranho ar ausente, com um olho seguindo a bola, e o outro, semicerrado, imaginando as areias brancas e o mar quente e transparente de Formentera, Palma de Maiorca, Ilhas Maurícias. Por dever de ofício e vontade do patrão - o Fundo Soberano do Qatar, também conhecido no mundo futebolístico por PSG - os jogadores da equipa 'francesa', jogando a passo, cumpriam a sua função: ganhar. Eis a minha primeira imagem do muito pomposamente chamado Mundial de Clubes: 32 equipas trazidas dos 5 continentes para justificar o título de Mundial. Mesmo que depois o pobre representante da Oceânia - o Auckland City FC, da Nova Zelândia, uma despreocupada reunião de dentistas, electricistas e polícias - leve 10-0 do Bayern, como introdução à coisa. Quanto aos outros 31 clubes profissionais que estão lá, na fornalha americana, participam mesmo forçando os seus jogadores para além do suportável, como outrora se forçavam os cavalos para atravessar o continente americano em direcção à Califórnia. E estão lá por várias e distintas razões: porque o patrão manda, pelo prestígio, pela oportunidade de mostrar as suas estrelas ascendentes aos compradores VIP do mercado, ou simplesmente por dinheiro - como o meu ora triste FC Porto, para quem os 16 milhões de presença são hoje em dia essenciais - por exemplo, para pagar a compra de Nehuén Pérez, esse baluarte inultrapassável da nossa defesa. Mas isso são outros quinhentos.